A CENA EM SOMBRAS
Leda Maria Martins
SINOPSE
Num texto primoroso, Leda Maria Martins nos traz em A Cena em Sombras, em segunda edição, os corpos negros em todas suas riquezas, potencialidades, movimentos e significações. Para além do teatro negro, cujas premissas e desenvolvimentos são aqui muito bem estabelecidos e que traz as cenas estadunidense e brasileira para compor sua análise crítica, o ensaio carrega memórias, afetos, ritos e mitos que entrecruzam diáspora negra atlântica com a tradição, a ancestralidade e a cultura africanas em uma encruzilhada.
O teatro negro representa aqui a resistência, a resiliência e a cultura afro-atlânticas como um jogo de signos e espelhos entre o palco e a vida cotidiana de negros e negras em confronto com os racismos e em reação aos preconceitos e processos de invisibilização e apagamentos de suas memórias ancestrais.
Com uma nova introdução a esta segunda edição, “Uma Vez, um Livro”, que estabelece a força insurgente do corpo performático, Leda reafirma neste já clássico estudo a potência da arte, do gesto político, da vigília, da ação e da negrura na construção de um país onde todos e todas caibamos.
QUARTA-CAPA
A Cena em Sombras é um dos mais originais e instigantes textos sobre o problema da negritude, tal como ele se projeta e se propõe no palco do teatro negro no Brasil e nos Estados Unidos. Em dois movimentos, a autora traça, de início, um perfil do negro como signo dramático no cânone teatral dos dois países, mapeando a seguir a história da constituição do Teatro Negro nos contextos visados. Por fim, a análise volta-se para temas do teatro e mito e teatro e rito, terminando pelo enfoque na fabulação da persona e na construção da máscara dramática, o que constitui não só a concretização do teatro como do universo dramático e da personagem, ou seja, a do negro no drama-performance de seu existir no mundo brasileiro e estadunidense. Visão que descerra as cortinas de um espetáculo de opressão, preconceitos e injustiças, reencenado há séculos este mundo afora, o livro de Leda Maria Martins traz um aporte significativo e universal à discussão dos vários pontos de vista envolvidos neste dramático tema social e humano, motivo pelo qual a editora Perspectiva o incluiu na coleção Debates. [J.G., 1995]
LEDA MARIA MARTINS
Poeta, ensaísta, dramaturga e professora. Doutora em Letras e Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e mestre em Artes pela Indiana University, nos Estados Unidos, com pós-doutorado em Performances Studies pela New York University, Tisch School of the Arts, e em Performance e Ritos pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Foi professora da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal de Ouro Preto – Ufop e professora visitante da Tisch, além de diretora de Ação Cultural da UFMG (de março de 2014 a março de 2018). Atua nas áreas de artes cênicas, literatura comparada, performances e estudos culturais. Publicou vários livros, capítulos de livros e de ensaios no Brasil e no exterior, com destaque para Cantiga de Amares (1983); O Moderno Teatro de Qorpo-Santo (Editora UFMG/Ufop, 1991); A Cena em Sombras (Perspectiva, 1995 e 2023); coeditora da Callalloo (v. 18, n. 4, Johns Hopkins, 1995, Special Issue: African Brazilian Literature); Afrografias da Memória (Perspectiva/Mazza, 1997 e 2021); Os Dias Anônimos (Sette Letras, 1999); Performances do Tempo Espiralar, Poéticas do Corpo-Tela (Cobogó, 2021). Em 2017, foi criado o prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte, patrocinado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG.
COLEÇÃO DEBATES
A coleção Debates dedica-se aos temas contemporâneos e aos debates e polêmicas da atualidade. A mais antiga, junto com a Estudos, e a mais conhecida das coleções da editora, conta com quase 350 títulos, alguns já célebres na literatura de não ficção.
DA CAPA
Imagem da capa: intervenção sobre foto de Ruth de Souza em cena.
