O Massacre dos libertos: sobre raça e república no Brasil (1888-1889)
Autor: Matheus Gato
Apresentação: Antônio Sérgio Alfredo Guimarães
A História é sempre o resultado de uma escolha. Iluminam-se certos episódios, nublam-se outros, há sempre um presente para se sustentar com os fatos do passado. O futuro porém, está irremediavelmente associado ao passado, que precisa ser revisto e reexplorado para que caminhemos adiante. O Massacre dos Libertos recupera aos brasileiros a violência histórica do racismo e da escravidão no Brasil a partir de dois fatos seminais: a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. E narra o massacre de negros que protestavam em São Luiz do Maranhão temendo que a República recém-constituída lhes retirasse a liberdade recém-conquistada. A partir desse episódio, o texto traça um panorama das reações racistas que se formavam e se incorporavam às estratégias dos senhores brancos para perpetuar o preconceito e a marginalização da população negra pelo mito da “fraternidade racial”.
Uma multidão de negros, cerca de duas a três mil pessoas, se dirige à sede do jornal republicano O Globo em São Luís do Maranhão para protestar contra a proclamação da República que, dizia-se à boca pequena, revogaria a Abolição. Lá, a tropa postada para garantir a lei e a ordem abre fogo contra os manifestantes, matando – números oficiais – quatro pessoas e ferindo várias.
O Massacre de 17 de novembro de 1889 articulou de modo singular os dois grandes eventos históricos do período – a abolição da escravatura e a proclamação da República –, revelando como a questão racial permeou as disputas durante a mudança de regime. Nesse contexto, do fim da ordem senhorial, as classificações de cor e outras categorizações de grupo, típicas do escravismo, foram ampliadas para incorporar as novas ideias raciais, e racistas, vigentes, redesenhando as fronteiras entre os grupos sociais. Matheus Gato aborda como o evento foi silenciado e contado ao longo dos anos. O Massacre dos Libertos desnuda as estratégias narrativas e ações políticas que visaram “apagar” as marcas da escravidão de nossa história em nome de um ideário de “fraternidade racial” que não abriu mão de hierarquizações codificadas pela cor. Um documento dos descaminhos da República, ontem como hoje.
Texto escrito por Antônio Sérgio Alfredo Guimarães para o livro:
Do ponto de vista da gente comum, a República de 1889 não vai mais além da disseminação do trabalho livre, que a Abolição instituíra: a aspiração à liberdade vê-se mesmo ameaçada por várias outras formas de trabalho servil, semisservil, e pelos inúmeros constrangimentos legais, econômicos, políticos, sociais e culturais ao exercício livre da força de trabalho, principalmente no campo. A começar pela ausência de um mercado nacional de trabalho. Nesse sentido, a República representa para a massa de homens recém-libertos o perigo da reescravização, dada a ideologia das camadas sociais que chegam ao poder, ou, se não reescravização, ao menos abandono e exclusão social.
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães é professor titular e pesquisador da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
Sobre o autor:
Matheus Gato é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, foi Fellow da Faculty of Arts and Sciences e no Hutchins Center for African and African-American Researches Studies da Universidade Harvard. Atualmente é professor no departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas. O Massacre dos Libertos é o seu primeiro livro.
Sobre a capa:
A imagem em primeiro plano mostra a famosa tela de Francisco de Goya, O Três de Maio de 1808, mostrando cena de fuzilamento de pessoas do povo, em Madri, que haviam se 'revoltado contra a invasão francesa comandada por Napoleão, e que se tornou um dos grandes símbolos na cultura ocidental das lutas contra a opressão e de denúncia da violência de Estado. No segundo plano, foto do Largo do Carmo, em São Luiz do Maranhão, em 1908, recontextualizando a cena madrilenha, como metáfora do massacre de 1889, que Matheus Gato analisa no livro, dando-lhe uma dimensão universal.
Ficha Técnica:
Autor: Matheus Gato
Apresentação: Antônio Sérgio Alfredo Guimarães
Assunto: História / Sociologia
Coleção: Estudos (E.371)
Edição: 1/2020
Número de páginas: 192
Dimensões: 13,5 cm x 23,5cm
Peso: 0,244 kg
ISBN: 9788527312226
E-ISBN: 9786555050066
Preço E-Book:R$34,90
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