DO ANTISSIONISMO AO ANTISSEMITISMO
Léon Poliakov
Tradução: Geraldo Gerson de Souza
Prefácio: Flávio Limoncic
Nota biográfica: Iris Kantor
Do Antissionismo ao Antissemitismo (publicado originalmente em 1969) de Léon Poliakov examina como o antissionismo, sob pretextos políticos, muitas vezes mascara o antissemitismo tradicional, destacando a continuidade histórica do ódio aos judeus, mesmo em discursos aparentemente "críticos" e não raciais. Uma análise premonitória sobre a instrumentalização do conflito israelo-palestino para justificar preconceitos.
SINOPSE
O debate em torno do conflito no Oriente Médio coloca em primeiro plano a relação entre os judeus e o Estado de Israel. Os judeus são acusados de serem sionistas por vários setores, em termos equivocados. Será o antissionismo apenas uma máscara para um novo antissemitismo? Léon Poliakov oferece um relato histórico e abrangente da questão no século XX, principalmente a partir da esquerda do campo político.
Na época do julgamento de Rudolf Slansky (judeu de origem e líder comunista tcheco) e do caso dos "médicos judeus envenenadores" forjado em Moscou, o sionismo foi acusado por Stálin, evocando a antiga retórica nazista, de ser a ponta de lança de uma conspiração antissoviética global. No entanto, esse antissemitismo stalinista era contrário à política seguida pelo regime comunista antes dos Grandes Expurgos, quando conciliava o antissionismo de princípios – pois o sionismo seria contraditório à luta pela igualdade universal – com uma luta implacável, inaugurada por Lênin, contra todas as formas de antissemitismo e ódio racial. O conhecimento desses fatos ajuda a esclarecer a controvérsia sobre quais distinções devem ser feitas de acordo com regiões e regimes, uma vez que interesses e todo tipo de considerações são usados para alimentar campanhas antissionistas. A "discussão do sionismo lembra o debate secular acerca do judaísmo.", escreve Léon Poliakov. Mais de cinco décadas depois de escritas, suas palavras
QUARTA-CAPA
{Primeira edição no Brasil}
A crise do Oriente Médio tem, sem dúvida, no conflito israelo-palestino, um de seus pontos mais delicados e difíceis. E os judeus, como um todo, querendo ou não, veem-se nele envolvidos em escala internacional. Independentemente de suas matizadas posições a respeito do problema e do que pensem quanto ao modo de resolvê-lo, são tidos como parte do contencioso em curso. Ora, se é evidente, por um lado, que na sua esmagadora maioria identificam-se e sentem-se solidários com Israel renascido, por outro lado, as diferenças político-ideológicas que se processam no seio de sua vida coletiva e que determinam uma larga gama de posições, são inteiramente desconsideradas e sua relação com a nação israelense é vista sob um único prisma: “os judeus”, ou melhor, “o judeu”. Qual a razão disso? É aí que a análise de Léon Poliakov, por via histórica e crítica, põe o dedo na ferida. Será que nesta globalização e enfeixamento não estamos assistindo, sob a máscara do antissionismo, os manejos do velho antissemitismo com a sua aljava cheia das flechas que as lutas religiosas, os preconceitos sociais e os processos ideológicos de mitificação e diabolização das vítimas se dispuseram a produzir no correr dos séculos? Essa indagação básica, acompanhada de uma análise precisa e desapaixonada da questão das relações entre os judeus e o Estado de Israel, bem como das reações e decodificações que suscitam, constitui o fio condutor em Do Antissionismo ao Antissemitismo, que a Perspectiva traz em edição revista.
{Quarta-capa atual}
Esta é uma obra essencial para que se entenda a dinâmica histórica e ideológica que liga o antissionismo ao antissemitismo moderno.
Poliakov analisa como o antissionismo, inicialmente voltado para questões políticas e territoriais, se transformou em hostilidade racial contra os judeus, incitando estereótipos e promovendo a marginalização de toda uma comunidade.
