A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

História e Evolução da Psiquiatria Dinâmica

 

Henri F. Ellenberger

Tradução: Paulo Sérgio de Souza Jr.

 

SINOPSE

Obra clássica, traz uma visão panorâmica, monumental e integrada da busca do homem por uma compreensão dos confins da mente. Em um relato exaustivo e empolgante, o distinto psiquiatra e autor demonstra a longa cadeia de desenvolvimento - por meio de exorcistas, magnetistas e hipnotizadores - que levou à fruição da psiquiatria dinâmica nos sistemas psicológicos de Janet, Freud, Adler e Jung.

 

QUARTA-CAPA

A Descoberta do Inconsciente: História e Evolução da Psiquiatria Dinâmica é o que parece ser: uma obra monumental. Abrangente, panorâmica, cronologicamente estruturada de modo a constituir um relato cuja amplitude surpreendentemente não sufoca o prazer da leitura. “Á maneira de um enciclopedista [...] sempre à procura de um antes e de um depois”, como afirmou dele Élisabeth Roudinesco, Henri F. Ellenberger parte dos estudos antropológicos e relatos sobre povos primitivos para dar forma a uma longa cadeia de desenvolvimento que inclui exorcistas, magnetistas e hipnotizadores até chegar aos sistemas psicológicos de Janet, Freud, Adler e Jung.

Situa, assim, a "descoberta do inconsciente" em seu contexto histórico, desde Carl Gustav Carus até a primeira metade do século XX, trazendo ao primeiro plano a evolução das teorias da hipnose, os trabalhos de Mesmer, Puysegur, Bernheim e Charcot, a filosofia de Schopenhauer e Nietzsche; a música de Schubert e a literatura do duplo no século XIX, André Breton e outros, com aguda consciência de como as circunstâncias políticas e econômicas enredam a psicologia e o que ela se torna. Uma obra definida pela grandeza.

 

HENRI FRÉDÉRIC ELLENBERGER (1905–1993)

Psiquiatra franco-canadense, criminalista e historiador da medicina. Teve uma trajetória independente, não se alinhando com nenhuma das principais correntes da psicologia do século XX. Ele é lembrado principalmente por este A Descoberta do Inconsciente, sua história pioneira da psiquiatria e sua coleção de ensaios. Ellenberger nasceu na Rodésia Britânica, de pais suíços, e estudou medicina e psiquiatria em Paris. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial foi para a Suiça, onde permaneceu até o início dos anos 1950, quando emigrou para a América, primeiro os EUA e depois, já nos anos 1960, o Canadá, onde permanceu até sua morte, na Cidade de Quebéc e onde recebeu vários prêmios, incluindo a medalha de Ouro do prêmio Beccaria e a medalha Jason A. Hannah da Royal Society of Canadá.

 

COLEÇÃO PERSPECTIVAS

A coleção Perspectivas abriga textos e ensaios de qualidade nas áreas de biografia e história, e também para grandes ensaios relevantes em seus campos de análise.

 

DA CAPA

Imagem da capa: Vassili Kandínski. Estudo de Cor: Quadrados Com Círculos Concêntricos. Técnica mista sobre papel, c. 1913. Lenbach House, Munique.

Procuramos uma solução que pudesse simbolizar a diversidade de hipóteses que resultariam na concepção da ideia de inconsciente.

 

O QUE DIZ O TRADUTOR PAULO SÉRGIO DE SOUZA JR.

 

Filho de huguenotes suíços, Henri Ellenberger nasceu em 1905 em Nalolo, atual Zâmbia, numa então colônia britânica situada na África austral, a Rodésia do Norte. Após a infância em continente africano, tendo morado também no Lesoto, em 1914 foi enviado pela família para estudar na Europa. Concluiu os estudos e fez sua formação médica na França, ali também iniciando a vida profissional como psiquiatra e atuando em importantes instituições de saúde mental, dentre elas, Sainte-Anne e Salpêtrière. Permaneceu em solo francês até o início do governo de Vichy, quando, impedido de lá continuar por conta das revisões nos processos de naturalização, viu-se obrigado a partir, emigrando então para a Suíça em 1941, o que o fez ter oportunidade de travar contato com Carl Jung, Manfred Bleuler, Ludwig Binswanger, e também de se analisar com Oscar Pfister. De lá, cruzou o Atlântico em direção aos Estados Unidos, em 1952, atuando em instituições de prestígio, como a Clínica Menninger. Em 1959, por fim, mudou-se para o Canadá, país em que publicou este livro, no ano de 1970, e onde viria a falecer, em 1993, na cidade de Montreal.

