RACISMO SEM RACISTAS: O Racismo da Cegueira de Cor e a Persistência da Desigualdade na América
Autor: Eduardo Bonilla-Silva
Prefácio: Silvio Almeida
Tradução: Margarida Goldstajn
A brutal e fatal abordagem a George Floyd por quatro policiais nos Estados Unidos em junho, gerando protestos antirracistas por todo o planeta, é terrivelmente simétrica àquela que sofreu uma comerciante negra em São Paulo imobilizada por um policial pisando em seu pescoço um mês depois. A face mais terrível e covarde do racismo mostra-se quando está naturalizada e operacionalizada pelas instituições e representantes do Estado, sem que que pareçam manifestamente racistas. O livro de Bonilla-Silva mostra com clareza as formas e a intensidade do racismo estrutural impregnado na sociedade norte-americana. E na brasileira, por extensão, porque as similitudes são evidentes. Se quisermos desmontar as estruturas da desigualdade, conclui o autor, teremos de desmantelar as estruturas de poder, opressão, dominação e preconceito. Porque são uma e mesma coisa.
QUARTA-CAPA
Ao eleger Obama em 2008, os Estados Unidos da América pensavam ter deixado para trás o racismo institucionalizado que caracterizara sua história. Hoje, sabe-se que o que ficou para trás foi essa ilusão.
Racismo Sem Racistas é um livro para quem quer entender como o racismo se perpetua, consciente ou inconscientemente disfarçado em um discurso contestatório do politicamente correto.
Mas também, e principalmente, para aqueles, a grande maioria neste país, que ainda acham que a melhor maneira de combater o racismo é fazendo de conta que ele não existe.
Eduardo Bonilla-Silva, professor de sociologia na Universidade Duke, demonstra, com base em análises de casos e pesquisas de campo, como o discurso e a noção de que a cor da pele não importa (o “racismo da cegueira racial”) vêm sendo instrumentais para a permanência do preconceito. Ele desmascara os argumentos, as frases feitas e as narrativas que os brancos nos EUA usam para justificar a desigualdade racial. Esse não é, no entanto, um problema circunscrito a norte-americanos, como sabemos e como a polícia (daqui como de lá) constantemente nos lembra.
“Democracia racial” por definição, o Brasil tem larga experiência em disfarçar o racismo na sisudez das planilhas dos economistas. Inconveniente como todo bom cientista social, Bonilla-Silva nos faz reconhecer o racismo nosso de cada dia – nos outros, mas também em nós mesmos.
SOBRE O AUTOR
EDUARDO BONILLA-SILVA é Professor de Sociologia na Universidade Duke, formou-se na Universidade de Porto em Sociologia e Economia em 1984. Desde cedo, seu trabalho acadêmico se vinculou a um intenso ativismo social. Em seu artigo de 1997, “Rethinking Racism: Toward a Structural Interpretation”, na American Sociological Review, provocou os cientistas sociais a abandonar o solo estéril da problemática do preconceito. É autor de White Supremacy and Racism in the Post-Civil Era (2001); White Out (2003), com Woody Doane; White Logic, White Methods: Racism and Methodology (2008), com Tufuku Zuberi; The State of White Supremacy: Racism, Governance, and The United States (2011), com Moon-Kie Jung e João H. Costa Vargas, entre outros. Foi duas vezes vencedor do prêmio Oliver C. Cox, dedicado às obras que dão uma contribuição distinta e significativa para a erradicação do racismo, em 2002 e 2009; indicado com Racismo Sem Racistas como Choice Outstanding Academic Title (Título Acadêmico de Destaque) pela American Library Association (ASA) em 2014, que lhe concedeu ainda os prêmios Lewis A. Coser, dedicado aos sociólogos cujo trabalho estabelece novos parâmetros no campo da sociologia e Cox-Jonson-Fraser, em 2011, por sua atuação em prol da justiça social.
SOBRE O AUTOR DO PREFÁCIO
SILVIO ALMEIDA é mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Em suas obras, trabalha com conceitos de autores como Sartre e György Lukács. Em seus textos, questões sobre minorias e desigualdades costumam ser abordadas sob a perspectiva jurídica, incluindo "ativismo judicial", o papel dos poderes e a atuação das polícias. Atualmente, ocupa o cargo de professor da graduação em Direito e da pós-graduação em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie; professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, ambas em São Paulo; e de professor visitante na Universidade Duke, nos Estados Unidos da América. É presidente do Instituto Luis Gama. Publicou, entre outros, "Racismo Estrutural".
DA CAPA
Imagem da capa: intervenção de Banksy sobre grafite de Jean-Michel Basquiat, 2017.
