O TEATRO DE MEU TEMPO
Alfredo Mesquita
Organização: Maria Thereza Vargas, Nanci Fernandes e João Roberto Faria.
SINOPSE
Obra idealizada, mas não publicada, pelo próprio Alfredo Mesquita, um dos grandes animadores da cena teatral paulistana, O Teatro de Meu é agora retomada por Nanci Fernandes (co-organizadora da obra original), com Maria Thereza Vargas e João Roberto Faria, em edição ampliada em relação ao projeto original, com textos que abrangem o período mais fecundo da renovação teatral em nosso país. Em textos curtos, o autor compõe um mosaico representativo do início desse movimento, com seus principais momentos e suas figuras decisivas.
QUARTA-CAPA
Alfredo Mesquita é um nome fundamental na renovação do teatro brasileiro a partir da segunda metade dos anos 1930. Como autor, produtor, diretor, incentivador ele lutou pela sua modernização, o que o levou a criar a Escola de Arte Dramática (EAD), pioneira no ensino técnico de teatro em nosso país. Obra idealizada pelo próprio autor, que não conseguiu concluí-la, a publicação de O Teatro de Meu Tempo – Tempo de Teatro (1936-1968) é agora trazida ao público por três dos principais pesquisadores e historiadores de nossos palcos, em uma edição ampliada com relação ao projeto original, com textos que revelam tanto o posicionamento crítico, como os saberes, dissabores e afetos dessa personalidade que marcou a história cultural do Brasil.
ALFREDO MESQUITA (1907-1986)
Foi um crítico, autor, diretor e produtor teatral, fundador e primeiro coordenador da Escola de Arte Dramática (EAD). De uma influente família paulistana, fundadora do jornal O Estado de S. Paulo, desde cedo enveredou pelo teatro, tendo estudado na França, e se dedicando a partir de 1936 às produções teatrais, como autor ou diretor. Em 1942, Mesquita fundou, com Abilio Pereira de Almeida, o Grupo de Teatro Experimental (GTE), conjunto amador que foi um dos embriões do TBC, criado em 1948. No mesmo ano, criaria também a EAD, pioneira no ensino técnico de teatro do país, como parte de um projeto de desenvolvimento cultural mais amplo, que, a partir da criação da Universidade de São Paulo (fundada em 1934), incluía, além do TBC e da EAD, a Companhia Vera Cruz de Cinema (criada em 1949). A EAD depois foi incorporada à própria USP (em 1969). Era conhecido como “doutor Alfredo” e por meio da sua atuação institucional foi direta e indiretamente responsável pelo surgimento de toda uma geração de grandes atores. Foi autor de várias peças, A Esperança da Família e Noite em São Paulo (ambas de 1936), Em Família, Casa Assombrada (de 1938), Dona Branca (em 1939); e de três livros de contos, A Esperança da Família (Impressora Paulista, 1933), A Única Solução (Jose Olympio, 1939) e Contos do Dia e da Noite (Editora do Escritor, 1977).
COLEÇÃO DEBATES
A coleção Debates dedica-se aos temas contemporâneos e aos debates e polêmicas da atualidade. A mais antiga, junto com a Estudos, e a mais conhecida das coleções da editora, conta com quase 350 títulos, alguns já célebres na literatura de não ficção.
DA CAPA
Imagem da capa: Desenho de Alfredo Mesquita a partir de foto.
TRECHOS
DA INTRODUÇÃO
Convém notar que, tendo nascido em 1907, Alfredo Mesquita testemunhou o auge e a decadência do chamado velho teatro”, expressão aplicada ao teatro profissional da época, caracterizado pelo vedetismo do primeiro ator, ou primeira atriz, pelo desrespeito ao texto e pela inexistência do diretor como responsável pela totalidade da encenação.
Tendo ele viajado várias vezes para a Europa e, principalmente, para a França, conheceu o teatro moderno de grandes artistas e deixou-se influenciar pelas ideias de Jacques Copeau, do qual acompanhou vários cursos.
