NORDESTE 1817
Estruturas e Argumentos
Carlos Guilherme Mota
Prefácio: Antônio Jorge Siqueira
[coedição com Edições Sesc, selo Diversos 22]
SINOPSE
Cinquenta anos depois de seu surgimento, quando revelava um ainda jovem e promissor historiador, Nordeste 1817 mostrava-se um estudo surpreendente e inovador em sua construção, recuperando um dos mais notáveis episódios do Brasil Colonial, a Revolução Pernambucana, e dando-lhe uma dimensão nacional, com um potencial de transformação muito maior do que a história oficial até então estaria disposta a lhe proporcionar. Hoje, essa obra em particular é tida como um clássico da historiografia brasileira, rompedora de paradigmas, tendo permitido aos brasileiros pensar sua história em seus próprios termos. A parceria com a Edições Sesc coloca o livro dentro das celebrações do bicentenário de nossa independência, no projeto Diversos 22: Projetos, Memórias, Conexões, numa chave de abordagens críticas, como devem ser analisados os eventos e contextos de qualquer nação.
QUARTA-CAPA
A meta: saber o que os insurgentes nordestinos de 1817 pensavam acerca da sua revolução; descobrir as variáveis que interferiram nos diagnósticos realizados naquele momento privilegiado para o estudo da mentalidade nordestina e, em certa medida, brasileira.
Há cinquenta anos, este estudo pioneiro de Carlos Guilherme Mota proporcionou uma notável contribuição, no plano da história da consciência social, para compreendermos, na contemporaneidade, os homens daquele período. Atingida a meta, o texto tornou-se primeiro referência e depois um clássico de nossa historiografia.
Agora, no bicentenário da Independência do Brasil, a editora Perspectiva e a Edições SESC-SP relançam a obra, em edição revista, tornando-a mais uma vez acessível tanto aos historiadores como ao público em geral, cientes de sua relevância para pensarmos e projetarmos o Brasil de qualquer época.Mas também, e principalmente, para aqueles, a grande maioria neste país, que ainda acham que a melhor maneira de combater o racismo é fazendo de conta que ele não existe.
CARLOS GUILHERME MOTA
É mestre e doutor em História Moderna e Contemporânea pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP; 1967 e 1970 respectivamente). Foi professor titular na Universidade Presbiteriana Mackenzie e é professor emérito da FFLCH-USP. Foi consultor e professor visitante nas universidades de Salamanca, Londres, do Texas e na Escola de Altos Estudos (Paris); presidente do Comitê Científico da Universidade Presbiteriana Mackenzie; ex-diretor (fundador) do Instituto de Estudos Avançados da USP; e ex-professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas – IFCH-Unicamp. Membro do conselho editorial da Revista Estudos Avançados (USP), escreveu várias obras, dentre elas Ideia de Revolução no Brasil; Nordeste 1817 (Perspectiva), Ideologia da Cultura Brasileira (Editora 34), História do Brasil: Uma Interpretação (Senac, com Adriana Lopez) e coordenou 1822: Dimensões (Perspectiva) e Viagem Incompleta: A Experiência Brasileira – 1500-2000 (Senac, 2 volumes).
COLEÇÃO ESTUDOS
A coleção Estudos propõe-se a publicar ensaios críticos e pesquisas tratados em profundidade, com sólida argumentação teórica nos mais variados campos do conhecimento. A coleção forma, junto com a Debates, a marca de identificação da editora em nosso mercado.
DA CAPA
Imagem da capa: Brasil (detalhe da região Nordeste). Mapa publicado por John Arrowsmith, Londres, 1832.
O mapa mostra a distribuição política do Nordeste, poucos anos após a Revolução pernambucana. Remete ao caráter regional e nacional da sublevação, como reflex dos anseios de vários extratos da sociedade brasileira.
TRECHOS
DO PREFÁCIO
Antônio Jorge Siqueira
O livro, na minha avaliação, marcará uma inflexão na historiografia dedicada a 1817 em Pernambuco e no país, lançando luzes sobre as incertezas e dúvidas da historiografia em relação ao tema e a seus problemas correlatos. A obra, entre outras qualidades, aventura-se nos escaninhos da história das ideologias e mentalidades tão cara aos luminares dos Annales, como convém, de igual modo, à historiografia da USP, simpática à tradição francesa e a um bom livro, diga-se de passagem.
