1822: DIMENSÕES
Carlos Guilherme Mota (organização)
Prefácio: Francisco Alambert [FFLCH-USP]
Coedição: Edições Sesc São Paulo
SINOPSE
O Brasil completava 150 anos de sua Independência sob o peso de uma ditadura civil-militar que promovia as comemorações com discursos patrióticos conservadores e ufanistas. Isso era 1972. Qualquer semelhança com o discurso oficial que ronda as comemorações do bicentenário, agora em 2022, não é mera coincidência. 1822: Dimensões trazia naquele momento um jorro de discernimento e arrojo ao trazer a público uma visão crítica e muito mais ampla dos processos históricos que resultaram na declaração da Independência e suas amarras. A republicação do livro no bicentenário nos faz lembrar que um país se constrói com o debate franco, direto, extenso. E bem fundamentado.
QUARTA-CAPA
Esta edição homenageia os cinquenta anos da obra que foi um marco da historiografia brasileira ao adotar como perspectiva não fazer a mera louvação da efeméride que lhe deu origem – as comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil –, mas, pelo contrário, problematizar esse evento, contextualizá-lo, fazer a crítica de sua interpretação.
Os autores eram jovens, as comemorações eram espontâneas como uma ordem unida, e o momento político trazia a paz dos cemitérios. O livro em si se tornou, como diz o historiador Francisco Alambert em seu prefácio, um acontecimento. E eis que hoje, meio século depois, não apenas sua importância acadêmica permanece, como a discussão que instaura se mostra mais fundamental do que nunca.
Assim, além de permitir ao público (re)encontrar textos hoje clássicos, o que esta edição propõe a leitores e pesquisadores é o desafio de ressignificar as comemorações do Bicentenário da Independência, interpretando o passado e o presente com uma atitude crítica e uma postura ativa diante de (re)visões nacionalistas autoritárias e estreitas, pois amar um país vai muito além de usar as cores da bandeira e palavras de ordem.
CARLOS GUILHERME MOTA
É mestre e doutor em História Moderna e Contemporânea e livre-docente pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo-FFLCH-USP (1967 e 1970, respectivamente) e professor emérito da mesma universidade. Foi professor titular na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi consultor e professor visitante nas universidades de Salamanca, de Londres, do Texas e na Escola de Altos Estudos de Paris; presidente do Comitê Científico da Universidade Presbiteriana Mackenzie; fundador e ex-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP; e ex-professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas – IFCH-Unicamp. Membro do conselho editorial da Revista Estudos Avançados (IEA-USP), escreveu várias obras, dentre elas História e Contra-História: Perfis e Contrapontos (Globo); A Ideia de Revolução no Brasil e Outras Ideias (Globo); Ideologia da Cultura Brasileira,1933-1974 (Editora 34), História do Brasil: Uma Interpretação (Senac, com Adriana Lopez), Nordeste 1817: Estruturas e Argumentos (Perspectiva / Edições Sesc) e coordenou Viagem Incompleta: A Experiência Brasileira, 1500-2000 (Senac, 2 volumes); e Brasil em Perspectiva (Difel).
PARTICIPAM DA EDIÇÃO
• Arthur Cezar Ferreira Reis
• Augustin Wernet
• Carlos Guilherme Mota
• Emília Viotti da Costa
• Fernando Antônio Novais
• Fernando Tomaz
• Francisco C. Falcón
• Frédéric Mauro
• Giselda Mota
• Helga Piccolo
• Ilmar Rohloff de Mattos
• Jacques Godechot
• Joel Serrão
• Luiz Mott
• Maria Odila da Silva Dias
• Paulo de Salles Oliveira
• Sérgio Paulo Moreyra
• Zélia Cavalcanti
DA CAPA
Imagem da capa: Solução gráfica que remete à bandeira do Brasil.
QUARTA CAPA DE 1972
As discussões sobre o significado de 1822 na nossa história estão na ordem do dia. A principal contribuição desta coletânea de textos não reside apenas no fato de analisar um tema oportuno. Suas proposições permitem ao leitor a compreensão da amplitude do processo de emancipação política do Brasil, a partir de suas categorias mais genéricas até as manifestações mais especificas. Elaborada por especialistas criteriosos e de orientações diversas, a obra guarda uma dimensão polêmica e não acadêmica que a organização de Carlos Guilherme Mota soube preservar.
