O ÚLTIMO STANISLÁVSKI EM AÇÃO
Ensaios Para um Novo Método de Trabalho
Diego Moschkovich
SINOPSE
Além de analisar a atuação do diretor Konstantin Stanislávski em seu período tardio, Diego Moschkovich traz ao leitor a tradução integral e inédita dos estenogramas de aula do grande mestre russo. Disso resulta um material importante para a compreensão do pensamento e da metodologia aplicada por ele em seu último Estúdio, o Estúdio de Ópera e Arte Dramática.
QUARTA-CAPA
É comum dividirmos a trajetória de Stanislávski em dois momentos: o do jovem encenador, romântico experimentador, e o do homem maduro sistematizador, cientificista e criador de um método de trabalho que ficou conhecido em toda parte como “método das ações físicas”. O ÚLTIMO STANISLÁVSKI EM AÇÃO questiona essa cisão e busca contextualizar e apresentar a prática artística e pedagógica de Konstantin Stanislávski em seu último Estúdio.
A partir da sua tradução integral e inédita, com notas e comentários, de dezesseis estenogramas de aulas encontrados nos Arquivos do Museu do Teatro de Arte de Moscou, Diego Moschkovich contextualiza historicamente a criação do Estúdio de Ópera e Arte Dramática, analisa as práticas pedagógicas de treinamento do ator propostas pelo mestre russo e aborda suas experiências na busca da criação de um “novo método de trabalho”, assim como as polêmicas ocorridas após sua morte em relação a esse método. O que avulta, em lugar da imagem do sábio criador e gênio inconteste, é o trabalho incansável de um verdadeiro experimentador, que testava, errava, corrigia, e que, principalmente, nunca teve medo do desconhecido, de avançar rumo às regiões não mapeadas da criação artística.
ORELHA
por Nair D’Agostini
Em 2007, Diego atravessou o Atlântico rumo à Rússia, em busca de uma família de saber. Trinta anos antes, em 1978, eu também me aventurava na busca de raízes que me fizessem pertencente a uma tradição teatral. Enquanto Diego partiu com destino certo, São Petersburgo, eu, ignorando o rumo que tomaria na vasta União Soviética, também ancorei na mesma cidade, que então chamava-se Leningrado. Diego, por escolha própria, e eu, por sorte, em condições históricas diversas, chegamos ao Instituto Estatal de Teatro, Música e Cinema de Leningrado (LGITMiK), renomada instituição estatal de ensino teatral. Ele, na condição de estudante, e eu, na de mestranda. Ali, recebemos uma formação fundamentada no legado do Sistema com mestres de alta competência pedagógica dentro dos princípios do pensamento de Stanislávski.
Apesar do afastamento temporal e dos contextos históricos diferentes em que se deu nossa formação, considero que temos raízes comuns: somos atravessados pelos mesmos discursos, somos filhos da mesma herança, do mesmo saber, que flui e ressoa em nós, que fundamenta as nossas práticas como pedagogos, criadores, pesquisadores e até como artistas-seres humanos, em nossos procedimentos éticos e estéticos.
Já no Brasil, Diego se lança – afoito – aos mais variados experimentos criativos e profissionais. Afirmando-se como investigador criativo no papel de diretor, ele combina seu trabalho como docente e como tradutor de inúmeras obras que integram o conhecimento do teatro russo, do qual somos ainda tão carentes. Investe também em dar continuidade à sua formação acadêmica, e eis que temos em mãos os frutos de seu mestrado, do qual tive o imenso prazer de participar da banca de avaliação. Além da valiosíssima tradução dos estenogramas do último Estúdio de Stanislávski, Diego nos contempla com um estudo aprofundado e uma reflexão sobre esses últimos experimentos do mestre russo. A obra, que agora recebe mais uma edição da parceria do CLAPS com a Perspectiva, vem preencher cada vez mais as lacunas existentes em nosso país da transmissão de um conhecimento essencial para a formação do diretor, do ator criativo e da arte teatral como um todo.
Essa relevante edição é testemunha do quanto Stanislávski foi inquieto na busca por uma arte em processo constante que exige sempre novas investigações, sendo inegável a sua importância para a pedagogia do teatro, para profissionais e estudantes da arte teatral.
SOBRE O AUTOR
DIEGO MOSCHKOVICH é Diretor de teatro, pedagogo teatral e tradutor. Sua formação em Artes Cênicas se deu pela Academia Estatal de Artes Cênicas de São Petersburgo (LGITMiK), e também mestre em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisa as heranças históricas de Stanislávski e Meierhold. Traduziu, pela primeira vez direto do russo para o português brasileiro, Do Teatro, de Vsévolod Meyerhold (Iluminuras, 2012), Stanislávski Ensaia, de Vassíli Toporkov (É, 2016), Análise-Ação, de Maria Knebel (Editora 34, 2016) e Stanislávski e o Yoga, de Serguei Tcherkásski (É, 2019). Fundou e integra o Laboratório de Técnica Dramática (LABTD), grupo de estudos e pesquisa sobre a metodologia da análise ativa.