Na primeira leitura em tela, chamou minha atenção o fato de o título do livro grafar apenas a data “1817”, escondendo aquilo a que estávamos acostumados e que mais lhe dava sentido, até então, ou seja, o epíteto “revolução”. E, mais que isso, também estampava a palavra “Nordeste”, que, na minha leitura, sonegava ou simplesmente escondia aquela outra palavra que nos acostumamos a ler, ou seja, “Pernambuco”, tão cara a Muniz Tavares, a Oliveira Lima, Amaro Quintas e aos novos historiadores, pós Adolfo Varnhagen e João Manoel P. Silva. Bem recentemente, em minha releitura do livro, cheguei à conclusão daquilo que seriam as “boas intenções” do jovem historiador paulista. E posso estar enganado. Cabe aos leitores confirmarem ou não minhas impressões. No meu entendimento, Carlos Guilherme simplesmente pretendia “despernambucanizar” a insurreição ao escrever “Nordeste” e, aliado a isso, pretendia discutir, pôr à prova, passar a limpo, debater, problematizar o conceito de “revolução”, anotando o ano de “1817”, tempos decisivos de um contexto colonial absolutista, escravocrata, estamental e em profunda crise econômica cultural e política. O livro, portanto, trata de um debate teórico e metodológico que não nega nem o caráter inovador, social e político da insurreição, muito menos o mérito do protagonismo pernambucano. Por isso mesmo, a obra é um convite ao debate, na medida em que propõe argumentos, colige palavras, desloca vocábulos, desvenda sentidos, busca conotações, imprime semântica. Sugiro ao leitor ler as p. 117-125, onde o autor debruça-se sobre um momento impar da experiência dos presos, na masmorra baiana, ocasião em que verbalizam com imensas tergiversações o seu lugar e consciência social, na estrutura de uma sociedade estamental.
DA ORELHA
Lilia Moritz Schwarcz
Nordeste 1817 foi datado, pelo historiador Carlos Guilherme Mota, de novembro de 1971. Estávamos em plena Ditadura Militar, e o autor lançava uma obra sobre uma insurreição no Nordeste que, inspirada na linguagem do iluminismo francês, evocava, talvez pela primeira vez, o termo “revolução”. Fazia mais: mostrava como esse era um caminho sem volta, que só poderia desaguar na descolonização. O livro, que se mantém atual, na época virava quase uma metáfora fácil para aludir ao momento autoritário pelo qual o país passava.
Mas o debate é sobretudo historiográfico. Nordeste 1817 comprova como foram os motins nas províncias da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco que anunciaram o movimento de emancipação política. Longe de ter um papel subjugado, e apenas regional, o Nordeste assume um lugar central na análise, e Pernambuco vira estopim de uma dissidência de cunho republicano e separatista – modelo que se repetiria, anos depois, com a Confederação do Equador, que mais uma vez uniu as províncias do Nordeste contra o poder central.
Usando o conceito de mentalidades, da escola dos Annales, o pesquisador investe no estudo dessas rebeliões que marcariam o trânsito do Brasil das margens do Antigo Regime português para os quadros de uma nova potência imperial.
Distante da “lenda dourada da independência”, que narra a monarquia como destino e o projeto conservador como via de mão única, Mota desfoca o eixo da historiografia, que ainda é por demais “sudestina”, e, pautado em documentação inédita, mostra como a emancipação política foi um processo, não uma efeméride às margens do Ipiranga.
DO LIVRO
Aos interesses militares sobrepunham-se os interesses dos donos de grandes lavouras, e cabedais, e Arouche aconselhava – como bom mantenedor do sistema que era – ao conde da Palma a não pôr “em prática a marcha de um regimento inteiro onde há muitos que teriam de perder grandes lavouras, e cabedais que giram no comércio, mas um regimento apenas com praças mais desembaraçadas”.
