AFROGRAFIAS DA MEMÓRIA: O REINADO DO ROSÁRIO NO JATOBÁ
Leda Maria Martins
SINOPSE
Seminal e pioneiro, Afrografias da Memória registra a coexistência religiosa e cultural que marca tão fortemente a identidade, a memória e a cultura popular brasileiras, revelando a riqueza das tradições trazidas pelos africanos e a história social e cultural de resistência e sobrevivência das populações negras, durante e após a escravidão, ao incorporar na cultura dominante sua voz, cores e forma de sociabilidade, criando seus próprios rituais e suas próprias formas de pertencimento e acolhimento comunitário. Ancestralidade e comunidade, o terreiro do Jatobá explode em encanto nesse clássico da oralitura, que volta às prateleiras reafirmando o papel imanente e fundamental do negro para a cultura brasileira.
QUARTA-CAPA
Afrografias da Memória é uma das obras máximas da oralitura entre nós. Contando a história do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, em Minas Gerais, Leda Maria Martins, doutora em Literatura Comparada e rainha de Nossa Senhora das Mercês, enlaça a palavra escrita com as vozes, cores e as melodias do Reinado, uma manifestação cultural de matriz banto que, por vias das performances rituais, transcria estilos, simbologia, metafísica, coreografia, inúmeros saberes, valores e cosmovisão africanos. Inscrevendo pelo rito a memória das diásporas negras, a tradição se enovela nas espirais do tempo, enfrenta as opressões e se faz patrimônio imaterial do povo brasileiro. Comemorando os 25 anos de seu lançamento, esta segunda edição, revista e atualizada pela autora, testemunha a vitalidade do Reinado, da memória, do livro e da festa, no contorno poético das palavras que encantam suas páginas e na evocação do corpo negro que canta e dança e, assim, performa e ressignifica sua própria história.
DA AUTORA
Leda Maria Martins é Rainha de Nossa Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, em Belo Horizonte. Poeta, ensaísta, dramaturga e professora. Doutora em Letras e Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e mestre em Artes pela Indiana University, nos Estados Unidos, com pós-doutorado em Performances Studies pela New York University, Tisch School of the Arts, e em Performance e Ritos pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Foi professora da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal de Ouro Preto – Ufop e professora visitante da Tisch, além de diretora de Ação Cultural da UFMG (de março de 2014 a março de 2018). Atua nas áreas de artes cênicas, literatura comparada, performances e estudos culturais. Publicou vários livros, capítulos de livros e de ensaios no Brasil e no exterior, com destaque para Cantiga de Amares (ed. independente, 1983); O Moderno Teatro de Qorpo-Santo (Editora UFMG/Ufop, 1991); A Cena em Sombras (Perspectiva, 1995); coeditora da Callalloo (v. 18, n. 4, Johns Hopkins, 1995, Special Issue: African Brazilian Literature); Afrografias da Memória (Perspectiva/Mazza, 1997 e 2021); Os Dias Anônimos (Sette Letras, 1999); Performances do Tempo Espiralar, Poéticas do Corpo-Tela (Cobogó, 2021). Em 2017, foi criado o prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte, patrocinado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG.
DA COLEÇÃO
A coleção Perspectivas reúne textos importantes, em pesquisa extensa na abrangência do assunto. Contempla biografias, história, arte, antropologia e literatura.
TRECHOS
No Sábado de Aleluia, quando em geral os Rosários são abertos, até fins de outubro, quando então os reinos se recolhem e se fecham, os tambores cantam em Minas e guiam pelas ruelas e pelos asfaltos, pelas capelas e igrejas do Rosário, pelos quintais, as nações do congado, que, com seus reis e rainhas, seus capitães e marinheiros, rematizam a África em terras d´Américas. Como estiletes autografando as abissais desfronteiras e deslimites simbólico-geográficos dessas serras gerais, congos, moçambiques, marujos, catupés, candombes, vilões, caboclos, na sua variedade rítmica, cromática e coreográ¬ca, performam cânticos, gestos, ritmos e falas, como aedos e griôs que imbricam a história e a memória, posfaciando o discurso cultural brasileiro com os prefácios africanos.
A palavra oral, assim, realiza-se como linguagem, conhecimento e fruição porque alia, em sua dicção e veridicção, a música, o gesto, a dança, o canto, e porque exige propriedade e adequação em sua execução, pois para “que a palavra adquira sua função dinâmica, deve ser dita de maneira e em contextos determinados”. Assim, nos congados, cada situação e momento rituais exigem propriedade da linguagem, expressa nos cantares: há cantos de estrada, cantos para puxar bandeira, cantos para levantar mastro, cantos para saudar, cumprimentar, invocar, cantos para atravessar portas e encruzilhadas, e muitos outros.
A encruzilhada, locus tangencial, é aqui assinalada como instância simbólica e metonímica, da qual se processam vias diversas de elaborações discursivas, motivadas pelos próprios discursos que a coabitam. Da esfera do rito e, portanto, da performance, é lugar radial de centramento e descentramento, interseções e desvios, texto e traduções, confuências e alterações, infuências e divergências, fusões e rupturas, multiplicidade e convergência, unidade e pluralidade, origem e disseminação. [...].
Nesse movimento, a própria noção de centro se dissemina, na medida em que se desloca, ou melhor, é deslocada pela improvisação rítmica e melódica. Diz Elisson: “porque o jazz encontra seu ponto vital numa infindável improvisação sobre materiais tradicionais, o jazzista deve perder sua identidade, mesmo quando a encontra”. Assim como o jazzista, metonímia das culturas negras nas Américas, retece os ritmos milenares, transcriando-os dialeticamente numa relação dinâmica e prospectiva, essa cultura, em seus variados modos de asserção, funda-se dialogicamente, em relação aos arquivos das tradições africanas, europeias e indígenas, nos jogos de linguagem, intertextuais e interculturais, que performa.
DA CAPA
Imagem da capa: Mastros com os estandartes em procissão. Foto de Vera Godoy, 2017. Os ritos e procissões do Reinado do Rosário no Jatobá explodem em cores e alegria. Essas festas símbolos da potência, resistência e criação da cultura afro-brasileira.
SUMÁRIO
Guiné, Guiné, Zâmbi Pague, Eu Agradeço
Nota da Autora
Deixa o Meu Gunga Passar
A Oralitura da Memória
Os Africanos Não Navegaram Sós
Rainha Coroada, Coroa do Rei
Undamba Berê Berê
Senhora do Rosário, Rainha do Mar, da Terra e do Ar
Gomá, Dambim, Dambá: Fábula Textual
Rituais de Linguagem
Reinos Banto em Terras de Y-ata-obá
Essa Gunga É de Mamãe: Da Pantana a Virgulino
Anganga Muquiche
D. Maria Ferreira, Nanã do Reino
João Lopes, Capitão de Moçambique
Fragmentos de uma Genealogia do Reino do Jatobá
Cantares
Afrografias Rituais
A Palavra Proferida
Geografias de imagens e Sons
Se a Morte Não Me Matar, Tamborim
Imagens
Referências
FICHA TÉCNICA
Autor: Leda Maria Martins
Coleção: Perspectivas
Assunto: Antropologia / Cultura Popular
Formato: Brochura
Dimensões: 16 x 23 cm
256 páginas
ISBN 9786555050684
E-book: 9786555050691
Preço E-book: R$ 49,90
Lançamento: 03/09/2021
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