Desde cedo, ainda adolescente, Jacó Guinsburg entendeu que o conhecimento é uma aventura que se deve encarar com rigor, sim, mas sobretudo com prazer. Quando fundou, em 1965, a editora Perspectiva, trazia consigo a ideia de espalhar no país que o acolheu, a si e sua família chegada da distante Europa Oriental nos começos do século XX, as sementes dos melhores e mais profundos saberes da humanidade já registrados em livros e que tanto o divertiam e instigavam.

A chave do conhecimento, para Jacó, estava nos livros, esses objetos pequenos e inflamáveis, portáteis, densos, cobertos de tinta preta que irrigam os cérebros dos humanos e os fazem crescer, criar, voar.

Qualquer pessoa que tenha algum prazer em ler livros é capaz de intuir o que ia na cabeça do Jacó. E na de todos os grandes criadores, formuladores, pensadores e debatedores da cultura e do conhecimento.

Esse prazer, essa alegria, esse voo são as sementes que o Jacó espalhou. E é a missão com a qual a editora Perspectiva estará para sempre comprometida, buscando renovar-se para conquistar os jovens leitores que iniciam sua aventura intelectual e atender às mais altas expectativas daqueles, menos jovens e mais exigentes, que estão em plena viagem.

 

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Abaixo, reproduzimos o texto que o próprio Jacó elaborou em nosso primeiro site
para apresentar sua editora e as coleções aos errantes digitais que por lá aportavam.
 

Uma editora em perspectiva
 

Em 1965, um grupo de amigos fundou a editora Perspectiva a fim de concretizar um programa editorial bastante ambicioso. Primeiramente, realizou a coleção Judaica, que abarcou, no plano ficcional e do pensamento, a produção dos quatro milênios de existência do povo judeu.

Logo a seguir, a editora partiu para a publicação da ensaística de ponta nos diferentes ramos das Artes e Ciências Humanas, criando a coleção Debates, com contribuições significativas e, às vezes fundamentais, de autores como Umberto Eco, Roman Jakobson, Max Bense, Martin Buber, Tzvetan Todorov, Fernand Braudel, Gershom Scholem, Antonio José Saraiva, José Augusto Seabra, Anatol Rosenfeld, Benedito Nunes, Affonso Ávila, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, para citar apenas alguns dos autores que compartilharam com o leitor suas discussões e experiências nos mais de trezentos títulos já publicados.

Prosseguindo nessa trilha, a Perspectiva lançou a Estudos, coleção que também conta atualmente com mais de trezentos títulos de filosofia, psicanálise, crítica, literatura, arquitetura, semiótica, entre outros, e que é voltada para abordagens que aprofundam e ampliam seus temas.

Trata-se de duas coleções que, tanto por sua qualidade textual como pela proposta visual marcante de seus volumes, se tornaram referência, e muitas vezes de consulta indispensável, nos diferentes domínios da cultura ampla e/ou especializada, tendo alcançado na bibliografia brasileira uma presença nada descartável.

 Agora, após [mais de] cinquenta anos de militância editorial, e já tendo ultrapassado os mil títulos, a editora Perspectiva pode contar, entre suas realizações, com múltiplas séries, todas de relevo nos campos a que se voltam:

  • a coleção Stylus, especializada em estudos e monografias sobre arte, estilística e estética, como O Modernismo, O Romantismo, O Expressionismo, que já se constituíram em textos básicos nos currículos de Letras país afora;
     
  • a Textos, que reúne de forma mais antológica, por meio de obras consideradas clássicas, a produção filosófica e poética de uma época (como em Teatro Espanhol do Século de Ouro [e, agora, o Teatro Breve do Século de Ouro]) ou a ensaística, a dramaturgia ou a obra de um autor, como a República de Platão, Almas Mortas de Gógol, os textos teatrais de Büchner e Pirandello, as crônicas de Machado de Assis, as Obras Escolhidas de Descartes e a Obra Completa de Spinoza, além do teatro de Luiz Alberto Abreu, Tatiana Belinky, Renata Palottini e Jorge Andrade, com destaque ainda à mais completa edição em português dos textos de Diderot (nove volumes);
     
  • a Elos, na qual "grandes textos curtos" de autores significativos são disponibilizados em pequeno formato, totalizando mais de sessenta títulos que abordam temas que vão da política (Os Nomes do Ódio, de Roberto Romano) à estética (O Prazer do Texto, de Roland Barthes), da filosofia à crítica literária, passando pela ficção, com trabalhos de  Affonso Ávila, Boris Schnaiderman, Celso Lafer, Anatol Rosenfeld, Octavio Paz, E. Lévinas, I. Kant, Pierre Bourdieu;
     
