COMÉDIAS DE GOLDONI
Alessandra Vannucci: organização, prefácio e notas
Tradução: Alessandra Vannucci, Roberta Barni, Álvaro De Sá, Maria Carolina Lahr e Ruggero Jacobbi
Textos clássicos definem-se pela sua capacidade de atravessar os séculos sem perder a atualidade e a vitalidade, capazes de serem adaptados, redimensionados e reestudados sob novas e inesperadas perspectivas, nunca imaginadas sequer pelos seus autores. Goldoni é um dramaturgo – o primeiro italiano a viver efetivamente deste trabalho – cuja extensa obra, em grande parte, se encaixa à perfeição nesse perfil. Embora o nome soe familiar, o público brasileiro conhece pouco ou nada da obra deste grande reformador do teatro italiano de sua época, que levou aos palcos personagens com profundidade psicológica, contextos político e social apurados, além do pioneirismo em oferecer grandes papéis a mulheres. Pois quase nenhum de seus textos foram publicados aqui. Neste livro, Alessandra Vannucci, encenadora e pesquisadora, selecionou seis obras-primas das comédias do autor – O Teatro Cômico, Café, O Mentiroso, A Dona da Pousada, Bafafá e O Leque – para compor a primeira antologia do veneziano em nosso país, com as peças.
Trecho:
MIRANDOLINA: Oh, mas isso é uma maravilha! O excelentíssimo senhor marquês da miséria estaria disposto a casar comigo? Acontece, porém, que se ele quisesse, haveria uma pequena dificuldade. Eu não o quereria. Gosto do assado, não da fumaça. Se me tivesse casado com todos aqueles que queriam (ou que assim diziam), a essas horas, isto aqui estava cheio de maridos! Todos os que vêm a esta pousada, todos, se apaixonam, correm atrás de mim, e muitos, muitos, falam até em casamento. Só esse tal de Cavaleiro de Ripafratta, esse urso selvagem, me trata brutalmente. É o primeiro hóspede daqui que não gosta de conversar comigo. Não digo que todo mundo tenha a obrigação de se apaixonar; mas, desprezar-me? Isso me dá uma raiva… Inimigo das mulheres? Não gosta delas? Evidentemente não encontrou ainda uma mulher que o soubesse puxar pelo nariz. Mas vai achá-la. Se vai! Estou mesmo pensando que essa mulher já apareceu. É com sujeitos como ele que fico terrível. Os que rastejam por mim, logo me enjoam. A nobreza não se adapta à minha pessoa. A riqueza me agrada e não me agrada. Todo o meu prazer consiste em ver que me adoram, me desejam, me obedecem. Essa é a minha tara. Aliás, tenho a impressão de que é a tara de quase todas as mulheres.
Quarta capa:
Poucas dramaturgias no Ocidente venceram a prova dos séculos e ultrapassaram as fronteiras de seu idioma: um punhado de clássicos gregos, ingleses, espanhóis, portugueses e franceses. E um italiano – Carlo Goldoni.
Goldoni mudou a forma de fazer teatro na Itália e na França, transformando os argumentos para a improvisação da Commedia dell’Arte, com seus tipos fixos e suas máscaras, em textos complexos, que davam vida à personagens com densidade psicológica, fruto de uma observação arguta da realidade social. Populares, não apenas os ingressos, mas também as edições escritas de suas peças esgotavam com rapidez!
Comédias de Goldoni, organizada por Alessandra Vanucci, é a primeira antologia do autor publicada no Brasil, reunindo seis das principais peças da sua dramaturgia, em versões que buscam a vitalidade e a atualidade que só a palavra fluida é capaz de transmitir. Uma obra que não apenas permaneceu, mas manteve-se vigorosa e influente onde quer que tenha sido encenada. Ficamos por aqui, agora é com o leitor! Afinal, Chi parla troppo non può parlar sempre bene.
Texto de Alessandra Vannucci para o livro:
Muitos entre vocês que leem devem conhecer Goldoni de nome. Alguns talvez o associem à reforma do teatro cômico e ao melancólico fim da Commedia dell’Arte; creio, porém, que poucos saibam que foi um dos primeiros escritores na Itália a fazer de sua arte uma profissão.