TRECHOS
(Tchátski se aproxima, olha para Sofia.)
K.S.: Será que esse é o “ver” de que precisamos? Seu olhar foi um tanto ameaçador agora. Tente assumir uma posição que não a obrigue a olhá-lo com olhos assutados, e sim com os olhos com que ela gostaria de olhar. Peça-lhe permissão.
(K.S. levanta-se, olha para os olhos de Sofia, sorri.)
K.S.: Vê que aqui há uma espécie de constatação: “Cheguei, estou aqui…” Eu não apenas olho, mas começo a entender o que usarei para agir: “Diga-me, você me ama?…” Tudo isso junto é o que chamamos de “olhada”. Ela não quer o seu olhar perfurante, mas você quer fisgar o dela. De forma que esse encontro ganha um outro significado, ou seja, a constatação de algo: fazer com que Sofia olhe-o com os olhos que você deseja. (Tchátski olha duramente para Sofia.) Se você olhar para ela assim vai assustá-la. É preciso que haja um “venha aqui”, nesse olhar.
Fujam de qualquer interpretação. Pergunte a si mesmo se [o que você faz] “não está sombrio demais”? Você agora não está olhando para Sofia, mas para um objeto, para um animalzinho numa gaiola.
Percebe que, aqui, você espera que ela se jogue em seus braços, você [entra], olha e… “e então?”
E Sofia?
ASSISTENTE (para ela): Há, aqui, um momento de “como ele pôde vir até aqui?” E depois: “não quero vê-lo”, e, bem nesse momento, ele entra. Ou seja, ela não consegue escapar. Agora, ela quer apenas conseguir se controlar.
K.S.: Ou seja, não se mostrar demais. Você mesma [a atriz] também não está querendo a mesma coisa agora? Percebe que, como ser humano, você não tem esse querer agora. Como fará? Como você faz nos casos em que precisa resolver uma tarefa a partir de uma emoção, mas essa emoção não existe?
SOBRE A CAPA
As capas da coleção são inspiradas nas famosas telas construtivistas de Mondrian do começo do século XX, momento de grande agitação e criação cultural na Rússia revolucionária, período das grandes transformações do teatro naquele país.
SUMÁRIO
Nota da Edição
Introdução ou Houve um Último Stanislávski?
1: O Estúdio de Ópera e Arte Dramática
O Último Estúdio de Stanislávski
O Trabalho de Stanislávski no Estúdio de Ópera e Arte Dramática
Ensaios Sobre um “Novo Método”
Algumas Considerações
2: Estenogramas
Aula Com os Assistentes (30 de Maio de 1935)
Aula Com os Assistentes (4 de Junho de 1935)
Conversa Com Assistentes (5 Novembro de 1935)
Conversa Com Assistentes (9 de Novembro de 1935)
Conversa Com Assistentes (11 de Novembro de 1935)
Primeira Aula Com o Grupo das Seções de Ópera e de Arte Dramática do Estúdio (15 de Novembro de 1935)
Segunda Aula Com o Grupo das Seções de Ópera e de Arte Dramática do Estúdio (17 de Novembro de 1935)
Aula Com os Assistentes Sobre “O Mal de Pensar” (19 de Novembro de 1935)
Aula Com os Assistentes do Estúdio (25 de Novembro de 1935)
Aula Com o Estúdio – Seções de Arte Dramática e Ópera (5 de Dezembro de 1935)
Aula Com o Grupo de Assistentes (7 de Dezembro de 1935)
Aula Com o Grupo de Assistentes (13 de Dezembro de 1935)
Aula (27 de Abril de 1937)
Aula (25 de Maio de 1937)
Conversa Com os Formandos da Faculdade de Direção do Gitis, Depois da Apresentação dos Atos I e II de “As Três Irmãs”
Conversa Com os Pedagogos Sobre o Método de Trabalho do Estúdio (22 de Maio de 1938)
Apêndice:
Aula Com o Grupo de Assistentes (13 de Outubro de 1937)
Bibliografia
Agradecimentos
COLEÇÃO CLAPS
Centro Latino-Americano de Pesquisa Stanislávski
A iniciativa do Teatro Escola Macunaíma em parceria com a editora Perspectiva traz ao leitor brasileiro livros sobre a prática e o treinamento para estudantes e profissionais ligados às artes da encenação, tendo como pano de fundo a obra e a atuação fundamentais do grande mestre russo, Constantin Stanislávski, cujo método e cuja atuação como diretor pensador foi inaugural para o teatro moderno e contemporâneo. Os títulos são selecionados pela comissão editorial do Claps.
FICHA TÉCNICA:
Autor: Diego Moschkovich
Coleção: Claps – vol. 05
Assunto: Teatro
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 121 cm
336 páginas
ISBN: 978-65-5505-060-8
E-ISBN: 978-65-5505-061-5
Preço E-book: R$ 54,90
Lançamento: 28/05/2021
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