FRANTZ FANON: UM RETRATO
Alice Cherki
Prefácio: Priscilla Santos
Tradução: Rainer Patriota
SINOPSE
Frantz Fanon? Não, ele não era argelino. Também não era filósofo ou sociólogo – apesar de ter pensado a situação do negro em um mundo branco como poucos – ou líder revolucionário – embora tenha participado ativamente de uma das mais importantes e violentas guerras de libertação, a da Argélia. Os equívocos sobre a vida se estendem à sua obra, muito influente nos campos dos estudos pós-coloniais, mas nem sempre devidamente compreendida ou mesmo aceita (no caso de seus estudos sobre "culturas originais"), isso quando não é simplesmente dada como “datada”. Sim, a obra desse psiquiatra revolucionário tem “data”, tem contexto, tem história, como a de qualquer autor, mas também, como a de bem poucos, transcende em muito sua época, pois seu pensamento é calcado na ação, na experiência, é pensamento à flor da pele, que ainda hoje alimenta o debate sobre o futuro de ex-colônias e (ex-?)colonizadores. Ninguém melhor que Alice Cherki para nos apresentar o homem e sua vida, pois biografa e biografado não apenas trabalharam juntos, mas compartilharam a mesma exclusão (por motivos diferentes), a mesma formação, os mesmos sonhos e as mesmas decepções, daí este Frantz Fanon: Um Retrato ser tanto uma narrativa de cunho biográfico, um comentário sobre as origens de suas ideias e sobre sua atuação como psiquiatra na Argélia e na Tunísia e um testemunho de sua luta.
QUARTA-CAPA
Frantz Fanon era um médico psiquiatra, um intelectual e um revolucionário, atuando na linha de frente pela libertação da Argélia. Antes, foi um soldado da França Livre combatendo o nazifascismo. E, antes ainda, foi um jovem negro na sua Martinica natal que percebeu o quanto a cor, e mesmo o tom, da pele e o patrimônio pessoal marcavam socialmente o indivíduo e selavam seu futuro.
Alice Cherki, aluna, amiga e colega de Fanon, como ele uma ativista pela saúde mental e pela mudança social, nos apresenta neste Retrato uma visão do homem e de sua complexa personalidade, contextualiza seu trabalho e a lucidez crescente de seu pensamento, tanto psiquiátrico como político, expondo cada um dos elos de seu engajamento precoce na luta por um mundo que transcendesse a relação de dominação.
Se alguém acredita que “colonização”, “imperialismo”, “racismo”, “fascismo” são abstrações acadêmicas ou teorizações ultrapassadas, a atualidade da obra de Fanon deveria servir de
antídoto. Autor fundamental para entendermos a psicodinâmica do colonialismo, da violência e do racismo, o “doutor Fanon” passou a vida a encarnar o juramento de sua profissão, combatendo a doença mental e o trauma, e não apenas os que destroem o indivíduo, mas também os que, mais insidiosos, acometem coletividades inteiras, ignorando fronteiras físicas ou culturais e que ainda hoje não têm cura.
ALICE CHERKI
é uma psiquiatra argelina radicada na França. Judia, foi excluída da escola na infância, durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez que o governo colaboracionista de Vichy implementava as políticas de perseguição do regime nazista a quem servia e a Argélia era território francês. Nascia aí para ela a consciência de uma Argélia independente, o que a levou mais tarde, quando já cursava medicina, ao engajamento político. Ao assistir uma conferência de Fanon, ela resolve se juntar à sua equipe. Após a independência da Argélia, foi para Paris concluir seus estudos em psiquiatria e fazer sua formação em psicanálise. É autora de vários artigos e livros, principalmente sobre trauma, imigração e alteridade. Seu La Frontière invisible, violences de l’immigration (Elema, 2006) recebeu o prêmio Œdipe de 2007.
PALAVRAS NEGRAS
A coleção Palavras Negras reúne textos de intelectuais negros e negras, produzidos em diferentes contextos, como o acadêmico e o dos movimentos sociais. O objetivo é lançar e reeditar obras que contribuam para a análise das relações raciais no Brasil, abordando também questões de gênero e classe. Palavras Negras que inspirem reflexões e ações antirracistas.
DA CAPA
Imagem da capa: Retrato de Frantz Fanon.