Com a intensificação de um antissionismo que reduz as várias correntes sionistas a um universal expansionista, e daí a um “lobby sionista internacional” de cunho racista, a obra se torna um alerta necessário contra o ódio antissemita.
Ao desmascarar essas distorções ideológicas, Poliakov no ajuda a combater o preconceito, a preservar as muitas críticas legítimas e a estimular o debate crítico e construtivo.
LÉON POLIAKOV
Léon Poliakov (1910-1997) foi um historiador francês de origem russa, pioneiro nos estudos do antissemitismo e do Holocausto. Nascido em São Petersburgo, sua família fugiu da Revolução Russa em 1920 e se estabeleceu na França. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois de se alistar no Exército francês, foi feito prisioneiro de guerra. Ao ser libertado, entrou na clandestinidade e passou a atuar na Resistência. Depois, colaborou com o Centro de Documentação Judaica Contemporânea (CDJC), coletando provas dos crimes nazistas.
Sua obra mais influente, Le Bréviaire de la Haine (1951, O Breviário do Ódio), foi um dos primeiros estudos sistemáticos sobre o Holocausto. Poliakov também escreveu a monumental História do Antissemitismo (4 v., 1955-1977), publicado no Brasil pela Perspectiva a partir de 1979 – De Cristo aos Judeus da Corte, De Maomé aos Marranos, De Voltaire a Wagner e A Europa Suicida: 1870-1933 –, traçando a perseguição aos judeus desde a Antiguidade.
Junto com Pierre Vidal-Naquet foi pioneiro no enfrentamento ao revisionismo e ao negacionismo históricos, a partir de finais dos anos 1970. Crítico de visões simplistas sobre o ódio racial, polemizou também com Sartre (e sua “Reflexões Sobre a Questão Judaica”), defendendo que o antissemitismo não era apenas uma "escolha existencial", mas um fenômeno histórico complexo. Sua obra permanece essencial para entender o racismo e o genocídio.
Faleceu em 1997, em Orsay, França, vítima de um AVC.
A QUESTÃO JUDAICA CONTEMPORÂNEA
Esta coletânea propõe uma contextualização crítica e uma análise situada das múltiplas configurações identitárias, políticas e simbólicas da questão judaica contemporânea, considerando os desdobramentos do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel e a subsequente resposta militar israelense em Gaza.
ORELHA
A crise do Oriente Médio tem, sem dúvida, no conflito israelo-palestino, um de seus pontos mais delicados e difíceis. E os judeus, como um todo, querendo ou não, veem-se nele envolvidos em escala internacional. Independentemente de suas matizadas posições a respeito do problema e do que pensem quanto ao modo de resolvê-lo, são tidos como parte do contencioso em curso. Ora, se é evidente, por um lado, que na sua esmagadora maioria identificam-se e sentem-se solidários com Israel renascido, por outro lado, as diferenças político-ideológicas que se processam no seio de sua vida coletiva e que determinam uma larga gama de posições, são inteiramente desconsideradas e sua relação com a nação israelense é vista sob um único prisma: “os judeus”, ou melhor, “o judeu”. Qual a razão disso? É aí que a análise de Léon Poliakov, por via histórica e crítica, põe o dedo na ferida. Será que nesta globalização e enfeixamento não estamos assistindo, sob a máscara do antissionismo, os manejos do velho antissemitismo com o seu carcás cheio das setas que as lutas religiosas, os preconceitos sociais e os processos ideológicos de mitificação e diabolização das vítimas se dispuseram a produzir no correr dos séculos? Essa indagação básica, acompanhada de uma análise precisa e desapaixonada da questão das relações entre os judeus e o Estado de Israel, bem como das reações e decodificações que suscitam, constitui o fio condutor em Do Antissionismo ao Antissemitismo, que a Perspectiva traz em edição revista.
PÚBLICO-ALVO
Todos os interessados em filosofia, religião, sociologia, antirracismo, antissemitismo, história.
PALAVRAS-CHAVE
Filosofia, religião, antirracismo, antissemitismo, sociologia, história.
