NARRATIVAS INQUIETAS: SEIS CONTOS E DUAS PEÇAS
Joseph Conrad
Seleção, tradução, apresentação e notas: Alcebiades Diniz Miguel
SINOPSE
Conrad é também nas narrativas curtas um autor excepcional. À construção detalhada das cenas e da paisagem onde ambienta suas histórias, somam-se personagens construídas com profundidade em contextos marcados pela observação crítica apurada. Em sua pena, atmosfera, cenários e personagens confundem-se e amalgamam-se num todo dramaticamente constituído em que aventura, crítica e complexidade tornam sua obra sempre intensamente atual e cativante.
QUARTA-CAPA
Narrativas Inquietas apresenta seis contos e duas peças, inéditas em língua portuguesa, de Joseph Conrad.
Conrad é mais conhecido por seus romances. No Coração das Trevas, Lord Jim, Nostromo, Sob os Olhos do Ocidente, O Agente Secreto figuram entre as obras mais populares da literatura mundial. Porém, ele sempre se dedicou às narrativas curtas, que formam um extraordinário conjunto em sua produção. “Os Idiotas”, aliás, que abre a coletânea, foi o primeiro trabalho completo que escreveu e publicou. Nesses textos, encontramos concentrado tudo aquilo que nas obras mais longas encantaria os leitores: a descrição de lugares longínquos habitados por povos dos quais poucos já ouviram falar, a linguagem refinada, a aventura, os anti-heróis. E com ele, quanto mais longe se vai na selva ou no mar, mais fundo se entra na psique humana.
Que o leitor não se deixe enganar nem pelo colonialismo nem pelo exotismo, pois ao viajar com Joseph Conrad por um império britânico onde o sol jamais se põe, acabará por reconhecer nos seus retratos uma humanidade complexa que faz do Outro um espelho de si mesma.
DO AUTOR
JOSEPH CONRAD - Jozef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu na Polônia ocupada pelos russos em 1857, filho de aristocratas em decadência. Órfão com onze anos, com dezessete o jovem decidiu deixar a Polônia para não ter de servir o exército russo. Tornou-se marinheiro. Daí até 1878, Jozef envolveu-se em conspirações, contraiu dívidas de jogo, tentou um suicídio e perdeu o registro como marinheiro francês. Ingressou, porém, na marinha britânica, aprendeu o inglês, foi aprovado no exame de capitão de barco e, em 1884, virou cidadão inglês. Somente a partir de 1894 estabeleceu-se definitivamente em terra, na Inglaterra. Casou-se com Jessie George com quem teve dois filhos, Borys e John. Nesses anos, Joseph Conrad conviveu com John Galsworthy, H.G. Wells, Henry James, Stephen Crane, Arthur Marwood e tornou-se um escritor popular. Reconhecido pelo público e pela crítica, recusou a distinção de cavaleiro em 1924. Três meses depois, morreu vítima de um infarto.
DA CAPA
Imagem da capa: Costa de Yorkshire, gravura de William Turner, 1806-1807. Tate Britain.
Tempestades, ventos, tornados, a agitação do mar e a pequenez do homem na obra do britânico William Turner dá bem a atmosfera de aventura e profundidade psicológica que encontramos em Conrad.
COLEÇÃO PARALELOS
A coleção Paralelos abriga literatura de ficção e contos de evidente qualidade literária.
TRECHOS
DA APRESENTAÇÃO
Alcebiades Diniz Miguel
De fato, o estudo das personagens ocupa um espaço considerável nas narrativas breves de Conrad. Alguns de seus contos, aliás, recebem como título o nome de suas personagens centrais – “Karain”, “Um Anarquista”, “Il Conde” –, deixando ainda mais explícito como, em torno dessa personagem central, toda a narrativa se estrutura. A amplitude também permite um aspecto construtivo bastante apreciado por Conrad em suas narrativas mais longas e que, novamente, contradiz a “filosofia de composição” aplicada aos contos: a ênfase descritiva em lugares. As narrativas de Conrad, nesta coletânea, ocorrem nas mais diversas paragens: nas ilhas dos Mares do Sul; na costa francesa; em Nápoles; na Espanha do final do século XVIII; na América do Sul; em bairros suburbanos de Londres. Essa variedade e pendor descritivo poderiam sugerir que Conrad seria um autor que investiria em perfis de personagens combinados ao exotismo de paisagens, a fim de impulsionar suas tramas, algo que recorda o artificialismo de certo tipo de best-seller contemporâneo, centrado em viagens, paisagens, descobertas e mensagens construtivas, positivas. Contudo, esse não é o caso de Conrad – longe disso. Em primeiro lugar, o perfil psicológico das personagens construído pelo autor é extremamente rico, o que neutraliza estereótipos e clichês. Mesmo sendo um homem de seu tempo, com os preconceitos do período, Conrad ultrapassa o discurso racista em vários pontos, ao construir protagonistas não europeus (e não brancos) fortes e dilacerados.
