O ESTADO DO EXÍLIO
Os Judeus, a Europa, Israel
Danny Trom
DESCRIÇÃO CURTA
Um livro sobre a natureza do Estado de Israel. Nele, Danny Trom discute as condições da formação do Estado em relação ao exílio dos judeus, suas implicações políticas e sociais, a falta de uma Constituição e como tudo isso repercute hoje na visão que o mundo tem do país e na que os israelenses tem de si mesmo.
SINOPSE
O livro aborda a identidade do Estado de Israel, país que enfrenta uma crise de identidade e definição, refletindo sua complexa relação com o exílio e a diáspora judaica, bem como sua relação com a comunidade internacional. Danny Trom destaca como a falta de uma Constituição em Israel gera incertezas, argumentando que Israel é um substituto moderno para o Estado-nação europeu, pautado pela identidade e não pelo apego ao território. Para ele, a experiência dos judeus europeus é fundamental para entender a formação do Estado, uma vez que este é tributário de um anseio idealizado naquele continente para dar resposta a uma desilusão daquela comunidade, e a polarização política atual reflete a luta entre diferentes visões sobre o que Israel, no fundo, representa.
O autor defende que o Estado de Israel deve reavaliar seu papel na configuração global do povo judeu, tendo em vista que a divisão entre judeus israelenses e aqueles na diáspora se acentuou, como a partir do 7 de outubro demonstrou, trazendo à tona a fragilidade da segurança coletiva dos judeus.
Sem um novo entendimento sobre o Estado de Israel seu futuro está em jogo, e ele deve reafirmar sua conexão com a experiência histórica dos judeus para evitar se tornar um Estado étnico insignificante.
QUARTA-CAPA
Por trás do mito de formação, do relato glorioso sobre um povo que se organiza em torno da ideia de estabelecer na terra de suas origens um Estado nacional moderno e vigoroso que põe m a uma história de perseguições e perigos, Danny Trom nos oferece uma visão bem menos edulcorada e bem mais conflituosa da história da construção do Estado de Israel, explorando suas grandes contradições e disputas, suas enormes e duradouras fragilidades, como a ausência de uma Constituição, e o relacionamento conturbado entre os diversos e divergentes grupos e vozes internos e da diáspora.
Ele mostra como uma sucessão de eventos atropelou a construção muito improvável dos consensos e como, no dissenso radical tanto dos judeus do exílio como dos da Palestina, o “devaneio” de Theodor Herzl se fez, pela urgência, realidade naquele lugar e naquelas condições.
DANNY TROM
Sociólogo francês, é pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), tendo passado pelo Institut Marcel Mauss (LIER-FYT), ligado à École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), em Paris.
De início, Danny Trom fazia uma sociologia do ambiente e dos problemas urbanos. Mais tarde, concentrou-se nas experiências dos coletivos políticos modernos, com especial atenção ao Estado, repensando a articulação entre a pesquisa sociológica e a teoria política. Nesse contexto, situa-se seus escritos sobre as complexidades da experiência política e da identidade judaica na Europa.
É professor na Universidade de Lausanne e codiretor do seminário “Judeus e Europa” na EHESS. Atua como editor adjunto da revista K. e como membro do comitê editorial da revista Raisons Pratiques, publicada pela EHESS.
É autor de La Promesse et l’obstacle (2007); Persévérance du fait juif (2018); La France sans les juifs (2019); além deste O Estado do Exílio (originalmente publicado em 2023).
A QUESTÃO JUDAICA CONTEMPORÂNEA
Esta coletânea propõe uma contextualização crítica e uma análise situada das múltiplas con gurações identitárias, políticas e simbólicas da questão judaica contemporânea, considerando os desdobramentos do ataque do Hamas em ‑ de outubro de a Israel e a subsequente resposta militar israelense em Gaza.
