AVENTURAS DE UMA LÍNGUA ERRANTE
Ensaios de Literatura e Teatro Ídiche
J. Guinsburg
Prefácio: Peter Pál Pélbart
SINOPSE
Uma impressionante viagem através do tempo, revelando a história e a riqueza cultural associada ao ídiche, de como ela se desenvolveu gerando grandes obras no teatro e na literatura, de como mediou as grandes controvérsias ideológicas e religiosas das comunidades judaicas do centro e leste europeu, de como atravessou o Atlântico para ajudar a reorganizar a vida dos grupos exilados de suas terras natais até chegar perto da extinção. Língua-resistência, língua-diáspora, língua-passaporte. Língua errante.
QUARTA-CAPA
O ídiche foi a língua franca falada pelos judeus da Europa do Leste e Central durante séculos até o genocídio perpetrado pelo Holocausto eliminar 90% de seus falantes. Àquela altura, o idioma já não era apenas usado em trocas do dia a dia, mas também ditava outras áreas da cultura, colaborando em uma enorme atividade literária e teatral, disseminada principalmente nas Américas (EUA, Brasil, Argentina). Nessa diáspora, como em qualquer outra, em que a consciência coletiva do imigrante está sempre em vias de desagregação, como ressalta Kafka, o idioma e sua literatura adquirem a função de ser a voz de um povo, uma voz muitas vezes revolucionária.
Em Aventuras de uma Língua Errante: Ensaios de Literatura e Teatro Ídiche, J. Guinsburg, um dos maiores estudiosos do ídiche entre nós, recupera essa rica tradição e nos apresenta a história arrebatadora da trajetória do ídiche, de sua formação na Idade Média até a vigorosa produção cultural e ideológica contemporâneas. Para tanto, visita as realizações singulares da literatura e do movimento teatral judaico e de sua arte da encenação, em suas múltiplas correntes, desde a disputa entre os iluministas da Haskalá e os religiosos do hassidismo no século XIX até a conflitante convivência entre comunistas e sionistas. Trata-se de um roteiro de viagem pessoal que resgata para o leitor brasileiro aspectos ainda pouco conhecidos de uma cultura a um só tempo ancestral e moderna.
JACÓ GUINSBURG (1921-2018)
Teve uma larga atividade crítica e universitária no campo da literatura e do teatro. Tradutor de Descartes, Diderot, Nietzsche e Sartre, assim como de Strindberg e An-Ski, é ainda autor, dentre muitas outras obras, de Stanislávski e o Teatro de Arte de Moscou; Leone de Sommi: Um Judeu no Teatro da Renascença Italiana; Da Cena em Cena e Semiologia do Teatro (com J. Teixeira Coelho Neto e Reni Chaves Cardoso).
Como editor, fundou a Perspectiva em 1965, com as coleções Debates e Estudos, pioneiras ao trazer para o Brasil autores das Humanidades ainda não difundidos entre nós (como Umberto Eco e Erich Auerbach) e foi igualmente responsável pela publicação da coleção Judaica, amplo painel em treze volumes do pensamento e da criação literária do povo de Israel através dos séculos, com destaque para nomes como I.L. Peretz, Gershom Scholem, Scholem Aleikhem (de quem traduziu Tévye, o Leiteiro, obra que deu origem à peça O Violinista no Telhado), S.I. Agnon, Martim Buber, Franz Kafka, Isaac Bashevis Singer, entre outros.
Tendo sido professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), este Aventuras de uma Língua Errante é desdobramento de seu trabalho de doutorado nessa universidade, enriquecido por sua intensa atividade ensaística, constituindo-se numa importante chave para o conhecimento de um universo de cultura e valores quase ignorados em nosso meio – o discurso ídiche.
Esta nova edição da obra faz parte das comemorações conjuntas da Editora Perspectiva e do SESC-SP do centenário de nascimento de Jacó Guinsburg
PERSPECTIVAS
A coleção Perspectivas reúne textos importantes, em pesquisa extensa na abrangência do assunto. Contempla biografias, história, arte, antropologia e literatura.
DA CAPA
Imagem da capa: cena de Noite no Mercado Velho, de I.L. Peretz, encenada pelo Teatro Judeu de Estado, Moscou, 1925.
A imagem, filtrada pelo carmim, traz a energia e o vigor do teatro ídiche como representação da potência criadora da língua.
TRECHOS
DA APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO
Peter Pál Pélbart
A erudição estonteante, a capacidade de restituir a cada autor sua vivacidade própria, a cada obra sua singularidade, a cada corrente sua perspectiva original, e cada movimento ao seu contexto histórico mais amplo, fazem dessa obra monumental uma oportunidade de mergulhar num pluriverso de uma riqueza inebriante. Mas a marca maior deste livro está em detectar as relações sempre complexas e reversíveis entre os indivíduos que escrevem na “língua errante” e as desventuras e aspirações do “povo errante”.
