DRAMATURGIAS FRATURADAS
Na Cena Paulistana Contemporânea
SINOPSE
A partir de sua experiência com grupos de teatro que utilizam o espaço urbano como cenário e tema, Evaldo Mocarzel analisa os processos criativos colaborativos e as “fissuras” (improvisações, pesquisas, questões relativas ao espaço selecionado, reação do público) que eles produzem nos textos e que geram o que ele chama de “dramaturgias fraturadas”.
QUARTA-CAPA
Por meio do registro cinematográfico da produção dos espetáculos de alguns dos principais grupos do Brasil, sediados em São Paulo, Evaldo Mocarzel mergulha na efervescência do nosso teatro contemporâneo.
A experiência acumulada ao trabalhar com esses coletivos, como documentarista ou dramaturgo, propicia que o autor nos leve para a intimidade dos seus processos criativos.
Partindo da base conceitual de cada grupo e em diálogo com seus participantes, somos apresentados aos rastros processuais – as improvisações; as pesquisas; as respostas, às vezes inesperadas, do público; e a interação, às vezes tensa, com o espaço urbano – que em cada obra colaborativa vão decantando os textos e as montagens. Dramaturgias Fraturadas atesta a crença na força da produção coletiva para as artes cênicas e para as nossas sociedades cada vez mais fragmentadas.
EVALDO MOCARZEL
Formou-se em cinema na Universidade Federal Fluminense, é jornalista, dramaturgo e documentarista, tendo sido editor do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo. Cursou Cinema na New York Film Academy e fez parte durante quatro anos do Círculo de Dramaturgia do encenador Antunes Filho, no CPT, em São Paulo. É doutor em Artes pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.
COLEÇÃO PERSPECTIVAS
A coleção Perspectivas abriga textos e ensaios de qualidade nas áreas de biografia e história, e também para grandes ensaios relevantes em seus campos de análise.
DA CAPA
Imagem da capa: composição com detalhes de stills dos espetáculos Hysteria, do Grupo 19; BR-3, do Teatro da Vertigem, Luís Antônio Gabriela, da Cia. Mungunzá e Satyricon, dos Sátyros.
Vários espetáculos ilustram a diversidade da cena paulistana contemporânea.
O QUE DIZ O AUTOR
Vamos agora detalhar um pouco as diferentes modalidades de fraturas que permeiam as dramaturgias do teatro de grupo de São Paulo.
A primeira delas poderia ser chamada de fratura processual e apresenta uma dupla face. Por um lado, trata-se de rastros do processo de criação coletiva que decantam nos textos e que quase sempre são vestígios de pesquisas documentárias, residências artísticas, improvisações individuais e workshops em grupo deflagrados por depoimentos pessoais: lembranças, alegrias, dores, traumas e militâncias, entre outras possibilidades de pulsões genuínas que irrompem da memória afetiva e das histórias de vida dos integrantes das companhias. Esses depoimentos recriados nos processos colaborativos guardam camadas documentárias e são também tentativas de frequentar de forma lúdica a imponderabilidade do “real” que lateja nas nossas vivências mais profundas.
A segunda modalidade de fraturas processuais está relacionada com uma característica que ontologicamente faz parte das especificidades da linguagem cênica, englobando artes que sempre geram obras em progresso a cada novo espetáculo. Manifestação artística viva, efêmera e presencial por excelência, o teatro está sempre em processo, eternamente em processo. E os grupos de teatro de São Paulo também tiram proveito dessa permanente processualidade que pode ser potencializada de diferentes maneiras em cena: rasgos para improvisações, fraturas expostas à imponderabilidade dos riscos no espaço urbano, brechas de acesso aos imprevistos das pulsões do inconsciente e da memória afetiva dos integrantes do elenco, fissuras interativas à espera do inesperado que emana do próprio público, entre outras possibilidades.
Essas fraturas processuais, tanto no que diz respeito aos rastros da criação coletiva quanto ao que pode ser potencializado em cena tirando proveito da processualidade ontológica da linguagem do teatro (e das artes cênicas, de maneira geral), são uma espécie de estrutura paradigmática que abriga diversas outras formas de fissuras mais específicas que serão detalhadas em seguida.