Encarnando uma vida e um pensamento itinerantes, ao longo de quase nove décadas Ellenberger foi atravessado por diversos idiomas: desde o francês (a língua de casa) até o sesoto (dos amigos de infância), passando pelo inglês e o alemão (nos quais era fluente), pelo espanhol (em que ministrou conferências em diversos países da América Latina), pelo italiano e o holandês (em cuja leitura era proficiente), pelo russo (língua de Emilie von Bachst, sua esposa, nascida em Vladivostok) e pelo esperanto. Colaborando na abertura de um veio tenaz na historiografia da psicanálise, dedicou-se por doze anos à pesquisa e à escrita desta obra colossal, que, como a sua própria biografia, é também uma espécie de périplo linguístico-geográfico; menos páginas não seriam capazes de contemplar sua amplitude consistente e inconteste relevância não apenas para psicanalistas e psiquiatras, mas também para o pensamento nas ciências humanas e para as reflexões sobre o psiquismo de modo geral.

Tem-se aqui em mãos uma odisseia em que, na agradável companhia do autor e de sua escrita fluida, investigam-se práticas de cura pela palavra desde povos originários até antigas comunidades da velha Europa. Singrando os mares dos arquivos abarrotados, das correspondências ainda por compilar e das entrevistas inéditas, enfrentam-se as marés revoltas da política e da história séculos a fio, com as suas venturas e desventuras, até chegar na Segunda Guerra Mundial. Num movimento de análise e síntese de extraordinária envergadura, claríssimo rigor e sensível agudeza diante das investigações em retrospecto, o vigor detetivesco que embalou as pesquisas de Ellenberger como um todo nos faz visualizar, em especial na saga deste volume, não apenas os diversos matizes da homérica e difusa descoberta do inconsciente, mas ainda um plurifacetado histórico da efetividade do verbo, numa esfera em que corpo e espírito parecem se confundir, irmanados pela língua que os separa. E é aí que o autor, sagaz, nos aponta um possível fio da meada a se deslindar, feito melodias que se harmonizam numa partitura. Que as muitas vozes que são pauta e ressoam nestas páginas, com os seus diversos sotaques de origem, possam lembrar a quem lê o quão coletivo e dinâmico é o feito dessa descoberta aqui em jogo, capaz de atravessar corpos individuais precisamente pela natureza social da linguagem, que é cerne e superfície das práticas com o psíquico.

 

TRECHOS

 

O exorcismo é a contraparte exata da possessão e um tipo bem estruturado de psicoterapia. Suas características básicas são as seguintes: o exorcista geralmente não fala em seu próprio nome, mas em nome de um ser superior. Tem de ter absoluta confiança nesse ser superior e em seus próprios poderes, bem como na realidade da possessão e do espírito possessor. Ele se dirige ao intruso de um modo solene em nome do ser superior que ele representa. Distribui incentivos ao indivíduo possuído e guarda as suas ameaças e reprimendas para o intruso.

 

Embora os traços básicos de possessão e exorcismo sejam constantes, existe uma infinita variedade de aspectos de um país para outro e de uma época para outra.

No Japão, assumiu frequentemente o aspecto de possessão por um animal, sobretudo a raposa, que desempenha um papel considerável na superstição e no folklore japoneses.

 

A cura primitiva é quase sempre um procedimento público e coletivo. Em regra, o paciente não vai ao curandeiro sozinho, mas é acompanhado por parentes que permanecem presentes durante o tratamento. Ao mesmo tempo, como vimos, o tratamento é uma cerimônia conduzida no interior de um grupo bem estruturado, envolvendo a tribo do paciente inteira ou membros de uma comunidade de pajelança que o paciente integra após ser curado.

