DARCY RIBEIRO, UMA UTOPIA
Dulci Lima; Márcio Farias; Ronaldo Vitor Silva (orgs.)
Textos de:
Ailton Krenak
Alexandre de Freitas Barbosa
Eric Nepomuceno
Geo Santana
Isa Grinspum Ferraz
Jones Manoel
Layza da Rocha Soares
Márcio Farias
Stelio Marras
SINOPSE
Os oito ensaios de Darcy Ribeiro, uma Utopia buscam avaliar o legado da obra do intelectual e do político e sua pertinência do ponto de vista contemporâneo, do século XXI. Derivados de um seminário no contexto de uma grande exposição celebrando o centenário de seu nascimento, os textos não são homenagens, no entanto, mas reavaliações críticas que levam em conta erros e acertos e o contexto histórico tumultuado em que Darcy foi forçado a atuar – com foco em suas realizações na área da educação (criador das universidade de Brasília e Estadual do Norte Fluminense, dos Cieps no Rio de Janeiro e um dos autores da Lei das Diretrizes e Bases da Educação; ajudou a implantar o Parque Nacional do Xingu) e em seu trabalho de etnólogo.
Uma personagem rica, combativa, atuante, polêmica que, sobretudo, amava seu país e tinha uma visão propositiva e otimista do futuro, com a construção de uma sociedade fraterna. Uma visão, por certo, positiva demais, mas que, a seu modo, injetava uma energia de transformação inclusiva e democrática.
Com um time notável de autores, Márcio Farias, Isa Grinspum Ferraz, Alexandre de Freitas Barbosa, Ailton Krenak, Dulci Lima, Jones Manoel, Stelio Marras, Eric Nepomuceno, Geo Santana, Ronaldo Vitor da Silva, Layza da Rocha Soares, o livro traz um painel múltiplo e diversificado da personalidade de Darcy. Conta ainda com uma minibiografia e uma lista bibliográfica sucinta dele.
QUARTA-CAPA
Antropólogo, etnólogo, educador, político (no poder e contra ele), romancista, ensaísta, Darcy Ribeiro (1922-1997) levou uma vida plena – de embates, controvérsias, paixão. Darcy Ribeiro: Uma Utopia busca apresentar ao público de hoje uma visão atualizada e crítica da sua obra e de sua influência.
Dulci Lima, Márcio Farias e Ronaldo Vitor da Silva reuniram assim um notável grupo de intelectuais com visões diversificadas nos campos de pensamento de Darcy, que analisam a partir da perspectiva histórica de sua atuação, as várias facetas e seu legado, com ênfase na atuação política em prol da educação (no Brasil e fora) e como etnólogo, visando recuperar a complexidade de uma obra que tinha a utopia como horizonte, mas também a realidade política e social de sua época como matéria-prima sobre a qual atuar.
SOBRE OS ORGANIZADORES
Dulci Lima
Pesquisadora em Ciências Sociais e Humanas no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP. Doutora em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC. Mestra em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Bacharel em História - FFLCH- USP.
Márcio Farias
Doutor em Psicologia Social, Professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-SP. Coordenador de Pesquisa do AMMA Psique e Negritude, é ainda coordenador da coleção Clovis Moura e o Brasil pela Dandara Editora e autor do livro Clóvis Moura e o Brasil.
Ronaldo Vitor da Silva
É docente, pesquisador, editor e crítico literário. Bacharel em Letras (FFLCH-USP), mestre em Culturas e Identidades Brasileiras (IEB-USP) e doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. É coordenador do Nepafro (Núcleo de Estudos e Pesquisas da Afro-América), autor de materiais didáticos e do posfácio de Da Próxima Vez o Fogo, de James Baldwin (Cia. das Letras).
SOBRE OS AUTORES
Ailton Krenak
Ativista indígena da etnia krenak, fundou a União das Nações Indígenas e o Movimento Aliança dos Povos da Floresta. Dirige o Núcleo de Cultura Indígena. É professor doutor honoris causa pela UFJF onde leciona, além de jornalista, escritor e pesquisador.
