O FANTASMA DA UTOPIA
Arquitetura e Pós-Modernismo, Outra Vez
Reinhold Martin
SINOPSE
Um dos mais brilhantes críticos de sua geração, Reinhold Martin debruça-se sobre o pós-modernismo na arquitetura e analisa suas consequências, com reflexos ainda reconhecíveis na atuação de arquitetos contemporâneos. Tida como uma ruptura em relação ao modernismo, o pós-modernismo teria apostado num certo ecletismo formal e na rejeição do universal. A análise de Martin, contudo, denuncia um fazer arquitetônico, nesse registro de linguagem, ancorado em princípios neoliberais associados a uma globalização corporativa, ressoando uma perda de senso social e uma desvalorização da autonomia da criação projetual como fator de transformação, decaindo a uma condição acrítica de mera reprodução da ordem capitalista. Um fazer, afinal, assombrado pelos fantasmas da utopia. Leitura saborosa e incômoda.
QUARTA-CAPA
Pós-modernismo, na arquitetura, é um termo que designa o discurso e a produção que dominaram a cena internacional de 1970 a 1990, caracterizados pela rejeição do universal e por ser um contraponto crítico ao modernismo.
Nos ensaios de O Fantasma da Utopia, Reinhold Martin reavalia edifícios, projetos e textos pós-modernos, bem como repassa as abordagens críticas de pensadores como Jürgen Habermas e Fredric Jameson. Pensado como “dois espelhos colocados frente a frente”, o início e fim “num diálogo aberto” o livro conecta a arquitetura aos debates atuais sobre biopolítica, neoliberalismo e globalização corporativa, todos assombrados pelo problema da utopia, esse conceito tão dúbio, em busca de uma maneira de pensar e produzir que assentada nos acertos e erros do passado se estruture orientada para as infinitas possibilidades do porvir.
REINHOLD MARTIN
Arquiteto e historiador de arquitetura, professor titular de Arquitetura na Graduate School of Architecture, Planning, and Preservation da Universidade Columbia, onde dirige o programa de doutorado em arquitetura e o Temple Hoyne Buell Center for the Study of American Architecture. É coeditor-fundador da revista Gray Room, autor de The Organizational Complex: Architecture, Media, and Corporate Space e coautor de Multi-National City: Architectural Itineraries.
COLEÇÃO META-ARQUITETURA
A coleção Meta-Arquitetura é dedicada à crítica e historiografia da arquitetura. Busca levar ao leitor textos importantes do debate formal e linguístico do modo de fazer arquitetônico, em seus vários níveis, e sua vinculação com o espaço real e simbólico em que se inserem.
DA CAPA
Imagem da capa: Philip Johnson e John Burgee, Pennzoil Place, Houston, 1976. Foto: Richard Payne, FAIA.
As grandes torres corporativas espelhadas, projetos contratados a grandes escritórios de arquitetura para abrigar grandes corporações, tornaram-se uma metáfora bastante razoável da arquitetura pós-moderna.
TRECHOS
DA APRESENTAÇÃO
Leandro Medrano
O Sesc Pompeia parece nos apresentar uma alternativa entre as utopias de um passado recente e as distopias das cidades-mercadorias. Ele é, como já destacamos, o reverso da provocação artística – “Cultura = Capital” – atualmente presente em suas instalações. Em uma apropriação livre dos conceitos de Reinhold Martin, essa obra parece buscar reverter a “crise de projetação” modernista, e assim buscar outras utopias, distintas das armadilhas ideológicas da Nova Arquitetura local e internacional. Entretanto, o êxito pontual do Sesc Pompeia não se converteu em um sistema teórico-metodológico capaz de acionar as diversas camadas de atuação da arquitetura e do urbanismo no Brasil. A força do “pensamento único”, que viria a impulsionar os modelos econômicos e culturais das últimas décadas do século passado, afastaria as práticas vinculadas à construção do espaço urbano dos ideais de transformação social. Isso gerou uma crise geral na disciplina, que também enfrentou dificuldades em se reorganizar como um instrumento do mercado, como uma prática mercantil sem ilusões artísticas ou ambições revolucionárias. Não há espaço para “espetáculos” arquitetônicos e urbanos em um contexto social marcado pela desigualdade, pelo racismo, pela violência, pela degradação do meio ambiente e pelo descaso com os povos nativos.
DO LIVRO
Por que o pós-modernismo mais uma vez? Não é ou muito tarde ou muito cedo, muito acadêmico ou por demais óbvio, para voltar àquele momento em que a arquitetura foi adotada por tantos pensadores por causa do seu status probatório, como marcação de uma interrupção importante, ou ao menos um desvio, no caminho da modernidade? Hoje, quando a discussão se transformou de tantas formas para o prolongamento, a recuperação ou multiplicação da própria modernidade, qual seria o objetivo de reativar um termo tão vago e aparentemente tão gasto como pós-modernidade ou seu cúmplice cultural, o pós-modernismo?