 

Uma jovem mulher solteira, Sannchen, é acometida por um tipo peculiar de depressão. Os médicos atribuem-na a uma “fraqueza dos nervos” e chamam de histeria; tratam a paciente com o uso de medicamentos, mas sem sucesso. Então a família, aflita, ouve falar de um pastor do vilarejo, o reverendo Bosius – que dizem ter um dom particular para a “cura d’almas” –, e pede a sua ajuda. O reverendo é descrito no romance como devoto, culto, despretensioso e dedicado. Assim que ele chega, vai passear com Sannchen no jardim. A sua gentileza impressiona-a favoravelmente. Ele começa com uma longa e amistosa fala sobre o amor de Deus, que está refletido em tudo da Natureza, onde cada ser é um pensamento d’Ele. Ora, qual o mais belo de todos os pensamentos de Deus? O amor. E o que é o amor? É pulsão, naquele que ama, a unir-se com o amado. Isso leva Sannchen a contar-lhe o seu segredo: seu amor frustrado por Theobald e uma transgressão que ela cometera. Após ouvir a confissão, o reverendo exclama: “Boas Almas! Quão pouco conheceis sobre o amor!” E então começa a explicar-lhe que, sob o disfarce do amor, ela havia sido enganada pela paixão. A paixão não é nada além da “pulsão sexual natural” (natürlicher Geschlechtstrieb), isto é, o instinto natural de animais que querem se reproduzir, por mais refinado e sublimado que ele possa parecer.

 

Freud também compartilhava dos valores de sua classe. David Riesmann, ao tentar reconstruir a Weltanschauung de Freud a partir de seus escritos, enfatizou as noções que ele tinha de trabalho e de diversão. Freud via o mundo do trabalho como o mundo real, chegando até mesmo a estendê-lo ao inconsciente na forma do “trabalho onírico” e do “trabalho de luto”, como oposto ao mundo do prazer, que é o mundo da criança, do imaturo, do neurótico, da mulher e do aristocrata. Critérios de saúde mental, segundo Freud, eram as capacidades para trabalhar e desfrutar do prazer. Nessa fórmula, Freud expressou o ideal do burguês vienense esforçado, em conformidade com os exigentes requisitos de sua posição, mas reivindicava o seu quinhão dos prazeres da cidade. Freud via a sociedade como sendo – necessária e naturalmente – autoritária; e a família, como paternalista. Como ele havia respeitado os seus mestres, esperava que seus discípulos o respeitassem.

 

Na Suíça, durante a Segunda Guerra Mundial, houve um renovado interesse por Paracelso – o célebre médico místico e filósofo. Jung o considerava um pioneiro da psicologia do inconsciente e da psicoterapia, mas aparentemente estava mais interessado em sua personalidade que em seus escritos abstrusos. “Nada tem uma influência mais poderosa nas crianças que a vida que seus pais não viveram”, observou Jung. Também descobriu nele um bom exemplo de “virada da vida”: a filosofia de Paracelso transformou-se depois que ele completou 38 anos de idade.

 

SUMÁRIO

Introdução

1. A Ascendência da Psicoterapia Dinâmica

2. A Emergência da Psiquiatria Dinâmica

3. A Primeira Psiquiatria Dinâmica (1775-1900)

4. O Pano de Fundo da Psiquiatria Dinâmica

5. No Limiar de uma Nova Psiquiatria Dinâmica

6. Pierre Janet e a Análise Psicológica

7. Sigmund Freud e a Psicanálise

8. Alfred Adler e a Psicologia Individual

9. Carl Gustav Jung e a Psicologia Analítica

10. Aurora e Ascensão da Nova Psiquiatria Dinâmica

Conclusão

Índice Onomástico

Índice Remissivo

Agradecimentos

 

FICHA TÉCNICA

Henri F. Ellenberger

Tradução: Paulo Sérgio de Souza Jr.

Coleção Perspectivas
Psicologia/Psicanálise

Formato Impresso em Capa Dura

16 x 23 cm

912 páginas

ISBN 978-65-5505-177-3

Lançamento 30 nov

 

EBOOK

ISBN 978-65-5505-178-8

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