O QUE DIZ A AUTORA
Muitas vezes, ao escrever, a minha própria experiência me assaltava, irrompendo na fala das minhas personagens, dublando sua voz. Desse modo, senti a dor de Emanuel, a ira de Ismael; prendi-me nas torres de Clara e sonhei os desejos de Clay. Ouvi os tambores que clamavam Jinga e tremi na angústia de seu corpo paralisado. Vivi a travessia do navio negreiro e aterrorizei-me com a passagem sepulcral, amaldiçoando os grilhões que nos aviltam. Cantei os spirituals e os blues, diverti-me com a farsa dos menestréis e delirei no jogo carnavalizado das aparências. Celebrei, com emoção, os congadeiros. Revi, ali, minha experiência vivida nesse lugar de desvios e superposições, em que, desde criança, senti a cena da minha alteridade negra ser festejada com fulgor, suturando, sem dor, minha cendida humanidade
TRECHOS
Meu objeto de análise – o Teatro Negro – foi-se constituindo em mim pela memória de imagens e referências, pelo visto e vivido, pela reflexão e, também, pelo encantamento. Mais ainda. A teatralidade de formas expressivas da cultura negra vem-me fascinando e seduzindo há muito. No Brasil, através dos congados e reinados, das escolas de samba, de jogos corporais, como a capoeira, dos ritos afros, da expressão brejeira do olhar mascarado. Mais tarde, os spirituals, os blues, o serviço religioso das igrejas negras, os desfiles de New Orleans, nos Estados Unidos, despertaram, em mim, memórias de ritmos e formas brasileiros, antes ainda que o primeiro contato com o texto dramático do Teatro Negro capturasse minha atenção. A posterior reflexão teórica sobre essas formas de expressão artísticas e culturais forneceu-me subsídios fundamentais para a leitura e volição do texto dramático convencional e para sua interpretação crítica.
Em variados níveis de manifestação e inserção contra ideológica, os negros estadunidenses, apesar do apartheid e do racismo institucional – e talvez por causa deles mesmos –, sempre fomentaram a edificação de instituições paralelas, criando verdadeiros bolsões culturais de resistência e estímulo a várias atividades teatrais, artísticas, políticas, educacionais e religiosas. A literatura, por exemplo, testemunha o percurso singular do escritor negro, que se utilizou dramaticamente da escrita como veículo de autonomeação e de afirmação racial. No crivo da escritura, desenhava-se o próprio crivo de uma humanidade que o sistema de apartheid procurava negar e abafar. A inscrição e a escrita alternativas instauram, assim, uma literatura sui generis, que descentra os símbolos universais eleitos pela intelligentsia nacional, recompondo-os por meio de formas e mitemas de origem africana. O black English, essa fala emblemática, tipicamente afro-estadunidense, é, possivelmente, o eco mais visível dessa desterritorialização e desse descentramento [...].
É importante observar, ainda, que o poder de Exu de se multiplicar indefinidamente, sua natureza histriônica, representa a possibilidade de inscrição de uma pluralidade de significados no processo dos discursos. Em Sortilégio, esse movimento e essa função estão sugeridos na própria formulação das metamorfoses de Emanuel. É Exu quem desloca a enunciação da personagem, reinventa sua figuração e dinamiza o movimento que propicia a efusão dos significados barrados pelas máscaras sociais. Assim sendo, Exu é o próprio princípio da semiose, o que, na concepção peirceana do termo, corresponderia a um terceiro, o termo mediador entre o signo e sua referência, o objeto. Ele é princípio linguístico que liga, no processo da significância, o sujeito e o predicado e torna possível a elaboração e a geração de sentido [...].
Nas peças aqui estudadas, o texto ritual, advenha ele de uma matriz religiosa ou profana, é utilizado como um modelo básico, um pré-texto organizador de sentido. Considerando Sortilégio, Além do Rio e Slaveship como “objetos representados ou a representar, como signo-teatral, palavra proferida”, pode-se inferir uma série de significantes que produzem uma imagem cênica e um discurso dramático singulares, em muito similar ao teatro ritual-africano, entre eles: a concepção espaço-temporal; a caracterização plástica do cenário; a composição gestual, de movimento e ritmo; a coreografia de tons cadenciados; o jogo de luzes e sombras na construção de uma atmosfera propícia ao envolvimento psicológico e sensorial da personagem e do público; a utilização ostensiva de signos olfativos, táteis, sonoros e visuais; além do englobamento da plateia numa totalidade partici- pativa e pulsional.
SUMARIO
Uma Vez, um Livro
Prefácio – Laura Cavalcante Padilha
Desejamos Ainda ao Falar do Que Amamos
Parte I
EFEITOS DE LINGUAGEM
1. O Negro na Cena Imaginária do Branco
2. Negro Que Te Quero Negro
Parte II
UMA COREOGRAFIA DA DIFERENÇA
1. Ipadê, Ato de Encontro
2. Negro e Branco na Coreografia do Desejo
A Cena do Imaginário
Sombras de Imagens
Caliban, Corpo de Exu
Referências Bibliográficas
Agradecimentos
FICHA CATÁLOGO
Leda Maria Martins
Prefácio: Laura Cavalcanti Padilha
Edição: 2. ed.
Coleção: Debates
Assunto: Teatro
Formato: brochura/dura
Tamanho: 10,5 x 20,5 cm
232 páginas
ISBN 978-65-5505-159-9
R$ 69,90
Lançamento 15 set
EBOOK
ISBN 978-65-5505-160-5
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