DO LIVRO
DE “OS IDIOTAS”
A casa estava isolada entre as rochas. Uma pista de lama e pedras conduzia à porta. As brisas marítimas que vinham da costa até a Ponta da Pedreira, plenas do vigor do tumulto das ondas, uivavam com violência para as pilhas imóveis de pedregulhos negros, que pareciam sustentar com firmeza altas cruzes de braços curtos diante da tremenda investida do invisível. Em meio à inclemência da ventania, a habitação permanecia em sua protegida serenidade, ressonante e inquieta, similar à calmaria no centro de um furacão. Nas noites tempestuosas, quando a maré baixava, a baía de Fougère, situada a cinquenta pés abaixo da casa, assemelhava-se a um imenso poço negro, do qual ascendiam murmúrios e suspiros, como se as areias estivessem vivas e seus queixumes fossem ouvidos. Na maré alta, as águas que retornavam assaltavam as bordas rochosas na forma de investidas breves, culminando em rajadas de luz lívida e colunas de espuma que avançavam terra adentro, aguilhoando até matar a grama das pastagens. [...]
A atmosfera era de tal forma espessa que seria possível cortá-la com uma faca. O estreito e longo salão era iluminado por três velas que emitiam uma luz difusa e vermelha, como faíscas que se desfazem em cinzas.
O ligeiro estalo no trinco de ferro, naquela hora tão tardia, soou repentino e assustador, como uma trovoada. Madame Levaille colocou sobre a mesa a garrafa com que ia encher de licor o copo que segurava; os jogadores viraram a cabeça; a discussão sussurrada findou; apenas o cantor, depois de lançar um olhar para a porta, continuou assoviando sua canção, impassível. Susan surgiu na soleira, entrou e, fechando a porta, exclamou, quase em voz alta:
“Mãe!”
DE “O RETORNO”
Ele, é claro, nada via; subiu outro lance de degraus e se dirigiu para o quarto de vestir. Um dragão de bronze, cravado pela cauda a um suporte, se contorcia para longe da parede, em convoluções calmas, enquanto mantinha, com a fúria convencional de suas mandíbulas, uma chama de gás semelhante a uma borboleta. O quarto estava vazio, é claro; porém, tão logo ele entrou, ficou de súbito repleto com a agitação de inúmeras pessoas; porque as lâminas de vidro que cobriam as portas dos armários e o grande espelho da esposa refletiam a imagem dele da cabeça aos pés, multiplicando-a em uma multitude de imitadores servis e cavalheirescos, vestidos exatamente como ele; que tinham os mesmos gestos contidos e raros; que se moviam apenas quando ele se movia, ficavam parados junto com ele em uma imobilidade obsequiosa, demonstrando de forma completa aparências de vida e sentimentos idênticas ao que ele achava digno e seguro que qualquer homem manifestasse. E, à semelhança de pessoas reais, que são escravas de pensamentos banais, que nem são seus, as imagens simulavam uma estranha independência pela diversidade superficial de seus movimentos. Elas se moviam com Alvan; porém, ou avançavam ao seu encontro ou se afastavam dele; apareciam, desapareciam; aparentemente se esgueiravam por trás de móveis de nogueira antes de serem vistas de novo, imersas nas vidraças polidas, dando passos nítidos e irreais na convincente ilusão do quarto. E, como os homens a quem ele respeitava, podia-se confiar que jamais fariam nada pessoal, original ou surpreendente – nada imprevisto e nada impróprio.
SUMÁRIO
Apresentação: Da Peripécia ao Impacto [Alcebiades Diniz Miguel]
Contos
Os Idiotas
Karain: Reminiscências
O Retorno
Amanhã
Um Anarquista (Um Conto de Desespero)
Il Conde (Uma Narrativa Patética)
A Estalagem das Duas Bruxas – Um Achado
Duas Peças
Sobre o Teatro de Conrad [Alcebiades Diniz Miguel]
Introdução [1924] [John Galsworthy]
Anne Gargalhada
Mais um Dia
Cronologia
FICHA TÉCNICA
Autor: Joseph Conrad
Seleção, tradução, apresentação e notas: Alcebiades Diniz Miguel
Coleção: Paralelos
Assunto: Literatura
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
344 páginas
ISBN 978-65-5505-062-2
E-book: E-ISBN 978-65-5505-063-9
Preço E-book: R$ 54,90
Lançamento: 23/07/2021
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