Ao comentar a obra de Scholem Aleichem, um dos maiores expoentes dessa literatura, Jacó Guinsburg nota que ali estamos diante “de um modo de ver, de sentir, de pensar e relatar como se todo aquele mundo falasse por uma só boca e escrevesse com uma só pena. É um impressionante fenômeno em que a criação individual se transmuta na representação coletiva, a palavra poética no gestus social”
DO LIVRO
O impacto da catástrofe também se estende a outros acordes deste livro de Bainákhtike G[u]est” (Visitantes Noturnos) que rondam o poeta clamando pelo resgate de seu mundo perdido e lhe inspiram uma lírica de evocações espectrais. Por destruição e por irrealização, o sofrimento e a frustração tecem aqui uma escritura de perda de fundamento e sentido da existência e das coisas. Não se trata, pois, exclusivamente das “sobras de vida” do sobrevivente – tema que sobreleva na literatura ídiche após o Holocausto e que a converte numa espécie de “sobrevida” de si mesma – porém da vida simplesmente e, mais ainda, da vivência alienada da condição humana e do artista na sociedade contemporânea, onde o espírito e a visão criadora vergam com asas de chumbo, sem poder levantar voo “No Estábulo da Vida”:
Meu pobre Pégaso vai a pé.
Eu como ele – ambos já esquecemos como voar.
O mundo é muito pequeno,
o mar está secando.
Eu encilhei o pequeno cavalo bravo no estábulo da vida.
Agora nos arrastamos ambos passo a passo.
Quem abateu suas asas?
Quem roeu a ponta de minha pena?
O sol se põe, as vidraças brilham sangrentas.
Eis que se acaba o sol. Eis que se acaba minha vista.
Vamos, linhas, disponham-se, levantem-se.
Vocês são minha guarda e também meus comandantes.
Não consigo transpor a cerca de teias de aranha e de pó
e meu campo se torna cada vez mais escuro, mais estreito.
De que serve jactar-se, de que serve?
De que serve amassar história após história?
Pégaso, não fique muito perto do monte de feno.
Você pode, Deus o livre, tornar-se um burro de dragonas.
SUMÁRIO
Apresentação à Segunda Edição [por Peter Pál Pelbart]
Agradecimentos
Nota de Edição
A Intenção
Considerações e Desconsiderações
Uma Língua-Passaporte
O Problema da Periodização da Literatura Ídiche
Origens da Literatura Ídiche
1. O PERÍODO DOS MENESTRÉIS
2. O PERÍODO DAS MORALIDADES
3. ORIGENS DO TEATRO POPULAR ÍDICHE
4. O SCHTETL
5. HASSIDISMO E HASCALÁ
6. O PERÍODO MODERNO
De Mendele a Peretz
De Kasrílevke a Nova York: Scholem Aleikhem
A Paz Seja Convosco
I.L. Peretz: A Escritura do Moderno
Os Bróder-Zíng[u]er
A Estreia do Ator Ídiche: Israel Gródner em Duas Versões
Abraão Goldfaden – O Fundador do Teatro Judeu Moderno
O Olhar do Outro – Um Singular Drama Hebreu
Scholem Aleikhem no Teatro
O Drama Poético: Peretz
Um Interregno Teatral
Simon Dubnov: O Autonomismo Cultural
Haim Jitlóvski: O Territorialismo Idichista
Ber Bórokhov: O Sionismo Marxista e Idichista
7. A GERAÇÃO PÓS-PERETZIANA
Raisen
Pínski
Nomberg
Asch
Peretz Hírschbein
Sch. An-Ski
Um Dibuk nas Asas do Absoluto
8. AMÉRICA, O NOVO ESPAÇO DO ÍDICHE
A Poesia Proletária
Imprensa e Teatro
A Renovação da Lírica Ídiche
Os Iung[u]e
Outros Iung[u]e
In Zikh
Lêivick, o Poeta da Consciência Judaica Moderna
Um Panorama Entre as Duas Guerras
O Mameloschn em Crise
Do Herói Bandido ao Santo Herói – Opatóschu
A Linguagem da Modernidade na Poesia Ídiche
Di Fraie Iídische Folksbine
Iídischer Kunst Teater
Dos Naie Iídischer Kunst Teater
O Artef
9. A Literatura Ídiche na União Soviética: À Sombra do Stalinismo
10. A POLÔNIA ENTRE AS DUAS GUERRAS: UMA EXPLOSÃO CULTURAL DO ÍDICHE
Varsóvia
Vilna
Polônia, Um Palco do Teatro Ídiche
Vilner Trupe
O Vikt
Iung Teater
Kleinkunst
11. ROMÊNIA
12. OUTROS CENTROS
França
América do Sul – Argentina, Brasil
13. A LITERATURA ÍDICHE EM ISRAEL
14. UM ÚLTIMO ELO? – ISAAC BASHEVIS SINGER
Glossário
Índice Remissivo
FICHA TÉCNICA
Autor: J. Guinsburg
Prefácio: Peter Pál Pélbart
Assunto: Teatro/Literatura/História
Coleção: Perspectivas
Formato: Brochura
Dimensões: 16x23 cm
528 páginas
ISBN 9786555051001
e-ISBN 9786555051018
Lançamento: 18/03/2022
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