TRECHOS
DA APRESENTAÇÃO – Newton Moreno
Mais do que documentar reuniões, improvisos, discussões, promover uma “decupagem” da criação – tudo material suculento para descobrir o espetáculo – convocamos Mocarzel como um provocador, um forte instrumento para preparar e cutucar o ator. Sempre nos queixamos da falta de registros e de análise da nossa produção teatral. Mas são trabalhos como este de Evaldo Mocarzel que nos fortalecem e levam a outro patamar a memória e crítica dos processos de grupo. Eu percebo sua dramaturgia invisível, talvez evidenciada e apropriada mais no processo que no resultado, mostrando como o processo é parte imprescindível da pesquisa. O que ficou largado na sala de ensaio, as transformações, as ruínas, a coxia, as migalhas do banquete cênico que estariam inacessíveis não fosse este livro, reforçam a maravilha desse artesanato coletivo e processual que é o teatro.
DO LIVRO
Kaye destaca em seu livro outras características da arte site-specific, como a interação do corpo de quem assiste no processo de construção da própria obra. Citando o escultor italiano Giovanni Anselmo, ele afirma que, “ao revelar a troca íntima entre ‘materiais’ e ‘ambiente’, essas instalações envolvem a própria presença do espectador em termos materiais, provocando um sentido de participação no site, e então de uma troca fenomenológica.
Em dramaturgias e encenações autoficcionais, calcadas em pesquisas documentárias nas histórias de vida dos próprios atuantes e “encarnadas” por eles, o duplo ator-personagem, tão potencializado pelas narrações brechtianas, se transmuta em uma nova modalidade de cisão em cena, outra clivagem, um novo duplo: o performer e uma alteridade dele mesmo que também é levada ao palco. Uma “personagem” construída a partir das próprias vivências, da própria história de vida, mas que se torna uma alteridade autoficcional que vai adensando a própria ficcionalização documentária conforme os espetáculos permanecem em cartaz ao longo dos meses e anos.
Em filmes documentários, a dramaturgia só se realiza em sua plenitude no processo de montagem. Por mais que haja um argumento ou mesmo um roteiro prévio, a imponderabilidade do acaso está sempre abrindo novos caminhos, novas fraturas, na filmagem e também na edição: uma permanente “arquitetura do inesperado”.
Em um mundo cada vez mais virtualizado por artefatos tecnológicos manipulados por essa animalidade de símbolos que nos caracteriza como seres humanos, tudo é linguagem. E logicamente o “real” também é linguagem, ou melhor, estratégias de linguagem por meio das quais podemos provocar irrupções das duas características mais marcantes e potentes do “real”: o risco e o inesperado. Mas cada um faz a própria construção de linguagens híbridas para tentar flagrar a imponderabilidade do “real”.
SUMÁRIO
Apresentação: Dramaturgias (In)Visíveis [Newton Moreno]
Introdução
1 Teatro da Vertigem: “Site-specific” e Dramáticas Fraturadas no Espaço Urbano
2 A Recepção do Público Como Dramaturgia “Aerada” em Espetáculos Dirigidos Por Luiz Fernando Marques
3 Os Satyros: Textos Performativos e Novas Dramáticas Para o Ator-Ciborgue
4 Cia. Livre: Dramaturgias Colaborativas em Busca de um Teatro Épico-Ritual
5 Dramaturgia Telúrica de Newton Moreno em Processo Colaborativo Com “Os Fofos Encenam”
6 Club Noir: Dramáticas Fraturadas em Estruturas de Linguagem
7 A Cena Paulistana Contemporânea e a Política
8 À Guisa de Conclusão
Referências
Apêndice: Documentário Cênico Dramáticas do Real e Auto-Mise-en-Scène
Agradecimentos 000
FICHA TÉCNICA
Evaldo Mocarzel
Apresentação: Newton Moreno
Perspectivas
Teatro
IMPRESSO
brochura/dura
16 x 23 cm
312 páginas
ISBN 978-65-5505-179-7
Lançamento 30 nov
EBOOK
ISBN 978-65-5505-180-3
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