A naturalidade da abordagem policial a uma pessoa negra retratada na imagem dá uma dimensão da violência do racismo que se convencionou chamar estrutural nas sociedades modernas. A polícia e a ordem legitimadas pelo Estado age para manter um estado de brutalidade e criminalização da pessoa negra, pelo simples fato de ela ser negra.
TRECHOS
DO PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA – Por Silvio Almeida
Que não se confunda o argumento central do livro com a ideia de um “racismo cordial” ou “racismo velado”, ou mesmo de que o “racismo Jim Crow” (defesa aberta da ideia de supremacia branca) tenha deixado de existir. Não é disso que se trata, mas de algo bem mais sofisticado. O que Bonilla-Silva destaca é que a mudança na forma de manifestação do racismo está diretamente atrelada a mudanças estruturais na sociedade estadunidense e, por consequência, na ideologia racial. O racismo aberto e declaradamente segregacionista que motivou a luta pelos direitos civis não está eliminado, mas cedeu passo a um novo racismo, “que se utiliza da linguagem do liberalismo” para negar o peso do racismo na desigualdade, colocando-o sobre os ombros do indivíduo que não teria “o preparo necessário exigido pelo mercado” ou cuja cultura não se adaptaria “aos exigidos padrões de desempenho”. Ou seja, a constituição de sujeitos raciais no novo racismo não tem como base um discurso de inferioridade biológica ou moral, mas um discurso de desempenho. Como ressalta o autor, sob a égide do racismo da cegueira de cor, a desigualdade entre brancos e não brancos é justificada pela “dinâmica de mercado” ou “de fenômenos que ocorrem naturalmente e das limitações culturais imputadas aos negros” e latinos. É o enigma desse “racismo sem racistas” que o livro se esforça para desvendar de modo minucioso.
DO LIVRO
Encerrei meu ensaio sobre a utopia racial com uma afirmação aparentemente contraditória: afirmei que a utopia racial não será verdadeira a menos que ela tenha como objetivo despedaçar a matriz social (e talvez global) de dominação, isto é, até que veja como seu objetivo final a abolição de todas as formas de dominação. Para leitores do tipo “George, o Curioso”, que se perguntam: “Se você acredita nisso, por que falar de todo jeito sobre utopia racial?”, a resposta está na história da dominação racial e na necessidade de ser realista sobre o que acontece quando não se pressiona muito para promover uma agenda racial. A história demonstra amplamente que se alguém começa com universalismo, o universal irá refletir os interesses dominantes dos grupos que lideram um movimento social. Como Fanon ponderou em voz alta, “O quê? Mal abri os olhos que tinham sido cegos e alguém já quer me afogar no universal?”
A despeito de eu acreditar com sinceridade em políticas de coalizão e ter participado de muitas na minha vida, também acredito que grupos baseados exclusivamente numa orientação de raça, gênero e sexo devam manter suas próprias organizações e independência. Se minorias raciais, mulheres, ou gays e lésbicas não exigem solução para as suas questões específicas, os movimentos sociais radicais provavelmente não incluirão suas preocupações na agenda.
SUMÁRIO
Prefácio à Edição Brasileira, por Silvio Almeida
Agradecimentos
Prefácio
1 - O Estranho Enigma da Raça na América Contemporânea
2 - O Novo Racismo:
3 - Os Enquadramentos Centrais do Racismo da Cegueira de Cor
4 - O Estilo da Cegueira de Cor:
5 - “Não Consegui Aquele Emprego por Causa de um Homem Negro”:
6 - Espreitando a Casa (Branca) da Cegueira de Cor:
7 - Todos os Brancos São “Archie Bunkers” Refinados?:
8 - Negros Também São Cegos à Cor?
9 - E Pluribus Unum ou o Mesmo Perfume Antigo em um Novo Frasco?
10 - Da Obamérica à Trumpamérica
11 - Conclusão: O Que Deve Ser Feito?
Notas
Bibliografia
Índice Remissivo
COLEÇÃO PALAVRAS NEGRAS
A coleção Palavras Negras reúne textos de intelectuais negros e negras, produzidos em diferentes contextos, como o acadêmico e o dos movimentos sociais. O objetivo é lançar e reeditar obras que contribuam para a análise das relações raciais no Brasil, abordando também questões de gênero e classe. Palavras Negras que inspirem reflexões e ações antirracistas.
Conheça os demais livros da coleção aqui.
Ficha Técnica:
Autor: Eduardo Bonilla-Silva
Prefácio: Silvio Almeida
Tradutor: Margarida Goldstajn
Coleção: Palavras Negras
Assunto: Sociologia
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 19 cm
512 páginas
ISBN: 9786555050295
E-ISBN: 9786555050288
Lançamento: 27/08/2020
1 x de R$134,90 sem juros | Total R$134,90 | |
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