TRILOGIA DO CONFINAMENTO
Namíbia, Não!
Embarque Imediato
Campo de Batalha
Autor: ALDRI ANUNCIAÇÃO
Ilustrações: Rodrigo Chedid / Bicho Coletivo
Prefácio: Leda Maria Martins
Apresentações: Lázaro Ramos, Cleise Mendes, Dione Carlos e Luiz Marfuz
SINOPSE
Com sua pena ágil, inteligência, intensidade dramática e humor, Aldri Anunciação enfrenta as questões do racismo, da negritude e da diáspora negra em profundidade, com um texto extremamente bem costurado e acessível, oferecendo a leitores de idades diferentes, do jovem ao adulto, inúmeras camadas de entendimento e debate. Vencedor do Jabuti, o dramaturgo, ator e apresentador surge como um dos mais nítidos talentos da atualidade. Um trabalho que, pelo uso do espaço segregado como metáfora da opressão e por sua dimensão psicológica, dialoga com os tempos sombrios do distanciamento social e isolamento compulsório trazidos pela crise sanitária do coronavirus, o que termina por nos envolver por completo em sua luta identitária e antirracista.
QUARTA-CAPA
O que é ser negro? Como é ser negro?
Por que ser negro em confronto com uma sociedade que se quer ver branca?
Nas três peças de Aldri Anunciação que a Perspectiva apresenta nesta Trilogia do Confinamento, o negro entra em cena sem samba nem pobreza, sem estereótipos fáceis, de distinta apenas a cor da pele – essa tela na qual uma sociedade que se quer branca e de valores eurocêntricos projeta seus medos e fracassos.
Num “hoje” prorrogado indefinidamente e espacialmente restrito, há sempre dois. Dois primos escondidos em um pequeno apartamento, para escapar de um decreto de extradição da população de “melanina acentuada”. Dois cidadãos, retidos sem saber por que em uma sala do aeroporto. Dois soldados, captados no intervalo de uma batalha, interrompida por falta de munição. A normalidade em crise – como uma pandemia que interrompe a engrenagem e isola seus atores – produz o absurdo das situações. Os diálogos a um só tempo ágeis e reflexivos geram um embate dramático, mas ainda bem-humorado, de visões de mundo, a partir de ângulos inusitados e inesperados, que conduzem o leitor a pensar a si e o mundo a sua volta. Como uma obra de arte deve fazer, pois é disso que se trata.
Afinal, em algum lugar o encantamento tem que ser depositado.
SOBRE O AUTOR
O baiano Aldri Anunciação é dramaturgo, roteirista, ator e apresentador de TV. Fez a graduação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (PPGAC-UFBA). Namíbia, Não! foi encenada pela primeira vez em 2011, no Teatro Castro Alves, e publicada no ano seguinte, conquistando o primeiro lugar do prêmio Jabuti de Literatura na categoria juvenil, edição de 2013. Escreveu ainda outras sete peças: O Campo de Batalha: A Fantástica História de Interrupção de uma Guerra Bem-Sucedida, que estreou em 2015 no palco do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo; Embarque Imediato, que teve sua primeira apresentação em 2020, no Teatro Anchieta, no Sesc em São Paulo; A Construção; A Mulher do Fundo do Mar; Inventário Gusmão: Crônicas de uma Biografia Imaginada; Antimemórias de uma Travessia Interrompida; e Pele Negra, Máscaras Brancas: De Como Esquecemos Aquilo Que Somos (inspirada nas teorias psiquiátricas de Frantz Fanon). Como roteirista, participou da equipe do longa-metragem Medida Provisória e dos programas de TV Conexão Bahia e Conversa Preta (pela TV Bahia/Rede Globo). Iniciou-se como ator profissional nos espetáculos Os Negros, de Jean Genet, dirigido por Carmen Paternostro, e O Sonho, de August Strindberg, com direção de Gabriel Villela. Mais recentemente, atuou nos longas-metragens da Rosza Filmes Café Com Canela (2016) e Ilha (2018), pelo qual ganhou o Candango de Melhor Ator no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Recebeu ainda a comenda do Mérito Cultural, em 2014, por suas contribuições para as artes e pela idealização e realização do Festival Dramaturgias da Melanina Acentuada e da Plataforma Melanina Digital, que catalogam e estudam dramaturgias negras.
DA CAPA
Imagem da capa: ilustração de Rodrigo Chedid.
Uma pessoa negra atrás de uma janela ou de uma cela de prisão? A ambiguidade da imagem denota a angústia, a ideia de limiar, amplificadas pelos letreiros que ajudam a trazer uma sensação de confinamento, com o qual temos todos hoje, após a crise sanitária do coronavirus, alguma familiaridade.
TRECHOS
COMO RESPIRAR
Leda Maria Martins
Presos em uma espacialidade-limite, os dois indivíduos se encontram confinados pelos dilemas impostos por essa condição e pelas tensões que ora distendem ora comprimem essa clausura, assim como ora os aproxima, ora os distancia, devido às suas reações díspares e contraditórias face às circunstâncias que os engolfam. Afloram nesses cenários conflitos de ideias, posturas, atitudes e reações dos sujeitos, expandindo os níveis e o alcance de seu desconforto e de seu desespero.
Os embates ocorrem em três instâncias básicas e basilares da articulação dramática. O ponto de partida é sempre motivado por uma interferência externa objetiva, que funciona como mola propulsora dos debates dramatizados pelas personagens encapsuladas. Há sempre um conflito com uma instância externa, objetiva, um comando diretor, seja ele um decreto, uma autoridade aeroportuária ou os gestores de uma guerra, que funciona como um algoz inacessível que se apresenta e se impõe por uma voz em off, dispositivo ampliador do poder autoritário, socialmente impositivo; há também um conflito interpessoal entre os dois indivíduos e, mais ainda, um embate interno, íntimo, que se processa no âmbito das percepções conflituosas dos sujeitos com relação a eles mesmos. O dentro/interior do espaço de clausura é disruptivo e disjuntivo, de efeito, inicialmente, paralisante.