ORELHA
Mas o que é o Estado de Israel? […] Ora, imaginar uma resposta ao que esse Estado é supõe considerá-lo à luz da condição exílica dos judeus, da qual ele é o produto e que, em contrapartida, reconfigura com sua própria existência. Embora seu surgimento em 1948 tenha sido geralmente entendido como o avanço da política em uma trajetória judaica apolítica, os termos da análise precisam ser invertidos, pois a política judaica sempre existiu. Ela tem sido alimentada por uma dialética entre uma política de autoproteção no exílio e uma política de saída do exílio, comumente chamada de “messianismo”. Uma política do presente, que responde às necessidades urgentes do momento, e uma política do futuro, precipitando-se numa restauração, sempre se opuseram e se combinaram, como um campo de tensão interna à política do exílio.
O QUE DIZ O AUTOR
Está agora claro para todos que a guerra travada em Gaza pelo governo de Netanyahu em nome do Estado de Israel é moralmente repreensível e desprovida da eficácia invocada por aqueles que a conduzem. Os objetivos duplos da guerra, libertar os reféns e eliminar o Hamas, não foram alcançados e claramente não podem ser alcançados. No entanto, a guerra está sendo prolongada sem consideração pelo povo de Gaza, condenado a um destino miserável, às vezes à beira da fome, diariamente exposto ao caos da guerra e contando cada vez mais vítimas civis, em proporções que os objetivos da guerra não justificam — especialmente porque as vidas dos reféns estão cada vez mais em risco. Seja esta guerra motivada ideologicamente ou presa num círculo vicioso, refletindo uma corrida precipitada e sem futuro, cada analista pode ponderar, de acordo com a sua própria avaliação, a combinação de lógicas em jogo. Porém, seja qual for o equilíbrio, a condenação é necessária.
No entanto, a condenação não pode substituir a análise. Pois o observador se depara com uma questão crucial: o que torna possível essa guerra sem fim? Por que as vozes da crescente oposição em Israel parecem incapazes, mesmo nesta fase da guerra, de ter um efeito decisivo na opinião pública?
TRECHOS DO LIVRO
Do Prefácio à Edição Brasileira
“Mas o que é o Estado de Israel?” poderia ter sido o título deste livro. O fato de a pergunta ser feita sobre esse Estado, e nenhum outro, é uma indicação de que ele não é um Estado-nação no sentido do padrão europeu, aquele que hoje prevalece em todo o mundo. Como não conseguiu adotar uma Constituição, Israel conviveu, desde o seu nascimento, com a indeterminação do que seja. Para esse Estado, a questão, há muito evitada, só surge em momentos de provação, quando o que permaneceu vago precisa ser subitamente explicitado. Impulsionada por uma situação que tende a polarizar o campo político, a pressão está sendo exercida com um ímpeto sem precedentes, sob o impulso da coalizão atualmente no poder, mergulhando o Estado de Israel em uma crise cuja força pegou a todos de surpresa, tanto observadores quanto participantes. O vácuo, que antes permitia a coexistência de várias perspectivas sionistas, por meio da projeção em um receptáculo vazio e capaz de neutralizar as contradições, chegou ao fim.
A Procrastinação Constitucional
A promulgação de uma Constituição é geralmente pensada como o ponto culminante de um momento fundador, um ato que marca um ponto de partida, um “novo começo”13. Segundo a doutrina comum, ao adotar uma Constituição, um povo transforma-se numa nação, tomando assim voluntariamente, quando a proclama, o caminho da modernidade política. Segundo os historiadores, não há dúvida de que esta era a intenção oficial do governo provisório, o que refletia o espírito compartilhado dos fundadores do Estado de Israel. Por outro lado, a resolução 181 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1947, condicionava o reconhecimento de um “Estado judeu” e de um “Estado árabe” à adoção de uma Constituição em boa e devida forma. Assim, a Declaração de Independência do Estado de Israel, emitida e transmitida no dia 14 de maio de 1948, mesmo dia em que terminou o Mandato Britânico, promete explicitamente a adoção de uma Constituição no melhor prazo possível.
