Vivendo de Brisa
A História Inventada do Compositor Geraldo de Matos
Fernando Marques
Posfácio: Diógenes Maciel
SINOPSE
Comédia musical em dois atos, Vivendo de Brisa retrata o ambiente do Rio de Janeiro de “fins da década de 1930 a meados da década de 1940”, período em que o rádio reinava absoluto e o samba ganhava as multidões, por meio da trajetória de ascensão e queda profissional e “amorosa” de um jovem negro, aspirante a compositor, o sambista Geraldo de Matos – livremente inspirado na figura dos compositores x. Fernando Marques cria uma crônica musical que traz à vida, com humor, mas sem condescendência ou romantismo, a era do rádio, então o grande veículo de massas. Ressurge diante de nossos olhos a época em que viveram e trabalharam os primeiros grandes nomes da nossa música popular, com detalhes do funcionamento do mercado fonográfico, com todos os seus vícios – alguns dos quais perduram até hoje –, e também as relações pessoais baseadas na exploração profissional e no machismo explícito.
Os diálogos ágeis e a qualidade das canções prendem a atenção do espectador – e agora também do leitor – e são bem-sucedidos em evocar o contexto social e cultural em que a ação se passa, um tempo que marcou nosso panorama cultural e deixou um legado duradouro em nossa música.
As partituras das canções do espetáculo integram o volume e o leitor poderá acessar as músicas utilizando o QR code ou o link que constam do livro. O espetáculo Vivendo de Brisa foi apresentado em Brasília em junho e julho de 2019, e teve recursos do fundo de apoio à cultura (FAC) da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.
QUARTA-CAPA
Vivendo de Brisa, Comédia Musical em Dois Atos é um lançamento editorial ímpar em todos os sentidos: em primeiro lugar porque se inscreve dentro de um gênero que é inseparável da própria história política e cultural do país em todos os seus períodos ao longo dos séculos XIX e XX. Em segundo, porque Fernando Marques, além de cultor desse gênero, é um talentoso compositor, letrista e dramaturgo, sendo também um nome de referência no campo de pesquisa sobre o teatro musical no Brasil. E em terceiro, porque se trata de um trabalho que supre a lacuna que observamos em decorrência da escassez de edições voltadas à dramaturgia musical brasileira.
Contextualizada no Rio de Janeiro do final dos anos 1930 e o início dos anos 1940, Vivendo de Brisa acompanha a trajetória profissional e sentimental de um jovem aspirante a sambista profissional nos anos da ditadura Vargas. Situar o enredo nesse momento histórico é uma escolha estratégica e significativa de Fernando Marques, pois direciona o foco de atenção do leitor e do espectador para uma era em que o rádio havia se estabelecido como o grande veículo de massas, e em que o mercado cultural ia pouco a pouco se configurando e deixando suas marcas na fisionomia do país. A matéria histórica apresentada ganha expressão e enquadramento épico nas canções, cujas partituras integram o volume. O leitor poderá ouvir as músicas utilizando o acesso que consta do livro.
Maria Silvia Betti [Professora e pesquisadora livre-docente sênior da FFLCH-USP]
FERNANDO MARQUES
José Fernando Marques de Freitas Filho é professor do Departamento de Artes Cênicas da Universidade de Brasília na área de Teoria Teatral, escritor e compositor. Doutor em Literatura pela UnB com tese sobre teatro musical. Pós-doutorado em Literatura e História na Universidade de Lisboa com pesquisa sobre ideias humanistas. Publicou Retratos de Mulher (poemas), Contos Canhotos, A Comicidade da Desilusão (sobre Nelson Rodrigues), Com os Séculos nos Olhos (sobre os musicais políticos), A Província dos Diamantes: Ensaios Sobre Teatro, e os textos teatrais Zé: Peça em um Ato e Últimos: Comédia Musical (livro-CD). Autor da comédia A Quatro, encenada em Brasília. Colaborações em jornais e revistas, entre eles o Correio Braziliense (de 1997 a 2013), o site Teatrojornal e a revista Dramaturgia em Foco.
