OS PINGUINS DO UNIVERSAL
ANTIJUDAÍSMO. ANTISSEMITISMO. ANTISSIONISMO.
Ivan Segré
Prefácio: Daniel Feldman
Posfácio para a edição brasileira: Ivan Segré
Assunto: racismo, antissemitismo, política
Os Pinguins do Universal: Antijudaísmo. Antissemitismo e Antissionismo retraça a história da inimizade contra os judeus desde a Antiguidade até a criação do Estado de Israel. Segré analisa historicamente a evolução do antijudaísmo para o antissemitismo e critica o antissionismo contemporâneo, argumentando que este muitas vezes recai em irracionalidade ao ignorar as particularidades do projeto sionista e da existência de Israel.
SINOPSE
É evidente que há muitas posições de tensão em relação ao termo "Israel", porque são irracionais. Que um termo seja emocionalmente vinculado é nada mais do que normal, nada mais do que comum. Mas que as emoções prevaleçam sobre a razão é claramente prejudicial, particularmente para os judeus, sem dúvida, mas não apenas para eles. E é singular. Em Os Pinguins do Universal: Antijudaísmo, Antissemitismo, Antissionismo, Ivan Segré se propõe a retomar o fio condutor histórico e político dessa racionalidade: aborda a questão desde o antijudaísmo antigo, passando pelo antijudaísmo cristão, até desembocar no antissemitismo. Depois, analisa o fenômeno do antissionismo. É simplesmente uma questão de ver as coisas com clareza. As qualidades do autor são bem conhecidas, e esta obra as confirma: a abordagem é racionalista, o tema é dominado em sua completude, a inspiração é progressista ("operária", diz ele). O que é, então, antijudaísmo? Principalmente xenofobia, como aprendemos já no início de sua investigação, mas ela tem dois lados no Ocidente: um político (pagão), e outro teológico (cristão). O preconceito teológico dominou a Idade Média, até que, com o Renascimento, a política recuperou sua antiga proeminência sobre a teologia. A Revolução veio depois, trazendo grandes pensadores, de Saint-Just a Marx e Trotsky, Simone Weil, Hannah Arendt, Alain Badiou. No entanto, a teologia continua a mexer seus pauzinhos, como na parábola de Walter Benjamin do "anão corcunda", em sua primeira tese sobre o conceito de história. E a xenofobia, no palco da História, continua a ressurgir teimosamente. O antissemitismo é a metamorfose racista do antijudaísmo xenófobo, e levou a Auschwitz. Esse é um ponto geralmente aceito. Mas outro fato, quase contemporâneo, está associado a ele: a criação do Estado de Israel, sobre o qual nada parece ainda estar bem compreendido. Por isso, era de suma importância que o assunto fosse trazido em análise sóbria, reflexiva, porém resoluta, e fornecesse razões e esclarecimentos para uma questão que continua a dividir, e a dividir muito, o entendimento e às vezes de formas muito divergentes de outras questões aparentemente menos "sensíveis". É de fato um assunto "sensível", a questão de Israel e do antissionismo. E é por isso que Pinguins do Universal, ao mesmo tempo racional, informado e sincero, é tão necessário. Como é igualmente necessário dissipar a confusão e ampliar o debate.
QUARTA-CAPA
Os Pinguins do Universal mostra a relação entre antijudaísmo, antissemitismo e antissionismo. Para Segré, o antissionismo muitas vezes não é mera crítica à Israel, mas a nova roupagem de um ódio antigo. Ele conecta o antijudaísmo religioso ao antissemitismo racial. Destaca que certos discursos da esquerda apenas reciclam velhos estereótipos antissemitas. Ao negar a legitimidade judaica de existir como um coletivo, negam o direito à autodeterminação do povo judeu, o sionismo, e cobram dele padrões morais de forma seletiva, demonizando Israel. Como criticar as políticas israelenses sem recorrer a narrativas que alimentam o ódio? Um alerta contra a simplificação de conflitos complexos e o uso da causa palestina para fins que nada têm a ver com ela, ou com justiça.
IVAN SEGRÉ
Ivan Segré é um filósofo, ensaísta e talmudista francês contemporâneo. Nascido em 1973, é filho do pintor Raymond Segré e sobrinho de Victor Segré (autor de uma trilogia autobiográfica, Un aller sans retour: L'histoire d'un Communiste Juif Egyptien (Uma Via Sem Volta: História de um Judeu Comunista Egípcio, L'Harmattan, 2009), ambos refugiados judeus do Egito.