TRECHOS
Sob muitos aspectos, a discussão do sionismo lembra o debate secular acerca do judaísmo. Sem remontar até a Idade Média ou ao Século das Luzes, partimos do movimento socialista, no qual os judeus desempenharam um papel tão importante. Esse debate passou ao domínio público logo após a Revolução de Outubro. Pareceu-nos relevante esclarecer que o regime comunista soube conciliar seu antissionismo de princípio com a luta implacável que travava contra todas as formas do antissemitismo, mas isso até o momento dos Grandes Expurgos. Foi em consequência deles, e também, (infelizmente!), por efeito de uma certa osmose hitlerista, que se instalou o clima das perseguições antissemitas stalinistas de 1948-1953.
Não seria demasiado insistir nisso: o projeto de Herzl teria mergulhado rapidamente no esquecimento, não fosse a participação entusiasta e maciça dos judeus do Leste, que se consideravam judeus, não em virtude do decreto antissemita, mas espontânea e ingenuamente, como os franceses sentiam-se franceses, e os tchecos, tchecos. Em especial no império tsarista, é a mesma geração que, diante de uma miséria material e moral sem solução, marcada por pogroms cada vez mais frequentes, viu erguerem-se os grandes paladinos de uma mudança radical, os [Chaim] Weizmann e os [David] Ben -Gurion – ao mesmo tempo que os Trótski e as Rosa Luxemburgo, arcanjos do internacionalismo integral.
Em política, o antissemita está arriscado a ter facilmente razão com relação a todo o mundo. Se faço guerra a Hitler, peço a ajuda dos judeus; se me componho com ele, estou traindo a causa destes; de qualquer maneira, eu os singularizo. Os judeus assim definidos cedo ou tarde reagem como judeus, e renovam, mesmo que seja para defender-lhes o corpo, seus velhos laços, na “solidariedade dos ofendidos e dos indignados”, de que Iliá Ehrenburg falava dramaticamente em 1948. Uma aliança desse gênero, que ultrapassa todas as fronteiras, semeia desconfianças que se tornam “arianas” em virtude do contraste e isolam de novo os judeus; é esse o círculo vicioso hitlerista.
Por ter feito menos estragos que a de “raça ariana”, nem por isso a noção de “raça semita” é menos falaciosa. Na realidade, o argumento joga com o fato de que o antissemitismo, historicamente, encontrou seu terreno de eleição no seio da civilização ocidental; mas é justamente por isso que ele corre o risco de contaminar todos aqueles que sofrem a influência dessa civilização. Foi assim que o século XIX viu surgir, sob múltiplas variantes, o fenômeno do judeu antissemita. Nesses últimos tempos, parece que, nos Estados Unidos, são os negros que constituem para o antissemitismo o melhor caldo de cultura; devemos admitir, portanto, que os árabes do Oriente Médio, e somente eles, gozem no caso de uma isenção ou de uma alergia particular? Incomoda-nos um pouco ter de tratar desse primeiro argumento. No entanto, sua tolice nos lembra os perigos de um verbalismo que se afirma em muitas outras ocasiões, quando se empregam termos dotados de forte carga afetiva, como imperialismo, racismo e muitos outros.
SUMÁRIO
Prefácio à Edição Brasileira [Flávio Limoncic]
Prefácio
1 Sionismo e Socialismo Antes de 1917
2 Da Revolução de Outubro aos Grandes Expurgos
3 A Era das Perseguições
4 A Polêmica Árabe
5 O Debate na França Depois de 1967
6 O Caso Polonês
FICHA TÉCNICA
Léon Poliakov
Tradução: Geraldo Gerson de Souza
Prefácio: Flávio Limoncic
Nota biográfica: Iris Kantor
Assunto História, Racismo, Antissemitismo
Impresso em brochura
12,5 x 20,5 cm
160 páginas
ISBN 978-65-5505-264-0
Lançamento 19 setembro 2025
EBOOK
ISBN 978-65-5505-265-7
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