A ESCRITURA PELA RASURA
A Crítica Genética em Busca de Outros Saberes
Philippe Willemart (org.)
Outros autores: Edson de Prado Pfützenreuter; Patrícia Kiss Spineli; Celso Loureiro Chaves; Yuri Cerqueira dos Anjos; e Roberto Zular
Prefácio: Filomena Juncker
SINOPSE
Ao lidar com o texto literário editado e publicado confrontado com anotações, marcas e rabiscos e o processo de construção do texto, a crítica genética descortina o processo de criação em sua profundidade. Tal ciência, tendo avançado e ganhado musculatura com uma metodologia bem estruturada, não é de estranhar que passa a ser aplicada a outras formas de saber e de linguagem que envolvam algum processo de criação. Este livro trata de demonstrar as possibilidades de se esmiuçar os processos criativos de vária áreas do conhecimento humano para além da literatura, em busca da lógica que estrutura a construção do saber nas sociedades humanas.
QUARTA-CAPA
A crítica genética nasceu da curiosidade em se saber como um determinado texto escrito é gerado, gestado, desde seus primeiros rascunhos, passando pelo diálogo entre o autor e possíveis interlocutores que de alguma forma possam tê-lo impactado na construção de sua obra. Hoje, no entanto, sua abordagem, seu método, pode ser aplicável a um sem-número de produtos culturais, como seria de se esperar numa era digital: qualquer processo criativo pode ser objeto de estudo. Se sua aplicabilidade invade outros campos, nada mais necessário do que estabelecer diálogo com outros saberes.
A Escritura Pela Rasura: A Crítica Genética em Busca de Outros Saberes traduz com desembaraço esse espraiamento, ao aproximar Proust e Einstein, psicanálise e inteligência artificial, as novas mídias, os algoritmos e os velhos manuscritos, a música, a antropologia e a filosofia de Vilém Flusser na saudável inquietação de repensar significantes e significados.
PHILIPPE WILLEMART
Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), cofundador da Associação dos Pesquisadores em Crítica Genética, membro da Laboratório do Manuscrito Literário da USP e da equipe Proust do Institut des texttes et manuscripts modernes do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). É autor de, entre outros, Psicanálise e Teoria Literária (2014) e A Escritura na Era da Indeterminação (2019).
CELSO LOUREIRO CHAVES
Compositor e pianista, é professor titular de Composição Musical e História da Música do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
EDSON DE PRADO PFÜTZENREUTER
Doutor em Comunicação e Semiótica, é professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
PATRICIA KISS SPINELI
Doutora em Artes Visuais pela Unicamp. É professora da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
ROBERTO ZULAR
Poeta, tradutor e professor de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (USP).
YURI CERQUEIRA DOS ANJOS
Professor de Língua e Literatura Francesas na Universidade Victoria, em Wellington, Nova Zelândia, e especialista na obra de Marcel Proust e na cultura escrita dos séculos XIX e XX.
COLEÇÃO ESTUDOS
A coleção Estudos propõe-se a publicar ensaios críticos e pesquisas tratados em profundidade, com sólida argumentação teórica nos mais variados campos do conhecimento. A coleção forma, junto com a Debates, a marca de identificação da editora em nosso mercado.
DA CAPA
Imagem da capa: detalhe de Cy Twombly, sem título, 1957. Coleção Berardo, Centro Cultural de Belém, Lisboa.
TRECHOS
DO PREFÁCIO
O leitor não iniciado em crítica genética também é, de fato, convidado a dar uma olhada na gênese dos textos dos grandes escritores. Ele se deixará surpreender com a “vida enigmática dos manuscritos”, tão bem “iluminada” por Roberto Zular, e entrará em contato com as várias instâncias que, segundo Willemart, intervêm no ato da escrita. Ele será informado do papel fundamental dos rascunhos, onde rasuras, reticências, hesitações aparecem como múltiplos travestis de um silêncio em busca de bifurcações fertilizantes. Mas o leitor assistirá sobretudo a confrontos pertinentes e inesperados entre diferentes formas de inteligibilidade (um lugar considerável é reservado à inteligência artificial), aos quais parecem incitar as páginas de alguns grandes autores (Proust, Valéry…). Confrontos que se concentrarão todos no mesmo objetivo: uma melhor compreensão de um universo comum, cujo mistério reativa constantemente a imaginação e desafia os mais incríveis avanços científicos.