ORELHA
Vivendo de Brisa, levada ao palco pela primeira vez em 2019, é uma das recentes produções dramatúrgicas do brasiliense Fernando Marques, cuja obra encontra-se profundamente ligada ao teatro musical brasileiro, especialmente o produzido nas décadas de 1960 e 1970. Inspirada livremente na figura dos compositores Wilson Baptista e Geraldo Pereira, a peça retrata, de modo irreverente, a ascensão e queda do compositor e malandro Geraldo de Matos. Negro, de origem pobre e vindo do interior, ele enfrentará, como boa parte dos compositores de samba da época, todos os percalços para chegar ao sucesso no disputado ambiente musical do Rio de Janeiro, mais especificamente o de “fins da década de 1930 a meados da década de 1940”. Como é sabido, muitos desses compositores, para serem gravados e tocados nas rádios, tiveram que compartilhar a autoria do próprio samba com intérpretes famosos. Mas nem por isso Fernando opta pela idealização do seu protagonista: como típico malandro da época, Geraldo apresenta um caráter duvidoso, principalmente nas suas conturbadas relações amorosas. O que se vê é uma personagem que ora encanta, com seus belos sambas, ora causa indignação com seu comportamento antiético. Tive a oportunidade de assistir à montagem da peça, em Brasília, e posso afirmar que o texto se realiza plenamente como comédia musical. As composições imprimem ao espetáculo um vigor e um ritmo envolvente, além de realçarem o espírito criativo, sonhador e problemático do protagonista.
Os diálogos ágeis, em prosa, cheios de expressões e gírias da época, contribuem para prender a atenção do espectador e transportá-lo ao contexto social e cultural em que a ação se passa. Mas basta a simples leitura do texto para se ter uma ideia da sua indubitável qualidade dramatúrgica.
Geraldo Lima [Escritor, dramaturgo e roteirista]
TRECHOS DO LIVRO
[Primeiro Ato, Cena 2, p.22]
MOREIRA
Eu gravo, gravo mesmo, rapaz, na primeira oportunidade. Se eu gostar — e se você me der parceria. Está acompanhando o raciocínio?
GERALDO
O senhor quer parceria?
MOREIRA
É a regra do jogo, meu filho.
GERALDO
Mas eu fiz a música toda. Letra, melodia. E harmonizei no violão.
MOREIRA
(Faz menção de ir embora.) Bom, se você preferir, pode procurar o Orlando...
[Primeiro Ato, Cena 6, p. 37-38]
GERALDO
Jandira! O que é isso? Onde é que nós estamos, minha... minha flor!
SUELI
(Para si mesma.) Flor?
JANDIRA
Flor é o caralho!
GERALDO
(Impaciente; o efeito do álcool sumiu.) Olha a linha, Jandira...
JANDIRA
Linha? Você disse que me amava, disse!
GERALDO
Querida, eu estava apenas...
JANDIRA
Você estava se esfregando nessa, nessa...
SUELI
Esfregando não! Nós estávamos...
GERALDO
(Que abraça Jandira e ao mesmo tempo faz gesto apaziguador
para os presentes.) Só dançando!
JANDIRA
(Sem ouvi-lo.) Na hora disse que me amava! Era só na hora, era?
GERALDO
(Procurando levá-la para fora do salão.) O que é isso, Jandira, meu amor... Você não seria capaz de duvidar de mim. Seria?
[Segundo Ato, Cena 6, p.81-82]
GERALDO
Quanto tempo. (Pausa.) Não sabia que você cantava.
JANDIRA
Pois é. Vai ver que eu sou apenas produto da sua imaginação de poeta.
GERALDO
(Levanta-se e dá início à lenta aproximação; aponta para ela e brinca.) Pode até ser imaginação, mas que quadris! (Muda de tom.) Vieram me dizer que você estava definhando, sumindo, e é o contrário. A separação te fez bem.
JANDIRA
(Depois de um silêncio.) A gente se casou faz um século...
GERALDO
(Incomodado com a lembrança do compromisso.) São reminiscências do passado — como diria o Sinhô.
JANDIRA
Sinhô?
GERALDO
Um velho conhecido. Já morreu.
JANDIRA
Sei. (Pausa.) E você, como vai?
GERALDO
Levando.
JANDIRA
E como vai a Sueli?
GERALDO
(Outra vez constrangido; canastrão.) Jandira... Sueli nunca significou nada para mim.
SUMARIO
Personagens
Duas Palavras
Primeiro Ato
Segundo Ato
Ficha Técnica da Estreia
Partituras
Posfácio
Canções da Comédia Musical: Créditos
FICHA TÉCNICA
Fernando Marques
Posfácio: Diógenes Maciel
Música / Teatro musical
Impresso em brochura
15 x 20 cm
176 páginas
ISBN 978-65-5505-211-4
Lançamento 9 dez
EBOOK
ISBN 978-65-5505-212-1
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