TRECHOS
O que chamamos de sistema colonial, na realidade, é subsistema de um conjunto maior, o Antigo Regime (capitalismo comercial, absolutismo, sociedade de “ordens”, colonialismo), e se movimenta segundo os ritmos do conjunto, ao mesmo tempo que o impulsiona. Assim, não foi indispensável que se completasse a industrialização (no sentido de revolução industrial) de toda a economia central para que o sistema se desagregasse; bastou que o processo de passagem para o capitalismo industrial se iniciasse numa das metrópoles para que as tensões se agravassem de forma insuportável. É que, na realidade, o Antigo Sistema colonial se articula funcionalmente com o capitalismo comercial, e quando esse se supera, as peças do todo já não são as mesmas. Mais rigorosamente ainda, a competição entre as metrópoles europeias (inerente ao sistema, como indicamos) resolveu-se na segunda metade do século XVIII pela hegemonia inglesa; daí ser a Inglaterra a que primeiro abriu caminho no industrialismo moderno. Daí também, e contemporaneamente, essa nação ficar em posição de ajustar todo o sistema a seus interesses, a começar pelo enquadramento das colônias da Nova Inglaterra, até então bafejadas pela tolerância metropolitana. É sabido que esse esforço por enquadrar essas colônias de povoamento nas linhas da política mercantilista engendrou as tensões que resultaram na independência dos Estados Unidos da América.
A partir de então pode-se falar que a crise estava aberta – uma colônia que se torna nação independente ultrapassa totalmente o quadro de possibilidades do sistema. O último quartel do século XVIII e o primeiro do XIX foram efetivamente um longo período de reajuste do conjunto, com alternativas de movimentos reformistas e rupturas revolucionárias: a penosa superação, enfim, da dominação colonial nas Américas, e do absolutismo político na Europa. Este é, a nosso ver, o quadro de fundo a partir do qual se pode analisar o movimento de nossa independência, para lhe dimensionar o verdadeiro significado histórico.
ORELHA
por Iris Kantor (FFLCH-USP)
Publicado em 1972, numa conjuntura política sinistra em que a ditadura militar brasileira perseguia, torturava e executava lideranças políticas e intelectuais, a coletânea 1822: Dimensões, organizada por Carlos Guilherme Mota, significou uma ruptura conceitual com a tradição de estudos históricos sobre a Independência do Brasil. Dividida em duas partes: “Das Dependências” e “Das Independências”, a obra articula o acontecimento à constelação das revoluções constitucionais atlânticas que deflagraram a crise irreversível do colonialismo mercantilista (antigo sistema colonial), forjado nos primeiros séculos da expansão mercantil europeia.
A coletânea procura revisitar criticamente as teorias do desenvolvimento e do subdesenvolvimento econômico, insistindo na necessidade de lidar com as especificidades históricas que marcaram as relações coloniais, tal qual elas se manifestaram em cada região do país. Essa perspectiva leva também em conta o sistema de interdependências e alinhamentos diplomáticos entre as potências marítimas no processo de separação e de autonomização institucional do Estado brasileiro. Cada autor, a seu modo, chamou a atenção para as transformações engendradas pela instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro em 1808, alargando a periodização para além de 1822.
Lançada por ocasião das comemorações dos 150 anos da Independência, a obra recolhe frutos do clima intelectual anticolonialista do final dos anos 1960, sugerindo pistas para a reflexão sobre o peso do tráfico negreiro na sedimentação das alianças suprarregionais e intercontinentais que subsidiaram a reprodução do escravismo muito além de 1825. Não por acaso, a epígrafe-testemunho de Mouzinho da Silveira permite entrever uma tomada de consciência das contradições criadas pelo sistema escravista.
Os ensaios dialogam diretamente com as interpretações seminais de Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro e José Honório Rodrigues, entre outras referências. Pelo seu alcance teórico, pela diversidade de perspectivas e pela abrangência geográfica, os dezesseis estudos reunidos nesta coletânea constituem um esforço intelectual coletivo incomum entre nós, e, por isso, suscitarão polêmicas com uma atualidade não menos incômoda.
SUMÁRIO
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3 x de R$38,33 | Total R$114,98 | |
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