O esforço de afirmação dos proprietários rurais foi acompanhado, em 1817, por tentativa de ajustamento no processo produtivo. Um reaperto de peças, dir-se-ia. Na Paraíba, por exemplo, deveriam ser detidos aqueles elementos que “em qualquer parte forem achados sem ocupação permanente”. “Os vadios que severamente detestamos” deveriam ter igual fim, segundo proclamação do governo provisório escrita e divulgada a 30 de março107. A integração de todos era sem dúvida a meta da revolução na Paraíba, e condição para a volta à estabilidade. Reajustar o sistema à sua feição, essa a meta da aristocracia rural.
Após a repressão, por outro lado, e ainda durante o ano seguinte (1818), a quietação continuará sendo o objetivo dos representantes da Coroa. Na perspectiva do colonizador absolutista, escrevia o desembargador Osório de Castro a Tomás Antônio Vila Nova Portugal: “enquanto os ânimos não estiverem em toda a quietação, será sempre útil conservar dois batalhões a mais europeus para contrabalançar a tropa da terra, e, nestes, oficiais sempre europeus, havendo um meio de transplantar os do país”.
Em suma, aos antagonismos emergentes no processo de descolonização, as soluções preconizadas pelo representante da Coroa eram de natureza militar, e estreitamente recolonizadoras. Para esse representante das tendências mais conservadoras da contrarrevolução, a ordem seria restabelecida pela força, e não pelo reconhecimento da “política errada” de que falava o general Luís do Rego Barreto, agente da repressão liberal.
O nível da organização militar estava intimamente associado ao da organização do trabalho, como não poderia deixar de ser. E, posto que se tratava de economia baseada na mão de obra escrava africana, a esses móveis se associava toda a problemática relativa aos desajustamentos raciais. Nessa medida é que se pode entender o revolucionarismo dos setores mais radicais à época da revolução, representados por Domingos José Martins e Antônio Gomes do Jardim. A contribuição de regimentos de negros, por eles estimulada, atingia a base do sistema, quer do ponto de vista da atividade produtiva, quer do ponto de vista da organização do poder militar. Arrancados aos seus senhores, os ex-escravos desorganizavam a produção, ao mesmo tempo que se constituíam em nova força: o sistema ficaria duplamente enfraquecido e à beira de uma radical mudança. À beira de uma “formal e inteira sublevação”, como já dissera o artesão baiano Manoel de Santa Anna, revolucionário de 1798.
SUMÁRIO
Prefácio:
Ao Mestre, Com Carinho – Antônio Jorge Siqueira
1. O Tema, a Documentação e o Método
O Tema
A Documentação
O Método
2. O Nordeste Brasileiro, da Descolonização Portuguesa à Dependência Inglesa
O Nordeste e a Conjuntura Atlântica
Antagonismos Sociais
Os Interesses Externos e a Insurreição: Os Novos Laços de Dependência
A Insurreição
3. As Formas de Pensamento Revolucionárias
O Problema e as Dificuldades
Consciência Social: Novas Dimensões em 1817
À Procura da Ordem Perdida
Novos Usos de Velhas Palavras: a Noção de “Classe”
Os Limites da Consciência Social: Mundo do Trabalho
4. As Formas de Pensamento Ajustadas
O Problema
As Bases da Contrainsurreição
Tentativas de Recomposição do Sistema
A Repressão Heterogênea
Os Homens do Sistema e Sua Mentalidade
5. As Formas de Pensamento Reformistas
O Problema
Cabugá: Reformista ou Revolucionário?
Os Advogados e a Revolução
Reformismo e “Liberalismo” no Brasil na Primeira Metade do Século XIX: Aragão e Vasconcelos e Muniz Tavares
Conclusões
Notas
Fontes Utilizadas
Referências
FICHA TÉCNICA
Autor: Carlos Guilherme Mota
Prefácio: Antônio Jorge Siqueira
[coedição com Edições Sesc, selo Diversos 22]
Coleção: Estudos [E.008]
Assunto: História
Formato: Brochura
Medidas: 13,5 x 22,5 cm
320 páginas
ISBN 9786555050981
Lançamento: 08/04/2022
EBOOK
E-ISBN 9786555050998
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