TRECHOS
“Ele sempre estará entre nós, ele ocupa nossa memória tal como ocupava o espaço. Ele questionava seus interlocutores com seu corpo e com sua voz; ele o fazia [...] não para submeter o outro a uma polêmica estéril, a uma luta em que um saia vitorioso e o outro vencido, mas sim para que eles se engajassem. Sua presença por si mesma suscitava o engajamento crítico do interlocutor, e seu agudo senso de fraternidade colocava de imediato a lúcida apreensão da diferença.”
[FANON E A NEGRITUDE]
Fanon, que tinha dificuldade em desviar-se do olhar dos outros, nunca perdeu de vista seu próprio confronto e reflexão sobre a negritude. Mas ele estava atento ao perigo de isolamento implícito no conceito de negritude; a seu ver, tratava-se de um valor essencialista, de um retorno a uma origem “una e indivisível”, que é impermeável ao tempo e à história. Fanon estava apreensivo sobre as consequências dessa mentalidade. Ele foi, como Guy Sitbon escreveu em seu tributo, um dos últimos internacionalistas.
[FANON E A VIOLÊNCIA]
O único interlocutor e intermediário que a sociedade dominante designa como seu representante no mundo dos colonizados é a política ou a polícia. Já nas sociedades ocidentais, existe um terceiro agente que, embora atue de forma mais ou menos mistificante, cumpre um papel. “O ensino religioso ou laico, a formação de reflexos morais transmissíveis de pai para filho, a honestidade exemplar de operários reconhecidos após cinquenta anos de bons e leais serviços, o amor encorajador que nasce da harmonia e da sabedoria”, funcionam como esse terceiro agente. [...] Mas o maniqueísmo e a impossibilidade de um comportamento verdadeiro imperam nos dois mundos.
Fanon aperfeiçoa a sua descrição do estado psíquico do indivíduo colonizado: a sua culpa não é uma culpa internalizada, mas sim uma vergonha, vivida como uma maldição. É inferiorizado, e mostra-se como tal, sem, no entanto, estar convencido de sua inferioridade. De que modo o indivíduo submetido ao regime colonial pode escapar desse estado? Pelo sonho, decerto, mas sobretudo por meio da tensão permanente de seu corpo. Fanon insiste – não por acaso – no corpo afetado, que não pode se expressar de outra forma senão mediante descargas musculares. Onde se concentra a violência do colonizado? Em descargas motoras impulsivas: matar outro colonizado, realizar um assassinato errático, ou então retornar a lutas tribais, aos “velhos rancores enterrados na memória”.
[FANON E A PSIQUIATRIA]
Parecia-lhe evidente que, no intuito de conter os excessos de um paciente qualificado como perigoso, era necessário cativar aos poucos sua confiança, atraindo-o para um esforço conjunto de trabalho psicológico, em vez de simplesmente chamar a polícia. Em face da violência desse outro mentalmente adoecido, ele oferecia um espaço de negociação por meio da palavra e do reconhecimento. Sabia também que esse tipo de comportamento era expressão de uma violência sofrida no decurso de um processo de formação psíquica, razão pela qual desejava que a resposta terapêutica não fosse, na medida do possível, uma repetição de tal violência. Essa atitude será constante, tanto no Hospital Psiquiátrico de Blida, quanto, ulteriormente, na Tunísia.
SUMARIO
Retrato: Fragmentos de uma Transmissão Revolucionária
Priscilla Santos de Souza
Prefácio
Introdução
Fanon Antes de Blida
A Argélia em 1953
Fanon em Blida
Fanon de Passagem Por Paris
Fanon em Túnis
Fanon e a África
O Último Ano de Fanon
Os Condenados da Terra
O Depois
Fanon Hoje
Restaurar o Trágico (À Guisa de Conclusão)
Posfácio
Notas
Índice
Agradecimentos
FICHA TÉCNICA
Autora: Alice Cherki
Apresentação: Priscilla Santos
Tradução: Rainer Patriota
Coleção Palavras Negras
Assunto: Biografia
Formato brochura
Tamanho: 14 x 19 cm
360 páginas
ISBN 9786555051124
Lançamento 29 julho de 2022
EBOOK
ISBN 9786555051135
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