Alexandre de Freitas Barbosa
Professor de História Econômica e Economia Brasileira do IEB, coordenador do núcleo temático Repensando o Desenvolvimento do LabIEB e bolsista Produtividade do CNPq, nível 2. Publicou recentemente O Brasil Desenvolvimentista e a Trajetória de Rômulo Almeida: Projeto, Interpretação e Utopia, pela editora Alameda.
Eric Nepomuceno
Escritor, entre 1965 e 1986 trabalhou como jornalista. Nesse período, foi correspondente estrangeiro, de fevereiro de 1973 a setembro de 1983, na Argentina (1973-1976, para o Jornal da Tarde, de São Paulo), Espanha (1976-1979, para a Veja) e México e América Central (1979-1983, também para a Veja). Trabalhou com Darcy Ribeiro na criação do Memorial da América Latina, em São Paulo
Geo Santana
Professora da rede pública de ensino fundamental, mestranda da área de desigualdades e diferenças na educação e educadora popular, atua com temáticas relacionadas às infâncias, movimentos sociais e memórias populares, disputas de poder nas cidades e arte educação.
Isa Grispum Ferraz
Doutora pela FAU-USP e bacharel em Ciências Sociais pela FFLCH-USP, é roteirista, documentarista e curadora de exposições e museus multimídia, entre os quais o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e o Cais do Sertão, em Recife. Dirigiu as séries de documentários O Povo Brasileiro, Intérpretes do Brasil, O Valor do Amanhã e A Cidade no Brasil, bem como Lina Bo Bardi e o longa Marighella. Publicou os livros Darcy Ribeiro: Utopia Brasil (2008) e Luz da Língua (2020). Foi colaboradora tanto de Lina Bo Bardi como de Darcy Ribeiro.
Jones Manoel
Historiador, professor de história, mestre e doutorando em Serviço Social, comunicador e educador popular e militante comunista.
Layza da Rocha Soares
Economista, doutora em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em economia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Faz parte da diretoria executiva da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica e é pesquisadora do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI).
Stelio Marras
Professor de antropologia do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, onde orienta pesquisas, bem como junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (FFLCH/USP). Autor de livros, ensaios e artigos, é também Pesquisador Associado do Projeto Temático Fapesp, Processo 2020/07886-8, no qual coordena eixo de pesquisa.
Coleção DEBATES
Dedicada à publicação da ensaística de ponta nos diferentes ramos das Artes e Ciências Humanas, a coleção Debates, traz contribuições significativas e, às vezes fundamentais, de autores como Umberto Eco, Roman Jakobson, Max Bense, Martin Buber, Tzvetan Todorov, Fernand Braudel, Gershom Scholem, Antonio José Saraiva, José Augusto Seabra, Anatol Rosenfeld, Benedito Nunes, Affonso Ávila, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, para citar apenas alguns dos autores que compartilharam com o leitor seus questionamentos e suas experiências nos mais de trezentos títulos já publicados.
DA CAPA
Imagem da capa: Retrato de Darcy Ribeiro.
TRECHOS
{Prefácio, Dulci Lima, Márcio Farias e Ronaldo Vitor da Silva}
A busca pelo intelectual e pelo homem público são as dimensões que norteiam este livro. Isso porque o percurso de Darcy Ribeiro é parte de seu legado, a ponto de não encontrarmos separações entre aquilo que ele fez ou almejou fazer e aquilo que foi interpretado, pensado e escrito em seus livros. Parte de sua potência encontra-se justamente na grandeza de ser um intelectual orgânico, daqueles como Mário de Andrade e Celso Furtado, que refletem as particularidades de seu momento histórico, ao mesmo tempo que constroem o presente e idealizam o futuro.