Mas logo se tornou evidente que a tarefa era cheia de armadilhas e, aliás, impraticável.
O Estado Dispensável
No Leste da Europa, com a Hascalá proveniente da Alemanha, o romantismo linguístico modificou profundamente o novo sentido dado à “nação judaica”. O aprendizado do hebraico se tornou uma peça central da revolução interior daqueles indivíduos dispostos a praticá-lo exclusivamente, uma vez instalados na Palestina. A língua hebraica era, ao lado do trabalho produtivo da terra, o fulcro da construção de uma autoctonia, ainda que inalcançável, tão inatingível como o era no Leste da Europa. Na Europa ocidental, onde o aparelho organizacional e diplomático sionista se construía, a diversidade era então postulada, ao passo que na prática, lá onde os imigrantes se reuniram para realizar o projeto, o hebraico se impôs. A língua hebraica moderna emergiu dessas confabulações de utopia linguística, a ponto de se poder afirmar que o Estado de Israel é o produto da sequência seguinte, contrariando toda tendência materialista: uma ideologia que criou uma língua, que forjou uma sociedade e culminou em um Estado.
O Estado Dispensável
A ideia de Estado permaneceu flutuante até hoje. Por isso, fez-se um amálgama inédito de Realpolitik, de pragmatismo e de utopia, o que, mesmo subsistindo agora apenas de modo residual, permeia a consciência comum de que o sionismo não tem outro fim senão criar uma sociedade judaica cujo Estado é um apêndice dispensável.
O Estado de Aflição
Surgido sob o signo do estado de emergência, o Estado para os judeus foi nomeado, precipitadamente, “Estado de Israel”, da mesma maneira como se decide, numa situação já de pânico, o nome da criança de uma mãe que teria negado sua gravidez até o dia do parto. Seu nascimento foi uma surpresa, boa ou má, mas pegou todos de calça curta, seus partidários e oponentes. O Estado carrega, de maneira inata, o sinal dessa surpresa: não foi visto chegar e, quando apareceu, foi celebrado como um milagre ao qual nos resignamos. Aqueles que declararam seu nascimento evitaram definir o que ele é. Mais do que uma marca de nascença, a precipitação determinou sua fisionomia. Inesperado, seu nascimento pôde aparecer como um milagre. Essa surpresa, e, portanto, esse “milagre”, ou simples tradução envelhecida, é um efeito estrutural do encontro do “fato judaico” com a modernidade política e constitui, por essa razão, o eixo da cultura política do Estado de Israel.
O Estado-Abrigo Para Todos
Ora, não é o direito dos povos de disporem de si mesmos, princípio que domina na Europa desde a Primavera dos Povos, aquele invocado por Herzl. Ele não formula uma questão nacional judaica como a questão nacional polaca ou grega. A forma de Estado-nacional é a que Herzl projeta para os judeus? A ciência da montagem política e a busca do melhor governo possível não são o assunto de Herzl. Quer dizer que Herzl se desvia da filosofia política para olhar para a tradição judaica? De forma alguma: Herzl sustenta que o problema judaico, o problema dessa minoria na Europa, só encontrará uma solução satisfatória com a sua reunião num Estado a ela dedicado.
SUMARIO
Advertência
Prefácio à Edição Brasileira: O Estado do Exílio, a Polarização e o 7 de Outubro
Prólogo
1 A Procrastinação Constitucional
2 O Estado de Toda Urgência
3 O Estado Dispensável
4 O Estado da Aflição
5 O Estado do Direito Internacional
6 O Estado-Abrigo Para Todos
Epílogo
Agradecimentos
FICHA TÉCNICA
Danny Trom
Tradução: Newton Cunha
Coleção [IBI.05]
Israel, judaísmo, racismo, Europa
Impresso em Brochura
12,5 x 20,5 cm
336 páginas
ISBN 978-65-5505-268-8
Lançamento 18 nov 2025
EBOOK
ISBN 978-65-5505-269-5
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