Após um bem-sucedido início como amador, enquanto ainda exercia a advocacia, aos quarenta anos decidiu abraçar de vez o teatro. Regressou à cidade natal, Veneza, contratado como dramaturgo da companhia assentada no Teatro Sant’Angelo. Em 1750, sua segunda temporada profissional, prometeu ao público dezesseis novas comédias e cumpriu. Naquela década, lançou outras trinta, passando a ocupar o cobiçado Teatro S. Luca, no Canal Grande. Estreou suas novidades pela Itália toda e, em 1761, se mudou para Paris, para assumir a direção da Comédie Italienne. Também publicou quatro antologias de peças, cada uma com cerca de dez volumes, de modo que seus textos (cerca de 150 entre comédias, entremeios, tragicomédias e melodramas) circularam amplamente, nas décadas seguintes e foram encenados, traduzidos e plagiados na Europa inteira.
Apesar de constar entre os clássicos do teatro mundial, Goldoni não recebeu, até agora, a devida atenção do mercado editorial brasileiro. Não há publicações de sua vasta produção, exceto um ótimo Arlequim, Servidor de Dois Amos, traduzido por Millôr Fernandes, que atraiu interesse de leitores e artistas de diversas gerações e outras poucas peças, montadas, mas não publicadas. Esta antologia vem desengavetar a obra de Goldoni, tirar três séculos de poeira de suas peças e jogá-las em cena, na cena brasileira contemporânea, onde terá o desplante de constituir um novo repertório de comédias clássicas ofertado à classe teatral e aos leitores.
Foi árdua a seleção: demos preferência aos títulos significativos da carreira do autor como diretor, em diálogo com atores e públicos de sua época, pois a tal da “reforma” de Goldoni se deu no palco, em benefício das companhias com as quais escolheu compartilhar salas e horas de ensaio, lucros e dívidas. Se deu incorporando as habilidades dos comediantes em uma escrita que garantisse visibilidade a cada um, sua experiência, suas relações de classe e seus méritos e não somente – no caso das atrizes – seus atributos físicos. É o século em que as mulheres tomam posse dos seus negócios, de seus corpos. E dos palcos. A elas, Goldoni confiava pequenos discursos ditos no proscênio antes do início da comédia, visando fidelizar a plateia.
Uma plateia que frequentava teatros pagando ingresso e dava mostras de apreciar personagens com sutilezas psicológicas e falas mais elaboradas, tendo até desejo de relê-las (tanto que valia a pena colocar à venda antologias teatrais como se fossem romances). Uma plateia que se veria retratada naquelas praças, palcos das grandes ou mínimas negociações da convivência burguesa, em metrópoles como Milão ou Veneza, que se dá primeiramente pela troca incessante de mercadorias. Cada personagem representa uma classe social que emerge, se sobrepõe, devora as outras, enquanto ressoam ao longe os tambores revolucionários. Mesmo clássicas, estas comédias são ilhas de realismo e racionalidade. Sua extraordinária fortuna é prova de que o grande teatro, quanto mais situado e local, tanto mais é universal – vale dizer, funciona em outras épocas e latitudes.
Sobre a capa:
Retrato de Carlo Goldoni, em desenho de Sergio Kon a partir de pinturas da época e estatuária.
Ficha Técnica:
Organizadora: Alessandra Vannucci
Tradutor: Alessandra Vannucci, Roberta Barni, Álvaro De Sá, Maria Carolina Lahr e Ruggero Jacobbi
Coleção: Textos
Assunto: Teatro
Formato: Brochura
Dimensões: 12,5 x 21,5 cm
448 páginas
ISBN: 9786555050264
E-ISBN: 978655050271
Preço E-Book: R$59,90
Lançamento 27/07/2020
1 x de R$109,90 sem juros | Total R$109,90 | |
2 x de R$57,84 | Total R$115,68 | |
3 x de R$39,22 | Total R$117,66 | |
4 x de R$29,91 | Total R$119,65 | |
5 x de R$24,33 | Total R$121,67 | |
6 x de R$20,62 | Total R$123,70 |