{Capítulo 1, Alexandre de Freitas Barbosa e Stelio Marras}
Essa empreitada exigiu o detido trabalho de enfrentar o pensamento desigual desse autor – aqui reconhecendo sua continuada validez, ali apontando o que, a nosso ver, deve mesmo ser objeto de deserção. Só vale tal empreendimento porque valioso é o pensador em questão – seja para o Brasil e os brasis de ontem, para os que estão aí, para os que hão de vir. Virá o Brasil, virão os brasis? – Darcy viu2. Mas talvez – e é importante que assim seja – os brasis se apresentem com outras vestes, libertos de algumas das categorias antevistas por ele. Ou pode ser também que elas apareçam ressignificadas e estrategicamente acionadas. E então, como fazemos? Para saber quais Darcys herdamos, é preciso conhecê-lo nas suas várias encarnações, incluindo as constantes fricções entre si.
{Capítulo 2, Isa Grinspum Ferraz}
Sem se filiar a nenhuma escola de pensamento, ele ousou reler com liberdade a história do Brasil e tecer utopias. Darcy fez parte de uma geração de intelectuais e artistas que acreditavam ser possível construir um projeto cultural e político amplo para o Brasil e para a América Latina, destinado a transformar profundamente as estruturas do país e do continente, construindo um mundo mais justo, mais plural e mais alegre. Essa geração era herdeira das utopias socialistas da Revolução de Outubro e do vazio deixado pela visão dos horrores das duas guerras mundiais que abalaram o século XX. Era uma geração de humanistas: Celso Furtado, Glauber Rocha, Octávio Paz, Lina Bo Bardi e muitos outros, todos com uma perspectiva ao mesmo tempo trágica e aguda da realidade.
{Capítulo 3, Eric Nepomuceno}
Para Darcy, nossos problemas só teriam e terão solução a partir de nós mesmos, de nossa capacidade de impulsionar e consolidar mudanças.
Dele, ouvi certa vez uma frase que mudou minha vida e ficou para sempre em minha alma: “Na América Latina, só temos duas saídas: ser resignados ou ser indignados. E eu não vou me resignar nunca.”
{Capítulo 4, Layza da Rocha Soares}
Nessas cartas trocadas entre 1969 e 1970, Furtado, em Paris, reiterava seu pessimismo, como muitos economistas, quanto às possibilidades de mudança do cenário político no Brasil e na América Latina em um futuro próximo. Por outro lado, Darcy, que permaneceu no continente americano, ao conviver e observar diferentes lutas e movimentos sociais que ocorriam na América Latina, buscava alternativas para o continente, com hipóteses e caminhos possíveis. Apontou as experiências nos países do Cone Sul, sobre os regimes políticos e suas expectativas quanto aos governos autoritários. Visualizou possibilidades de transformação e avanços sociais com o movimento dos Tupamaros, no Uruguai, com Juan Velasco Alvarado, no Peru, e Allende, no Chile
{Capítulo 5, Jones Manoel}
Nesse sentido, os povos em condição de atualização histórica participam das revoluções tecnológicas e produtivas de cada época, mas não o fazem como guia, organizador ou vanguarda do processo. Não são protagonistas, mas coadjuvantes de um enredo que não controlam. Essa posição estrutural condiciona um tipo específico de modernização: a modernização reflexa. A modernização dos povos em condição de atualização histórica acontece de acordo com os interesses e necessidades da metrópole: uma modernização contraditória, incoerente, limitada. Um tipo de modernização sem mudança, na qual o povo trabalhador não usufrui dos seus resultados e o país, como um todo, segue na condição de dependência. Essa modernização reflexa se expressa em todas as dimensões da vida nacional e produz cenas trágicas e aberrantes, como uma população semianalfabeta, sem acesso à água potável e com alimentação precária, consumindo celulares ultramodernos que não produzimos nacionalmente.
{Capítulo 6, Ailton Krenak}
Darcy, além daquele desejo de ser imperador do Brasil, também tinha uma vocação para ser demiurgo, para ser meio deus, inventando coisas. Ele gostava disso, e isso está presente em sua obra porque ele não escondia sua pretensão. Darcy era uma casa que não tinha vergonha de ser inteligente. Muitos de nós temos vergonha de ser inteligentes. Nós pensamos: “Eu não vou falar isso, não, porque eles vão achar que eu sou inteligente demais. Depois eles vão me comer.” Passamos por medíocres para permanecermos vivos.
