EUTÍFRON, APOLOGIA DE SÓCRATES E CRÍTON, DE PLATÃO
Obras IV
Daniel R.N. Lopes (organização)
Introdução e notas: Daniel R.N. Lopes
Traduções: Daniel R.N. Lopes e Francisco A.N. Barros (Eutífron)
SINOPSE
Em um dos mais importantes projetos editoriais no campo da Filosofia, a coleção Textos traz o quarto volume dedicado às obras de Platão. Este volume apresenta os diálogos que acompanham e elaboram o processo judiciário que condenou Sócrates à morte em 399 a.C. em um dos episódios mais famosos e controversos da História. Eutífron traz os acontecimentos antes do julgamento; Apologia de Sócrates relata a defesa de si do próprio filósofo e é considerado porta de entrada ao pensamento de Platão; e Críton conta o que se passou após o julgamento. O helenista Daniel R.N. Lopes, professor da USP e um dos grandes nomes do país nos estudos clássicos, é o organizador da obra
QUARTA-CAPA
Os diálogos Eutífron, Apologia de Sócrates e Críton, de Platão, conectam-se pelo episódio do processo judiciário que condenou Sócrates à pena capital em 399 a.C., aos setenta anos de idade. Eutífron se passa antes do julgamento e trata da piedade. A Apologia de Sócrates, considerada a porta de entrada para o pensamento platônico, compreende os discursos que o filósofo teria proferido em sua defesa, abordando questões relativas à virtude e à corrupção morais. Críton, que transcorre após tal sentença condenatória, discute a relação da justiça com as leis da cidade, a fim de justificar a resignação do filósofo ante a pena capital. Juntas, as três obras retratam Sócrates como o filósofo paradigmático, capaz de se elevar acima das paixões e mesquinharias humanas que compeliam seus semelhantes à infelicidade, e de manter-se fiel – até a morte – à sua cidade.
Este é o quarto volume da coleção Textos dedicado à tradução da obra do grande filósofo grego.
DANIEL R.N. LOPES
Doutor em Grego Clássico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor de Língua e Literatura Gregas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É autor e organizador dos volumes Protágoras de Platão e Górgias, de Platão, editados na mesma coleção Textos da editora Perspectiva
FRANCISCO A.N. BARROS
Doutor em Letras Clássicas Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
COLEÇÃO TEXTOS
A coleção Textos é dedicada a grandes textos de grandes autores, brasileiros e internacionais, nos campos da literatura, dramaturgia, crítica e filosofia. Seu propósito é levar um painel da vida e obra desses escritores e pensadores, sua obra propriamente dita e ensaios críticos que demonstrem sua vitalidade e importância para o leitor brasileiro.
DA CAPA
Imagem da capa: retrato de Platão, a partir de uma cópia do que seria um busto do autor.
O QUE SE DIZ DAS OBRAS
Roberto Bolzani Filho
(Professor Associado do Departamento de Filosofia da FFLCH/USP)
Os textos de Platão reunidos nesta publicação, traduzidos com precisão e comentados com profundidade, são, acima de tudo, meios de expressar a filosofia e o caráter de Sócrates, resultados da apropriação imitativa e inventiva que o discípulo fez de seu mestre e que vão impactar intensamente o pensamento ocidental.
Apresentam-nos um pensador que pauta sua existência pela obediência estrita ao logos (razão, argumento), a ponto de, inicialmente, desafiar o oráculo divino, para, somente após investigá-lo, submeter-se a ele. Daí a recusa, no tribunal, de salvar sua vida em troca do abandono de sua filosofia, agora uma missão divina (Apologia de Sócrates), bem como de compactuar com uma fuga da prisão que aquele logos não autoriza (Críton). O mesmo logos impõe que ele passe a vida a investigar e refutar aqueles que, como Eutífron no diálogo de mesmo nome, se julguem sábios, para que aprendam que, como ensinou-lhe o deus, o saber humano se assenta na consciência da ignorância.
Assim começa a filosofia.
TRECHOS
Alguém poderia, talvez, me indagar: “você não tem vergonha, Sócrates, de se envolver com uma ocupação tal que o põe agora em risco de morte?” E eu lhe objetaria com um argumento justo: “suas palavras não estão corretas, homem, se você acha que o indivíduo deve levar em conta o risco de viver ou morrer, cujo benefício é ínfimo, e não observar precisamente se suas ações são justas ou injustas, se seus gestos são próprios de um homem bom ou mau. Pois seriam ordinários, ao menos segundo o seu argumento, todos os semideuses que morreram em Troia, em especial o filho de Tétis: ao invés de se subjugar a uma condição vergonhosa, menosprezou tal risco quando sua mãe, uma deusa, se endereçou a ele, ávido por matar Heitor, mais ou menos nestes termos, suponho eu: ‘filho, se vingares o assassinato de teu companheiro Pátroclo e matares Heitor, hás de encontrar a morte, pois após Heitor’, disse ela, ‘apresta teu destino’. Ao ouvi-la, ele desprezou o risco de morte, e, muito mais temeroso de viver em condição vil e deixar de vingar os amigos, disse-lhe: ‘que eu morra tão logo tiver punido quem comete injustiça, para não permanecer aqui junto às naus recurvas, como um fardo da terra, na mais risível condição’. Você não acha que ele se preocupou com o risco de morte, não é?”