Partindo dessa vivência europeia, em 1942 criou o Grupo de Teatro Experimental (GTE), com o objetivo de elevar o nível artístico dos espetáculos apresentados em São Paulo. Nessa empreitada, juntou-se a um grupo amador inglês e colocou em prática seus planos que visavam, além de uma renovação cênica, a encenação de clássicos consagrados e a busca por autores que com ele compartilhassem seu projeto de modernização teatral.
DO LIVRO
[...] contava eu à sobrinha, ao sobrinho e seus amigos numa tarde de férias, na nossa fazenda da Louveira. Da beleza, do interesse, do divertimento daquelas representações. Com água na boca, como se costuma dizer, sugerem-me eles: por que, gostando tanto de teatro, como gosto, não tentaria criar um novo teatro amador em São Paulo? Acabara mesmo de fazer uma tentativa teatral com Procópio [Ferreira], que levara, no Teatro Boa Vista, a minha primeira peça, A Esperança da Família.
Por que não organizar uma representação de amadores como aquelas em que não tomara parte, mas que deixaram tanta admiração e saudades? Por que não? Ia tentar. Tentei. Escrevi e fiz representar no Municipal, de São Paulo, por amadores e, entre eles, as jovens e os jovens que ouviam as minhas histórias na fazenda… Noite de São Paulo, fantasia em três atos, passada numa fazenda do interior do nosso estado, com cantos e danças tipicamente nossas [...].
Ninguém, que não tenha vivido aqueles dias, poderá imaginar a euforia, o entusiasmo, a emoção dessa grande vitória! São Paulo tinha enfim uma sala de espetáculos onde poderia continuar a lutar, e em ótimas condições, pela criação de um verdadeiro teatro nacional de alto nível cultural e artístico. Que triunfo! Todas as esperanças tornaram-se de repente possíveis. E o público acorria, enchendo a sala de trezentos e sessenta e cinco lugares, com um palco pequeno, mas bem construído, com recursos de iluminação bastante razoáveis, e tudo isso à disposição dos amadores. Seria ou não justa a nossa alegria, o nosso otimismo, a nossa confiança, aliás, logo em seguida confirmada, nos destinos do teatro paulista?
Como será compreendida e aceita pelo nosso público essa eterna e angustiante espera por Godot, que Beckett exprimiu por meio de um simbolismo a um tempo despido e expressivo? Será que é possível, assistindo-a pela primeira vez, extrair dela todas as verdades que inegavelmente encerra e que a nós, nos parecem hoje, lida e relida a peça um sem número de vezes e ensaiada meses a fio, tão claras e evidentes? Nem todas, com certeza. Mas bastará assistir a uma só representação – quem sabe? − para ser possível deixar-se envolver pela sua atmosfera estranha e inquietante. E essa inquietação será por sua vez transformada numa verdadeira ânsia por penetrar o seu sentido profundo. Daí um esforço intelectual indispensável à transformação dessas primeiras impressões confusas, mas persistentes, em outras tantas respostas ao problema do verdadeiro sentido – ou falta de sentido – da vida, dessa miserável condição humana tal como a pinta, no nosso entender, com toda a razão, Samuel Beckett.
Sua última criação, porém, data de 1965: é a Aldeia, numa fazenda do estado do Rio, doação de amigos seus. Há ali, segundo declarações suas, dois teatros, um para mil e duzentas, outro para quatrocentas pessoas, biblioteca, discoteca, museu, apartamentos para professores e albergue para estudantes. Sem contar, na louvável forma do costume, com auxílio do governo, achava-se a Aldeia, em fins de 1967, em vias de desaparecer. Assim vão as iniciativas culturais em nosso país.