  • a Khronos, que se dedica a sínteses temáticas e bibliografias críticas no campo da história, elaboradas por autores como Marc Ferro (A Revolução Russa de 1917), Pierre Deyon (O Mercantilismo) e outros que figuram em seus 26 títulos;
     
  • a Signos, criada por Haroldo de Campos e dirigida por ele até 2003 e, atualmente, por Augusto de Campos, na qual o projeto gráfico e o textual definem uma produção poética de Vanguarda e trouxe para o público brasileiro, quase sempre pela primeira vez, obras de Vasko Popa, Hopkins (A. de Campos), Heine, [Brecht] (André Vallias), Guenádi Aigui (Boris Schnaidermann e Jerusa Pires Ferreira) e Maiakóvski (Boris Schnaidermann, Augusto e Haroldo de Campos), de poetas brasileiros (Murilo Mendes, Affonso Ávila, Horácio Costa, Sebastião Uchoa Leite, José Lino Grünewald, Arnaldo Antunes) e clássicos da cena grega (Agamêmnon de Ésquilo, Antígone de Sófocles, Lisístrata e Tesmoforiantes de Aristófanes, em tradução de Trajano Vieira);
     
  • a Signos-Música, uma abordagem diferenciada de pesquisas e temas de vanguarda da arte musical, em geral acompanhados de CDs [ou links na internet] com exemplos [musicais] dos trabalhos;
     
  • a coleção Paralelos, que já lançou textos de Hilda Hilst e Zulmira Ribeiro Tavares, voltada a romances e contos, alguns já consagrados em seu país de origem, como o humorístico A Baleia Mareada, de Efraim Kishon, outros de autores renomados, como Mosché Schamir (Rei de Carne e Osso), Aharon Appelfeld (Expedição ao Inverno) ou os prêmio Nobel Sch. I. Agnon (Contos de Amor) e Isaac Bashevis Singer (O Golem), além de também abrir espaço a novos autores como Ili Gorlizki (Tehiru) e Sonia Azevedo (Odete Inventa o Mar);
     
  • a coleção Perspectivas, lançada em 1995, oferece ao público brasileiro uma série que pretende reunir textos importantes, e extensos na abrangência do assunto tratado, nas áreas teatral (O Cotidiano de uma Lenda, de Cristiane Takeda), de artes plásticas (Fios Soltos, de Paula Braga), biográfica (Eis Antonin Artaud, de Florence de Mèredieu; Mikhail Bakhtin, de Katerina Clark; Todos os Corpos de Pasolini, de Luiz Nazario; e Diderot de Arthur Wilson), histórica (A Alemanha Nazista e os Judeus, de Saul Friedländer), antropológica (Afografias da Memória, de Leda Martins) e literária (Pessoa e Personagem, de Michel Zéraffa);
     
  • A Big Bang, com textos especificamente científicos, aborda e polemiza os problemas da ciência e da epistemologia de hoje e já conta com quinze títulos, dentre os quais: Uma Nova Física, Diálogos Sobre o Conhecimento, O Universo Vermelho, Dicionário de Filosofia, Arteciência, Cibernética e Estruturas Intelectuais.

Muitos títulos são vinculados não a uma coleção, mas ao nosso projeto cultural: a área da arquitetura e urbanismo, por exemplo, é um dos destaques, contando com títulos fundamentais para uma visão mais humanista e menos técnica dessa atividade criativa, com clássicos como História da Arquitetura Moderna e História da Cidade, de Leonardo Benevolo, ou que visam rever a produção recente, como Brasil: Arquiteturas Pós-1950. Já na área de música, a publicação de História da Ópera (em dez volumes) e de História Mundial do Teatro deram início a um conjunto maior, com títulos dedicados à História do Teatro Brasileiro (dois volumes), Dicionário do Teatro e Dicionário Sesc – A Linguagem da Cultura.

Outro destaque é a publicação da obra de Ruy Coelho, antropólogo e crítico, cocriador da revista Clima (Os Caraíbas Negros de Honduras e Dias em Trujillo).

A Perspectiva representou e representa, para seus diretores, colaboradores intelectuais e técnicos, bem como todos os profissionais que a fazem diuturnamente, uma opção antes de tudo cultural. De fato, com escolhas pouco ditadas por tendências de mercado, esta editora tem dado continuidade aos valores de suas escolhas e à consistência de suas programações.

Dos mais de mil títulos até agora publicados, pode-se dizer que, em sua esmagadora maioria, eles são de interesse permanente e de inclusão necessária na bibliografia e na ampliação do espectro de conhecimento de seu público: estudantes, professores e leitores que podem encontrar nessas obras análises aprofundadas, visões abrangentes e subsídios enriquecedores que definem a modernidade no cultivo do homem de hoje, no Brasil de hoje.