Eis a verdade sobre a questão, ó atenienses. Se alguém assumir um posto por considerá-lo o melhor ou se um posto lhe for designado por seu comandante, creio que ali deverá permanecer e correr o risco, sem levar em conta a morte ou qualquer outra coisa, tão somente a desonra. [Apologia de Sócrates, 28b-d]
A denúncia contra ele era, por um lado, de corrupção da juventude, e, por outro, de inovação em matéria religiosa, que podemos resumir aqui como uma acusação de impiedade (será tratada doravante nesses termos para fins didáticos). Pois bem, o diálogo Eutífron versará justamente sobre a definição do que é o piedoso e, por conseguinte, do que é o ímpio. E essa discussão junto a Eutífron, que, na condição de adivinho (3c), se apresenta como conhecedor de tal assunto, tem uma finalidade prática: definir de modo satisfatório o que é o piedoso e o que é o ímpio é condição necessária para saber, no caso de Eutífron, se o processo de homicídio movido por ele contra o próprio pai é ou não é uma ação piedosa e, por conseguinte, justa (4e); e no caso de Sócrates, para poder avaliar se a acusação de impiedade movida por Meleto tem algum fundamento objetivo, e, caso tenha, para poder justificar sua suposta inovação em matéria religiosa como fruto de sua ignorância no assunto e, portanto, como resultado de uma ação involuntária (12e, 16a). Embora Sócrates e Eutífron não cheguem a uma conclusão positiva – ou seja, não logrem obter uma definição satisfatória para a piedade e a impiedade –, ambos saem dali ao menos cientes de que uma boa definição requer a satisfação de alguns critérios, como o de universalidade e o de unidade, aos quais não foram capazes de atender.
Na Apologia, como não poderia ser diferente, Sócrates buscará refutar essas duas ordens de acusação de Meleto; ainda que a corrupção da juventude tome a maior parte da argumentação de Sócrates, o oráculo de Delfos ocupa um lugar central no corpo de sua argumentação. Ao revelar o que Querefonte havia ouvido da sacerdotisa de Apolo – o que sugere que a audiência desconhecia esse episódio –, Sócrates passa a descrever então a sua íntima relação com o deus. Inicialmente, seu intuito era refutar o oráculo (21c), pois como não existiria alguém mais sábio do que ele, se reconhecia sua própria ignorância e não tinha qualquer presunção de saber? A compreensão do sentido da palavra oracular se dá logo depois de sua experiência com o primeiro tipo de pretenso sábio, o político: ao examiná-lo e interrogá-lo sobre o que professava conhecer, Sócrates compreendeu que era mais sábio do que este e os demais homens justamente porque reconhecia sua própria ignorância, ao passo que os pretensos sábios presumiam conhecer o que não conheciam (21d). Seria essa a sabedoria propriamente humana, em contraste com a onisciência divina. A partir daí, Sócrates se converte em protetor de Apolo e sua missão passa a ser não mais refutar o oráculo, mas mostrar quão irrefutável ele é (22a).
O Críton é como que uma sequência natural da Apologia não apenas pelo caráter complementar da construção do ethos de Sócrates como a personificação da excelência humana, mas também pelas várias referências a passagens específicas da Apologia. Esse breve diálogo versa sobre a tentativa de Críton de persuadir Sócrates a fugir da prisão ilegalmente para evitar a morte, e a subsequente argumentação do filósofo para justificar sua resignação ante a pena capital imposta a ele pelo tribunal e sua obediência às leis da cidade. Vários aspectos salientes na Apologia reaparecem em sua discussão com seu amigo Críton, como, por exemplo: seu desprezo pela opinião da massa e pelo valor atribuído à reputação aos olhos dela; seu absoluto compromisso com o respeito à justiça, às leis e à própria cidade; sua recusa a apelos de ordem sentimental contra os ditames da razão; e sua postura serena e resignada perante a iminente morte.
SUMARIO
Cronologia
Apresentação
Introdução
Introdução Geral
“Eutífron”
“Apologia de Sócrates”
“Críton”
Procedimentos Legais em Atenas [por Nicholas Denyer]
Diálogos
Eutífron/Ε?θ?φρων
Apologia de Sócrates/’απολογ?α Σωκρ?τους
Críton/Κρ?των
Bibliografia
ANEXOS
Xenofonte – “Apologia de Sócrates”
Mapa da Grécia
Agradecimentos
FICHA TÉCNICA
Autor: Platão
Organização: Daniel R.N. Lopes
Introdução e notas: Daniel R.N. Lopes
Traduções: Daniel R.N. Lopes e Francisco A.N. Barros (Eutífron)
Coleção: Textos
Assunto: Filosofia
Formato: brochura/dura
12,5 x 21 cm
400 páginas
ISBN 978-65-5505-134-6
Lançamento 24 fev.
EBOOK
ISBN 978-65-5505-135-7
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