DO LIVRO
Namíbia, Não!
ANTÔNIO: Meu Deus, isso não pode estar acontecendo! Eu estou perdendo meu curso. Estou sem telefone, sem noticiário, sem internet. (Desesperado.) Sem poder sair de casa. Que loucura! Estamos presos! O que vamos fazer?
ANDRÉ (hirto): Talvez a única alternativa seja se entregar. Mas, ainda assim, eu tenho medo da ação da polícia.
ANTÔNIO: Como assim? Você está pensando em se deixar levar pra África?
ANDRÉ: Por que não? Eu só tenho medo de ir pra delegacia. Quando estive lá ontem de madrugada, eu vi o tratamento que é dado. Só isso que me assusta. Mas acho que devemos voltar pra África. Lá é o nosso lugar!
ANTÔNIO: Meu lugar é aqui! Foi aqui que eu nasci, primo! Está maluco? Ir pra África?
ANDRÉ: Ir, não! Voltar… voltar pra África! Não foi de lá que nossos parentes vieram? Então estamos voltando.
ANTÔNIO: Que ideia repentina é essa, André? Ainda agora você me segurou pra não sair de casa, que eles iriam me pegar e levar pra África!
ANDRÉ (interrompendo): Mudei de ideia! E eu te segurei porque eu sei que eles vão te tratar muito mal, primo. Eu sei! (Estrategista.) Quero arranjar um jeito… de não ser capturado pela polícia. (De súbito.) E tem mais, pra mim o Brasil já deu o que tinha que dar. Não quero mais ser tratado do jeito que fui recebido ontem na delegacia!
ANTÔNIO: Você está desistindo, André? Só porque perdeu no Concurso Pro Curso Preparatório Pro Concurso Pra Diplomata de Melanina Acentuada do Itamaraty? É isso?
ANDRÉ: Cansei dessa história de melanina acentuada… de melanina exaltada… destrambelhada! Melanina deslocada!
ANTÔNIO (surpreso): O que é isso, André? Você vai aceitar essa Medida Provisória desastrosa, que acha que está fazendo um favor pra gente? (Irritando-se.) Não vai me dizer agora que você quer ir… pra aquela terra estranha?
ANDRÉ (surpreso): Como assim, terra estranha? Vai querer negar agora? Vai negar sua origem? Sua cultura?
ANTÔNIO (irritado): Eu não estou negando nada! Somente estou lhe dizendo que a África pra mim, hoje, é um continente estranho. Não conheço ninguém lá!
ANDRÉ: E nossos parentes que ficaram lá?
ANTÔNIO: Devem estar cagando pra mim! Cagando pra você! Assim como o mundo caga pra eles! Eles não sabem quem nós somos, André! Você acha o quê? Que a gente vai chegar lá e vai ser recebido com honrarias no aeroporto? (Antônio pulando pela sala, em alegria irônica.) Fogos de artifícios pra receber os parentes que se foram séculos atrás e nunca mais mandaram notícias?
ANDRÉ: Não mandaram notícias, vírgula! Temos instituições seríssimas que sempre estudaram as relações africanas com o Brasil. Contato sempre tivemos!
SUMÁRIO
COMO RESPIRAR? Breve Olhar Sobre a Dramaturgia de Aldri Anunciação [Leda Maria Martins]
Namíbia, Não!
Que Bom Que Ele Permanece! [Lázaro Ramos]
O Futuro em um Espelho [Cleise Mendes]
Saudade ou Alívio?
[Peça]
Embarque Imediato
Um Embarque Necessário [Dione Carlos]
Identidade Suspensa
[Peça]
O Campo de Batalha:
A Fantástica História de Interrupção de uma Guerra Bem-Sucedida
Uma Trégua Feita de Pólvora, Palavras e Paralisia [Luiz Marfuz]
Debate de Ideias no “Front”!
[Peça]
Apêndice: Fichas Técnicas de Estreia dos Espetáculos
COLEÇÃO PARALELOS
A coleção Paralelos já lançou textos de Hilda Hilst e Zulmira Ribeiro Tavares, é voltada a romances e contos, alguns já consagrados em seu país de origem, como o humorístico A Baleia Mareada, de Efraim Kishon, outros de autores renomados, como Mosché Schamir (Rei de Carne e Osso), Aharon Appelfeld (Expedição ao Inverno) ou os prêmio Nobel Sch. I. Agnon (Contos de Amor) e Isaac Bashevis Singer (O Golem), além de também abrir espaço a novos autores como Ili Gorlizki (Tehiru) e Sonia Azevedo (Odete Inventa o Mar)
Conheça os demais livros da coleção aqui.
FICHA TÉCNICA:
Autor: Aldri Anunciação
Ilustrações: Rodrigo Chedid / Bicho Coletivo
Prefácio: Leda Maria Martins
Apresentações: Lázaro Ramos, Cleise Mendes, Dione Carlos e Luiz Marfuz
Coleção: Paralelos
Assunto: Teatro / Ficção
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
248 páginas
ISBN: 9786555050325
E-ISBN: 9786555050332
Preço de capa ebook: R$ 34,90
Lançamento: 14/09/2020
1 x de R$77,40 sem juros | Total R$77,40 | |
2 x de R$40,74 | Total R$81,47 | |
3 x de R$27,62 | Total R$82,86 | |
4 x de R$21,07 | Total R$84,27 | |
5 x de R$17,14 | Total R$85,69 | |
6 x de R$14,52 | Total R$87,12 |