Falar do pós-modernismo hoje como algo mais do que um fenômeno histórico prescrito ou um fato consumado talvez pareça estranhamente anacrônico ou mesmo limitado. Mas historicizá-lo simplesmente, quer seja como um estágio na intensificação da decadência capitalista, um projeto intelectual coerente ou uma moda passageira, parece igualmente inadequado e, de muitas formas, prematuro. Exatamente essa inoportunidade, essa ausência de sincronicidade com relação às preocupações do presente e àquelas de um passado mais distante têm definido o pós-moderno em suas várias aparências e segue requerendo análise e interpretação. Isso é especialmente verdadeiro agora, quando palavras de ordem do moderno, como “crise”, retornam à cena. Em resumo, do mesmo modo que a modernidade, à qual de muitas formas ainda pertence, o pós-moderno continua a apresentar problemas teóricos e históricos, que abordo aqui através do prisma refrator da arquitetura.
Sob essa luz, a arquitetura aparece como uma cifra em que está codificado um universo virtual de produção e consumo, bem como uma unidade material, um pedaço desse universo que ajuda a mantê-lo. No exato momento em que a chamada arquitetura pós-moderna abandonou a “estética da máquina” do modernismo, ela revelou-se parte de uma nova máquina, bem como uma representação dessa máquina. Este livro é então traduzido, por assim dizer, a partir da arquitetura, com a convicção de que o conhecimento disciplinar permanece profundamente relevante para entender e interpretar esses processos em termos mais amplos. Lido dessa maneira, ele se dirige ao nexo multidisciplinar no qual o pós-moderno e seus subprodutos continuam a circular, por vezes de forma quase irreconhecível.
[...] na arquitetura, pós-modernismo é o termo geralmente usado para indicar o discurso e a produção que dominaram a cena internacional aproximadamente de 1970 a 1990, vindo principalmente, mas não exclusivamente, dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.
Se podemos imaginar algo como o “dinheiro do petróleo”, que papel exerce a arquitetura em sua circulação, se é que exerce algum? Inversamente, que papel exerce a circulação do petróleo como capital na produção da arquitetura, se é que exerce algum? Para evitar equações redutivas entre a arquitetura e o dinheiro ou, mais ao ponto, entre a efemeridade das imagens arquitetônicas pós-modernas e a imaterialidade percebida do capital financeiro, Frederic Jameson sugere que “elaboremos uma série de mediações entre a economia e a estética”, começando com as mediações causadas pelas “novas tecnologias”. Assim intermediadas, a estética e a economia operam como dois entre muitos “níveis” semiautônomos, mas que se interpenetram mutualmente.
O que deve ser feito? Começar do início e reabrir a “questão da habitação”. Lembrar o exemplo da habitação pública como emblemático por excelência da alegadamente fracassada utopia modernista. Lembrar também que isso corresponde a um problema de limite que resume a economia discursiva do pós-modernismo – o problema ostensivo de distinguir o que é real do que não é. As tentativas históricas para enfrentar irracionalidades reais como o fracasso do Estado em abrigar de maneira adequada sua população são, muitas vezes, discursivamente convertidas em fantasmas, como o espantalho chamado “Pruitt-Igoe”. Esses, por sua vez, são invocados como advertências “realistas” contra planos por demais ambiciosos para enfrentar os fracassos em curso. Dessa forma, o pós-modernismo cultural continuou a servir como um manual de treinamento para a abjeção sistemática da vida humana realizada em outras esferas. Uma resposta plausível pode ser, portanto, desrealizar o real. A desrealização, no entanto, deve ser efetuada em dois níveis. Primeiro, interrogando criticamente as “certezas” assumidas pelos realismos anticríticos. E, segundo, restaurando o “irreal” – isto é, a Utopia – ao seu status próprio como uma espécie de performativo. Em outras palavras, a desrealização significa aprender a pensar na intersecção da representação e da produção. E isso significa fazê-lo por meio da mediação de formas culturais, incluindo a arquitetura.
SUMARIO
Apresentação [por Leandro Medrano]
Prefácio à Edição Brasileira
Introdução: Arquitetura e Pós-Modernismo, Outra Vez
1. Território: Do Interior, Externo
2. História: A Última Guerra
3. Linguagem: Meio Ambiente, c. 1973
4. Imagem: Alguma Vez Já Fomos Pós-Modernos?
5. Materialidade: Espelhos
6. Sujeitos: Customização em Massa
7. Arquitetura: O Fantasma da Utopia
Notas
Índice Remissivo
Agradecimentos
Histórico da Publicação
FICHA TÉCNICA
Autor: Reinhold Martin
Apresentação: Leandro Medrano
Tradução: Maria Alice Junqueira Bastos
Coleção Meta-Arquitetura [AU.004]
Assunto: Arquitetura
Formato: Brochura
16 x 23 cm
264 páginas
ISBN 978-65-5505-110-0
R$ 79,90
EBOOK
ISBN 978-65-5505-111-7
R$ 59,90
Lançamento 16 set
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