DO LIVRO
1.
Pergunto em primeiro lugar: já que não podemos evitar os algoritmos, como conviver com eles e com a IA sem perder nossa autonomia, sabendo, no entanto, que o conceito de autonomia também é problemático? Essa será a primeira pergunta, preliminar. Parece claro que, ao acessarmos a internet pelo smartphone, tablet ou computador, somos emoldurados por uma série de algoritmos que nos avaliam e que pretendem conhecer nossos sentimentos, nossa orientação sexual, nossos gostos, nossas aspirações, e nos sugerem livros, viagens, hotéis e produtos6, tomando por base a crença ilusória de que nossas aspirações passadas serão as do futuro. Em segundo lugar, pergunto se a inteligência artificial pode nos ensinar algo sobre os processos de criação dos escritores. Haveria semelhanças entre a abordagem do cérebro, a do geneticista, e a do pesquisador em inteligência artificial?
2.
Ao buscar entender o lugar do jogo no pensamento de Flusser, a hipótese aqui levantada é a de que o lúdico marca uma maneira própria de estar no mundo, sem se integrar alienadamente a ele, mas, ao mesmo tempo, sem negá-lo e sem esquivar-se dele. Em suas palavras, um modo de existência de um ser “sem chão”, que por não fincar raízes pode se deslocar, ser livre e jogar. Jogando é possível estar dentro e fora a um só tempo. É possível não se negar a ser sujeito do mundo, mas também não se deixar tomar como objeto. Estar dentro para conhecer e estar fora para pensar. Jogar seria a única maneira viável de exercício de liberdade. Um modo de ser que pode se traduzir na passagem do Homo sapiens para o Homo ludens.
3.
A reflexão sobre os contatos entre o mundo midiático e o mundo manuscrito nos permite colocar em xeque o sistema binário de oposição que demarca limites entre a escrita manual e impressa, entre o texto em gestação e o texto publicado, entre prototexto e texto. Sob essa perspectiva, a escrita é vista como um processo mutante e transversal, feito de idas e vindas, retomadas e retrocessos que não só se traduzem dentro dos limites de um suporte em particular, mas atravessam diversos suportes e revelam conexões profundas entre eles. Os diversos exemplos, momentos históricos e conceitos aqui abordados buscaram mostrar como os processos de escrita não são necessariamente lineares ou cíclicos, nem fechados em um certo momento ou suporte da criação.
SUMÁRIO
Prefácio – Filomena Juncker
Introdução
PARTE 1: A CRÍTICA GENÉTICA E A CIÊNCIA [por Philippe Willemart]
Crítica Genética e Astrofísica: O Fora do Tempo Proustiano e a Física Depois de Einstein
Genética, Psicanálise e Neurociência
A Inteligência Artificial e a Crítica Genética: Como Conviver Com os Algoritmos e a IA?
A Inteligência Artificial Pode Concorrer Com a Arte?
Artes e GPT-2, GPT-3-Wu Dao 2.0
Crítica Genética e Linguística: A Rasura no Manuscrito. Repensar o Significante
PARTE 2: FLUSSER, ANTROPOLOGIA, MÍDIA, MÚSICA E CRÍTICA GENÉTICA
Entre Potencialidades, Acasos e Extrapolações: Uma Visão do Processo de Criação em Flusser [por Edson de Prado Pfützenreuter e Patrícia Kiss Spineli]
Gêneses Musicais [por Celso Loureiro Chaves]
O Manuscrito, o Impresso e as Mídias: Possíveis Aproximações [por Yuri Cerqueira dos Anjos]
À GUISA DE CONCLUSÃO:
Por uma Antropologia da Escritura – Crítica Genética e Pensamento Antropológico [por Yuri Cerqueira dos Anjos]
POSFÁCIO: Do Estado Quântico à Escritura Pela Rasura [por Philippe Willemart]
Bibliografia
FICHA TÉCNICA
Philippe Willemart (org.)
Outros autores: Edson de Prado Pfützenreuter; Patrícia Kiss Spineli; Celso Loureiro Chaves; Yuri Cerqueira dos Anjos; e Roberto Zular
Prefácio: Filomena Juncker
Coleção Estudos
Crítica literária / Literatura
Formato brochura
13,5 x 22,5 cm
208 páginas
ISBN 978-65-5505-123-0
R$ 64,90
Lançamento 25 de novembro
EBOOK
ISBN 978-65-5505-124-7
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