Sua trajetória intelectual é marcada por um cruzamento singular entre o pensamento radical de esquerda, a herança do marxismo, e um profundo retorno ao estudo dos textos judaicos, particularmente o Talmud. Formado em filosofia, sua obra inicial estava ancorada na tradição marxista e althusseriana. No entanto, a partir dos anos 2000, seu trabalho sofreu uma virada. Em virtude de sua própria redescoberta do judaísmo, ele começou a investigar as conexões entre a crítica revolucionária e a lei judaica. Esse percurso o levou a um confronto crítico com certas correntes da esquerda intelectual francesa, às quais acusa de abraçar um "espírito de esquerda" abstrato que, paradoxalmente, pode alimentar o antissemitismo sob o disfarce do antissionismo.
Seus livros, como Qu'Appelle-T-On Penser Auschwitz? e La Réaction philosémite, geraram intensos debates ao argumentar que partes da esquerda, em sua oposição visceral a Israel, adotam retóricas que ecoam estereótipos antissemitas clássicos. Assim, Segré se tornou uma voz controversa e única, defendendo uma posição que desafia os consensus tanto da direita quanto da esquerda tradicionais, insistindo na necessidade de uma reflexão ética enraizada na tradição talmúdica para enfrentar os dilemas políticos modernos.
COLEÇÃO “A QUESTÃO JUDAICA CONTEMPORÂNEA”
Esta coletânea propõe uma contextualização crítica e uma análise situada das múltiplas configurações identitárias, políticas e simbólicas da questão judaica contemporânea, considerando os desdobramentos do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel e a subsequente resposta militar israelense em Gaza.
ORELHA
O Hamas, de um lado, a direita nacionalista, do outro, foram os vencedores do fracasso dos acordos de Oslo. Em oposição a um compromisso político e territorial, militavam pelo confronto – o Hamas desejava vencer e destruir o Estado de Israel; a direita israelense desejava estabelecer o Estado “judeu” na totalidade da “Palestina histórica”, expulsar uma parte da população árabe, submeter a que permanecesse sob seu controle. Dito de outra forma, as duas forças antagônicas em questão têm o mesmo programa, a mesma visão, e seu modo de operar é similar, sendo a única diferença a desigualdade no equilíbrio da força militar. Nesse sentido, a irresponsabilidade política do Hamas é flagrante: com o seu ataque de 7 de outubro, o fundamentalismo palestino ofereceu à direita nacionalista israelense a oportunidade sonhada de concretizar seu projeto latente: tornar Gaza inabitável, de maneira a impingir o exílio à sua população. Isso feito, a anexação da Cisjordânia controlará a outra vertente da “questão palestina”.
O QUE DIZ O AUTOR
Quando se trata de justificar a resposta militar de Israel, tudo depende do critério escolhido. Em termos de razão de Estado, sim, ela é amplamente justificada, e condenações de grandes potências mundiais como Estados Unidos, Rússia e China, ou potências regionais como Turquia, Irã e Arábia Saudita, inevitavelmente causariam risos, dada a forma como esses Estados se comportam quando seus interesses vitais, ou percebidos como vitais, estão em jogo. Para as pessoas da minha geração, nascidas na década de 1970, era melhor ter nascido em Gaza do que em Bagdá.
Mas a verdadeira questão é estratégica. E acho que a resposta militar de Israel é um erro estratégico, sem mencionar os problemas éticos que levanta em termos de baixas civis e reféns mantidos pelo Hamas. Como todos sabemos, no Iraque, assim como no Afeganistão, as bombas ocidentais não semearam futuro.
{Le Monde, entrevista publicada em 5 de novembro de 2023}
PÚBLICO-ALVO
Todos que se interessem por política, relações internacionais, filosofia, religião, sociologia, antirracismo, antissemitismo, história das ideias.
PALAVRAS-CHAVE
Política, relações internacionais, filosofia, religião, antirracismo, antissemitismo, sociologia, comunidade, história das ideias, França.
TRECHOS
Mas porque tais Pinguins [os judeus] seriam os do Universal? Nesse ponto Segré nos sugere um debate menos óbvio no qual sua abordagem pode ser muito iluminadora. O nome judeu não atrai para si apenas a hostilidade de sempre ao estrangeiro, não é simplesmente mais uma xenofobia ou mais um tipo de racismo entre outros. O judeu será visto como um tipo singular de povo suspeito justamente pelo fato de sempre na história estar associado de forma negativa ao Universal. Mais precisamente o O nome judeu suscitaria a animosidade porque impede o emprego do operador todo”, isto é, o judeu encarna aquilo que impede uma dada totalidade se estabelecer como plena, exitosa, feliz. Daí o pecado quase ontológico e trans-histórico atribuído ao judeu.