{Capítulo 7, Márcio Farias}
A viabilidade da utopia latino-americana, nesse sentido, não estava no curso em que a ação das elites dirigentes operou a estruturação das respectivas repúblicas nacionais, mas, em seu contrário, numa espécie de efeito colateral da colonização que amalgamou história e memórias de povos de ampla produção material e de riquezas, com o acúmulo de conhecimento em várias áreas, da tecnologia à filosofia, que acompanhou o desenvolvimento dessas sociedades antes da colonização. Em outras palavras, o desenvolvimento de sociedades complexas nessa região anteriores à colonização, como é o caso dos povos incas, maias, astecas, quéchuas e aimarás. Nesses termos, Darcy dialoga com as teses clássicas do pensamento social latino-americano, seja por aproximação, como é o caso de Simón Bolívar, José Martí, José de Vasconcelos, Euclides da Cunha, ou por absorção crítica, como é o caso de Gilberto Freyre e Fernando Ortiz. Diferencia-se de todos eles na medida em que propõe um duplo estatuto identitário em que os povos originários, ou por manutenção ou por recuperação, manteriam suas culturas e valores, ainda que, numa federação política e cultural, formassem um povo novo.
{Capítulo 8, Geo Santana}
Darcy Ribeiro considerava que o sistema educacional, expresso em suas escolas, currículos e cotidiano da educação, era (e segue sendo!) um sistema violento e cruel com educandes, em especial às crianças pertencentes às classes populares.
Em Educação Como Prioridade, afirma que a educação pública brasileira produz a exclusão das camadas populares no dia a dia escolar, por meio dos altos índices de analfabetismo, denunciando a escola brasileira e seu caráter seletivo-elitista e apontando alguns caminhos para mudanças: valorização financeira e formativa de seus profissionais; criação de escolas de educação integral, com mudanças nos currículos e nas práticas escolares. Por fim, atribui o fracasso escolar ao descaso, à falta de investimentos na educação e ao que chama de “sequela do escravismo”.
SUMARIO
Prefácio – Dulci Lima, Márcio Farias e Ronaldo Vitor da Silva
1. O Brasil e os Brasis de Darcy Ribeiro: Modos de Herdar o Seu Pensamento – Alexandre de Freitas Barbosa e Stelio Marras
2. Um Depoimento Sobre Darcy Ribeiro – Isa Grinspum Ferraz
3. Onze Anotações Sobre Darcy Ribeiro e Nossas Comarcas – Eric Nepomuceno
4. O Brasil Como Projeto: Darcy Ribeiro e o Nacional-Desenvolvimentismo – Layza da Rocha Soares
5. O Que o Brasil Pode Ser: Reforma e Revolução na Obra de Darcy Ribeiro – Jones Manoel
6. Darcy Ribeiro e Krenak: Diálogos Possíveis e Diferenças no Tempo Presente? – Ailton Krenak
7. O Mestiço Que É Bom? Culturalismo Estrutural em Darcy Ribeiro – Márcio Farias
8. Darcy-Educador e a Educação Para a Liberdade: Um Diálogo Crítico – Geo Santana
Referências
Darcy Ribeiro, Biografia Sucinta
Sobre os Autores
FICHA TÉCNICA
Dulci Lima; Márcio Farias; Ronaldo Vitor Silva (orgs.)
Textos de
Ailton Krenak
Alexandre de Freitas Barbosa
Eric Nepomuceno
Geo Santana
Isa Grinspum Ferraz
Jones Manoel
Layza da Rocha Soares
Márcio Farias
Stelio Marras
Debates
Ciencias Sociais/Antropologia
Formato brochura
11,5 x 20,5 cm
176 páginas
ISBN 978-65-5505-203-9
EBOOK
ISBN 978-65-5505-204-6
Lançamento 11 out
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