E como é que Cacilda conseguiu tudo isso? Por ter talento apenas? Por seguir o nefasto exemplo da maioria dos artistas que se contenta em interpretar a personagem exteriormente, reproduzindo, com maior ou menor felicidade, um de seus aspectos, verídico talvez, mas o mais fácil, o mais superficial, deixando de lado toda e qualquer complexidade, desconhecendo os seus caracteres mais íntimos e por isso mesmo mais interessantes? Não. Muito pelo contrário. Porque Cacilda é justamente capaz de estudar a fundo a personagem – coisa rara entre nós – esforçando-se, como sempre, por dela tirar aquilo que o autor, consciente ou inconscientemente, pôs dentro dela. Retransmitindo-a depois não só emocional, mas inteligentemente. Porque, além de sensível, Cacilda é sobretudo inteligente e esforçada.
Artista de ética e atitudes verdadeiramente exemplares, Marina [Freire] nunca se negou a levar – no teatro como no cinema ou na TV – este ou aquele papel, por pequeno ou aparentemente sem importância que fosse, trabalhando as “pontas” que lhe couberam com a mesma atenção, afinco e entusiasmo, como se se tratasse de verdadeiros title roles. Para ela, como deveria ser para todo verdadeiro artista, todos os papéis têm a mesma importância, acarretando a mesma responsabilidade profissional e, isso tanto em peças estrangeiras como nacionais de autores contemporâneos: Abílio Pereira de Almeida, Edgard da Rocha Miranda, nos primórdios do TBC, ou, mais recentemente, Jorge Andrade e outros…
SUMÁRIO
Introdução
Minhas Intenções
Parte I
AS ORIGENS
1. Atrizes e Atores de Outros Tempos
2. Leopoldo Fróes – Ou: No Reino do “Caco”
3. As Origens do Teatro Paulista
4. “Temporada Para Intelectuais”, de 1944
5. Notas Sobre a Visita de Os Comediantes a São Paulo
Parte II
1948: CHEGA O TEMPO DO TBC E DA EAD
1. Uma Escola de Arte Dramática em São Paulo
2. No Tempo do TBC
3. Outras Companhias e Artistas Daqueles Tempos
4. Da Carência de Diretores e Autores Nacionais
5. O Papel dos Amadores e o Teatro Brasileiro de Comédia
6. Do Papel Que Ainda Cabe aos Amadores e à Escola de Arte Dramática
7. A Sociedade de Cultura Artística
8. Os Poderes Públicos e as Iniciativas Culturais em São Paulo
9. Teatro Brasileiro
10. “Esperando Godot”: Peça em Dois Atos de Samuel Beckett
Parte III
FIGURAS DECISIVAS DO TEATRO BRASILEIRO
MODERNO
1. Franco Zampari: A Paixão Pelo Teatro
2. Paschoal Carlos Magno, o Embaixador do Teatro
3. Ziembinski, Homem de Teatro Total
4. Abílio Pereira de Almeida, o Ator e o Autor
5. Os Diretores Italianos no TBC
Adolfo Celi
Ruggero Jacobbi
Luciano Salce e Flaminio Bollini
6. Dois Grandes Críticos de Meu Tempo
Décio de Almeida Prado
Anatol Rosenfeld
7. Duas Atrizes, Dois Paradigmas
Cacilda Becker
Marina Freire
8. A Pagu da EAD
9. Ainda Falando de Teatro
Parte IV
1968: A EAD VAI À USP
1. Missão Cumprida
2. Escola de Arte Dramática de São Paulo: 19o Ano
Alfredo Mesquita: Dados Biográficos e Publicações
FICHA TÉCNICA
Autor: Alfredo Mesquita
Organização: Maria Thereza Vargas, Nanci Fernandes e João Roberto Faria.
Coleção: Debates
Assunto: Teatro / Crítica
Formato: Impresso, brochura/dura
Tamanho: 11,5 x 20,5 cm
256 páginas
ISBN 978-65-5505-147-6
Lançamento 19 maio de 2023
EBOOK
ISBN 978-65-5505-148-3
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