Pois o nome judeu e o nome cristão, nos escritos de Tácito, não são absolutamente distinguíveis. “Ali é profano tudo o que em nós é sagrado, e legítimo tudo o que consideramos abominável.” E é evidente que, para além do caso particular de judeus e cristãos, são os costumes dos bárbaros que Tácito tem em vista, pelo menos quando conseguem se estabelecer “na própria Roma, onde infâmia e horror que há por toda parte aflui e encontra seguidores”. Portanto, é de uma distinção entre “romanos” e “bárbaros” que se trata [...].
O argumento cristão (o de Paulo) singulariza o nome judeu, enquanto o argumento antigo (o de Tácito ou o de Cícero) o torna comum aos povos estrangeiros sob a autoridade romana: “os gauleses, os sardos, os gregos da Ásia”, etc. Mas a estrutura, no final, é a mesma: quer se trate dos bárbaros ou unicamente dos judeus, trata-se sempre de um povo estrangeiro que, após ser submetido militarmente, teve de ser submetido mentalmente, sendo obrigado ao “sacrifício pelo bem-estar do imperador”, ou forçado a abraçar a fé cristã. Primeiro, em companhia dos cristãos, gauleses, sardos e gregos da Ásia etc., depois, durante muito tempo sozinhos, os judeus compuseram na Europa, um povo de peregrini.
Há, portanto, uma clara persistência do paradigma antigo: as superstições estrangeiras são sempre, em todo lugar, por todos, julgadas execráveis, pois parecem ameaçar, de qualquer maneira, a ordem teológica e política dominante, daí o estatuto dos judeus e cristãos em terra muçulmana, como o dos judeus em terra cristã – exceto que por ser o único estrangeiro de sempre, e enquanto significante de uma alteridade interior, o estatuto do judeu na cristandade é marcado por uma exterioridade ainda mais fundamental. Mas, além disso, o paradigma muçulmano encaixa-se, contudo, com o paradigma cristão, na medida em que a existência judaica em terra do Islã é uma existência protegida, porém submissa.
Em 1934, quando questionado sobre o que pensa de um “país para os judeus”, [Trótski] não responde que é um projeto colonial, imperialista e genocida; responde, primeiramente, que ele “não sabe se a população judaica será reconstituída enquanto nação”; a seguir, que um “país para os judeus” supõe “o socialismo vitorioso”, sem o qual sobreviriam, certamente, graves injustiças para outros que não os judeus. O que fazer enquanto não vem “o socialismo vitorioso”? “Por ora, estou estudando a questão.” Infelizmente, antes que ele pudesse apresentar seu relatório à classe operária, Trótski foi assassinado por um homem a mando de Stálin.
Onde situar a divisão entre as forças de Reação e aquelas da Revolução? Seria distinguindo “O Estado colonial de Israel” de um lado, os Estados não coloniais de outro? Ou seria distinguindo, de um lado, o capitalismo vitorioso, de outro, o “socialismo vitorioso”? De acordo com as adversidades existenciais de muitas minorias étnicas e religiosas na Europa ou no Oriente Médio, e na expectativa de que o socialismo seja vitorioso, entendemos o anseio expresso pelo militante sionista em 1946: “que exista um lugar no mundo onde os judeus não sejam uma minoria”. Que seja então “na Baviera…”, sugere ironicamente Badiou. O argumento de uma terra prometida por algum deus nacional não seria, por excelência, a superestrutura teológico-política de uma infraestrutura colonial? A sugestão do filósofo a respeito da Baviera, no entanto, diz mais do que parece: se não existe em lugar nenhum uma terra judaica ou prometida aos judeus, também não existe uma terra cristã ou muçulmana, alemã, francesa, brasileira ou turca que não tenha sido, antes de se tornar cristã ou muçulmana, alemã, francesa, brasileira ou turca, conquistada em detrimento dos indígenas que lá viviam. Ninguém é mais, desde a expansão dos primeiros Homo sapiens vindos da África, o primeiro ocupante.
SUMÁRIO
Prefácio: Interpretando a Origem e a Resiliência do Ódio [Daniel Feldmann]
Advertência
Prólogo
1
2
Epílogo
Posfácio
FICHA TÉCNICA
Ivan Segré
Prefácio: Daniel Feldman
Posfácio para a edição brasileira: Ivan Segré
Assunto: racismo, antissemitismo, política
Impresso em brochura
12,5 x 20,5 cm
240 páginas
ISBN 978-65-5505-266-4
Lançamento 19 setembro 2025
EBOOK
ISBN 978-65-5505267-1
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